Reitor enfatizou a satisfação em ter a oportunidade de abrir as portas da Universidade para a a população e para a iniciativa da Prefeitura através da Secretaria de Saúde (Foto: Iago de Medeiros/UFJF)

Reitor Marcus David enfatizou a satisfação em ter a oportunidade de abrir as portas da Universidade para a população e para a iniciativa da Prefeitura através da Secretaria de Saúde (Foto: Iago de Medeiros/UFJF)

Vivências, expressões de sentimentos, luta e troca de experiências marcaram a abertura. nesta terça, da exposição “Superar é genial. Diálogos: arte e sofrimento mental”, realizada pelo Departamento de Saúde Mental da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e pelo projeto de extensão Trabalharte: Associação Pro-saúde mental da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), coordenado pela professora da Faculdade de Serviço Social, Sabrina Pereira Paiva. A exposição, que está no corredor central da reitoria, no campus, celebra o Dia Mundial da Saúde Mental e reúne três momentos de representação da produção criativa no campo da saúde mental.

A mesa de abertura foi composta pela pró-reitora de extensão da UFJF, Ana Lívia de Souza Coimbra, pela secretária de Saúde de Juiz de Fora, Elizabeth Jucá, pelo subsecretário de Redes Assistenciais de Juiz de Fora Alessandro Campos, pela chefe do Departamento da Saúde Mental, Andreia Stenner, e pelo reitor da UFJF, Marcus David.

A pró-reitora de Extensão, Ana Lívia Coimbra, falou sobre a atuação e a importância do projeto de extensão Trabalharte, coordenado pela professora da Faculdade de Serviço Social Sabrina Pereira Paiva. “O objetivo do projeto, que trabalha no Centro de Convivência Recriar, é colocar o trabalho como direito central na vida das pessoas. A UFJF é uma instituição formadora de trabalhadores que vão trabalhar nessa área, então, estar em contato com a realidade faz com que nós possamos contribuir pro avançar do serviço de saúde mental na cidade e, ao mesmo tempo, contribuir com a formação social dos nossos estudantes.”

A secretária de Saúde de Juiz de Fora, Elizabeth Jucá, apontou que o campo da saúde mental “pode produzir com liberdade” e que a exposição é um exemplo disso. Ela destacou ainda a dedicação de profissionais e usuários para que os trabalhos pudessem ser construídos e expostos. “É para vocês, usuários do Caps, que trabalhamos. E queremos aumentar essa nossa dedicação. Só tenho a agradecer a UFJF por toda a ajuda, por que foi a Universidade que proporcionou a possibilidade de fazermos essa exposição tão bela e sensível”.

A chefe do Departamento da Saúde Mental, Andreia Stenner, destacou o esforço coletivo para a realização do evento e a necessidade e relevância de abordar o tema saúde mental de maneira intersetorial. “A arte é algo bastante belo e potente para dizer sobre isso. Temos hoje aqui uma homenagem justa aos nossos usuários e ex-usuários. Precisamos reafirmar que a potência da saúde mental está na liberdade, no cuidado, no reconhecimento e no respeito a todos e todas”.

O reitor Marcus David enfatizou a satisfação em ter a oportunidade de abrir as portas da Universidade para a população e para a iniciativa da Prefeitura através da Secretaria de Saúde. “Quando a Universidade abre as portas para receber a comunidade, ela está cumprindo uma das suas missões fundamentais, ela está trabalhando na sua essência principal. A Universidade precisa estar aberta, precisa criar condições para que a comunidade esteja presente”.

Arte, sofrimento e resgate

Histórias de vivências, troca de experiências e apresentações artísticas marcaram a abertura da exposição (Foto: Iago de Medeiros/UFJF)

Histórias de vivências, troca de experiências e apresentações artísticas marcaram a abertura da exposição (Foto: Iago de Medeiros/UFJF)

A coordenadora do Centro de Convivência Recriar, Ilka de Araújo Soares, falou sobre a relação entre a arte e o sofrimento mental. “Como a arte é uma forma de expressão em que o artista pode manifestar o seu mundo interno de uma maneira espontânea, ele pode estabelecer, a partir daí, um laço com a cultura. Porque, assim, as produções aparecem, se evidenciam, e eles produzem um diálogo sociocultural.”

O usuário do Centro de Convivência Recriar, Antônio José de Azevedo, contou sobre o processo de recuperação de problemas com álcool. “Eu abandonei por completo qualquer tipo de atividade, inclusive o violão que gosto muito. Eu fui resgatado por esse sistema de apoio e consegui resgatar minha dignidade e meu espaço na sociedade”. Ele ressalta como a prática de tocar esse instrumento influencia a sua vida. “Voltar a tocar foi um processo gradativo de ajuda. Passei a ficar mais sociável novamente, faço amizades a partir da música”.

Já Aloísio Nogueira conta com a arte da poesia. Ele expôs cinco poemas: “Labirinto Sensual”, “Nina”, “Ânima”. “Curvo-me apenas para o amor”, e “Tico-tico do mato virgem”. Nogueira destacou a importância do caráter lúdico da atividade. “A literatura é criação, é como um filho e me leva a um lado lúdico que é importante para mim.”

Atividades da mostra
O primeiro momento conta com uma exposição póstuma das obras dos artistas  Alceu Rodrigues (1942-2015) e Yuri Schuery (1964-2014), que desenvolveram seu potencial criativo no Caps Casa Viva e no Centro de Convivência Recriar.

A exposição também apresenta indumentárias e material audiovisual, com dez peças inspiradas em personagens históricos de renome, que sofreram transtorno mental, deficiência física e/ou vulnerabilidade social. As peças foram apresentadas em um desfile que aconteceu na Praça Antônio Carlos, em Juiz de Fora, no dia 18 de maio de 2017, marcando o Dia Nacional da Luta Antimanicomial.

Por fim, podem ser contempladas produções literárias dos artistas Aluísio Nogueira, Altair Pinheiro, Marcelo Silvestre e Geraldo Fajardo – usuários atendidos pelo Centro de Convivência Recriar – apresentando a palavra poética como uma passagem do impossível de dizer à criação.

Os artistas retratados

Arthur Bispo do Rosário
Nasceu em 1911, em Sergipe, e aos 14 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na Marinha Brasileira e na Companhia de Eletricidade Light. Em 1938, após um delírio, foi internado em um hospital psiquiátrico, sendo diagnosticado como esquizofrênico-paranóico. Lá, ele deu início a sua vasta produção artesanal com materiais rudimentares e restos de fibra. Faleceu em 1989, deixando aproximadamente mil peças, entre elas esculturas de navios, roupagens e lençóis bordados.

Van Gogh
Vincent Van Gogh nasceu em uma pequena cidade no interior da Holanda, em 1853. Começou a se dedicar à pintura com cerca de 30 anos, recebendo influência de  obras do impressionismo. Durante sua vida, sofreu internações devido às crises epiléticas severas e alucinações. Mas isso não o impediu de continuar sua produção artística. Seu diagnóstico apresenta dúvidas: indo desde esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão, até epilepsia. Em uma fase mais aguda do sofrimento mental, chegou a mutilar a própria orelha. Em 1890, ele atirou contra o próprio peito, vindo a falecer aos 37 anos. Em pouco mais de uma década, produziu mais de duas mil e cem obras de arte. Embora hoje o reconheçamos como um gênio, não obteve sucesso como artista em vida.

Aleijadinho
Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como “Aleijadinho”, nasceu em Vila Rica, atual Ouro Preto, em 1730. Iniciou sua vida artística ainda na infância e aprendeu o trabalho com seu pai, que também era entalhador.

Após os 47 anos, o artista começou a apresentar sinais de uma misteriosa doença degenerativa nas articulações e, aos poucos, foi perdendo os movimentos dos pés e das mãos. Nesta época, as ferramentas eram amarradas em seus punhos para que ele pudesse esculpir e entalhar.

Mesmo com as limitações, trabalhou na construção de igrejas e altares nas cidades de Minas Gerais. Seu trabalho artístico se compõe por imagens religiosas esculpidas em madeira e pedra-sabão. Ele é considerado o mais  importante artista  barroco brasileiro.

Frida Kahlo
Frida Kahlo nasceu no México, em 1907. Entre os vários sofrimentos em sua vida, está a poliomielite na infância, o acidente de bonde na adolescência e os três abortos na fase adulta, que acarretaram em limitações físicas. Teve um casamento cheio de conflitos com o também artista Diego Rivera.

Frida sempre teve ligação com as artes visuais, que a permitiu superar suas dificuldades. Sua obra foi muito marcada por sentimentos pessoais, expressadas principalmente em autorretratos e representações da cultura mexicana. Faleceu aos 47 anos, vítima de Embolia pulmonar.

Beethoven
Ludwin van Beethoven nasceu na Alemanha, em 1770, e mudou-se para Viena aos 22 anos, onde evoluiu em sua carreira como músico. É considerado fundamental para a música ocidental, sendo um dos compositores mais influentes e respeitados até a atualidade.

Em sua produção, expressava o apreço pela arte, pela política e pela liberdade em todos os aspectos da vida. O que marca seu talento é o fato de que mesmo surdo, compôs grandes peças da música universal. Morreu em 1827.

Edvard Munch
Munch nasceu na Noruega em 1863. Teve um intenso sofrimento psicológico que ficou retratado em suas obras, a mais conhecida “O Grito”, símbolo máximo do expressionismo. No início da Segunda Guerra Mundial, Munch foi perseguido pelos nazistas, que confiscaram suas obras por considerá-las esteticamente imperfeitas e não valorizarem a cultura alemã. Munch morreu em 1944.

Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em 1914, em Sacramento, Minas Gerais. Mudou-se aos 14 anos para a favela do Canindé em São Paulo, onde vivia como catadora de lixo e registrava o cotidiano da comunidade nos papéis que retirava dos entulhos. Frequentou a escola por apenas dois anos.

Ela foi descoberta por acaso, pelo jornalista Audálio Dantas, que depois a ajudou a organizar seus diários e transformá-los no livro “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”. O livro foi publicado em 1960 e alcançou 100 mil exemplares vendidos. Foi traduzido para 13 idiomas, em mais de 40 países. Carolina continuou se dedicando a literatura e também à música, mas nunca mais teve o mesmo sucesso. Faleceu aos 62 anos.

Jackson Pollock
Pollock nasceu em 1912 e estudou em Los Angeles.  Mudou-se para Nova York, onde se casou com a pintora Lee Krasner, que teve muita influência em sua carreira e obras. Desenvolveu uma técnica de pintura na qual respingava tinta sobre imensos painéis, colocadas no chão, e ousou inserir seu próprio corpo na execução da obra. Sua vida foi marcada por problemas com álcool e morreu em um acidente de carro em 1956.

Yayoi Kusama
Yayoi nasceu em 1929, no Japão. Desde sua infância sofria com alucinações e sofria uma relação hostil com a mãe, que jamais aceitou sua arte. Para fugir da realidade de violência e exclusão, a artista expressa o mundo da forma que o vê, produzindo uma infinidade de bolinhas ou “pontos do infinito”, como ela também  definiu.

Em 1973, seu transtorno se agravou e, por vontade própria, se internou em um hospital psiquiátrico. Nesta época, seu apartamento, localizado a poucos minutos do hospital, foi transformado em um ateliê, onde realiza seu trabalho até hoje.

Profeta Gentileza
José Datrino, conhecido como o “Profeta Gentileza”, nasceu em 1917, em São Paulo. Era um empresário do ramos de transporte de cargas e, desde a infância, demonstrou inclinação para os ideais missionários, que marcaram sua obra.

Após um incêndio no Gran Circus Norte-Americano, em Niterói, onde aproximadamente 500 pessoas morreram, Datrino usou o espaço para fazer um jardim sobre as cinzas. Ele confortava os familiares das vítimas com suas palavras de gentileza e, após o incidente, começou a pregar em lugares públicos e espalhou suas mensagens de amor, gentileza e natureza pelas pilastras do viaduto da Avenida Brasil. Morreu em Maio de 1996, aos 79 anos.

Outras informações:
(32) 2102-3971 (Pró-reitoria de Extensão)