Você está em: Memória > Revista Giro > Edições Anteriores ''Informativo Giro'' > Giro 18 – Junho 2008 > Entrevista com a Banca do Concurso para Professor do Depto de Turismo
Dr. Euler David de Siqueira, reside em Juiz de Fora e no Rio de Janeiro, tem Graduação, Mestrado e Doutorado em Sociologia, pela UFRJ e é professor do Departamento de Turismo da UFJF. Leciona as disciplinas Teoria Geral do Turismo I e Metodologia da Pesquisa em Turismo no Curso de Turismo, além de uma disciplina eletiva no Mestrado em Ciências Sociais da instituição.
Dr. Orlando Alves dos Santos Júnior, reside no Rio de Janeiro, tem graduação em Ciências Sociais e mestrado e doutorado em Planejamento Urbano e Regional, pelo IPPUR/UFRJ. Leciona no curso de Especialização “Uso do Solo e Planejamento Urbano”, sendo o coordenador deste curso e no Mestrado e Doutorado em “Planejamento Urbano e Regional” do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPPUR/UFRJ). Na Especialização trabalha com a disciplina de Planejamento Urbano, no Mestrado, além da disciplina de Métodos e Técnicas de Pesquisa, leciona cadeiras mais voltadas para relação entre cidade e cidadania, tentando fazer um resgate histórico e teórico sobre o tema. Já no Doutorado trabalha com sociedade e território.
Drª Rosane Prado, reside no Rio de Janeiro e possui graduação, especialização, mestrado e doutorado em Ciências Sociais pela UERJ. Leciona em todas as instâncias – graduação, mestrado e doutorado – no departamento de Ciências Sociais, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Além disso, pertence ao Programa de Doutorado de Meio Ambiente da UERJ. Sua linha nesse programa de meio ambiente se chama Constituição Nacional do Meio Ambiente. Já no outro programa, o de Ciências Sociais, trabalha numa linha de nome Movimentos Sociais e Religião em Perspectiva.
Durante almoço no Berttu’s Restaurante, no dia 18, os professores da banca deram entrevista para o Giro e fizeram algumas reflexões sobre Turismo.
Giro: Fale um pouco das suas reflexões como cientista social que migrou para a área do Turismo.
Euler: Fui professor de 1997 até 2003 no Departamento de Economia e Administração da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Posteriormente, fui redistribuído para a UFJF e vim para o Departamento de Turismo, foi aí que minha vida se transformou. Desde quando entrei para o Curso de Turismo achei muito interessante e cada vez mais acredito que é um campo inesgotável de reflexões. Quero trabalhar agora em um projeto que analisa imagens de localidades turísticas em caixinhas de leite, como acontece com uma marca de leite da cidade de Governador Valadares (MG), ou então como em um doce de leite que comprei da Universidade Federal de Viçosa (UFV), da Fundação Arthur Bernardes, no qual vinha um prospecto falando sobre a cidade e suas possibilidades de turismo. Atualmente, por conta do Departamento de Turismo, eu tenho ido a algumas cidades como Ilhéus (BA) para participar de algumas bancas de mestrado, lá comprei algumas cocadas que trazem imagens da Bahia, e eu comecei a refletir e ver como essa área é fértil para se fazer trabalhos e pesquisas. Para mim, o turismo esta em todos os lugares.
Giro:Você tem uma linha de pesquisa?
Euler: Uma linha fechada, ainda não. Eu gosto de atirar para muitos lados. Acho fabuloso trabalhar com imagens e o campo da comunicação, mas essa não é minha área de formação, então eu prefiro tratar o turismo como fato social, como uma perspectiva simbólica. Hoje nós temos como matéria significante: o mundo a nossa volta e nós, inseridos em uma cultura, em uma sociedade que classifica tudo a nossa volta com diferentes significados. Você vê dezenas de pessoas fazendo uma excursão e sabe que há vários sentidos pessoais diferentes. Acho que estamos caminhando para a formação do turismólogo interpretativo. Ainda sofro um pouco com a tentativa de estabelecer uma relação com os alunos nos primeiros períodos, mas quando eu os reencontro nos períodos mais avançados, eles estão bastante transformados e pensam diferente sobre isso, valorizando bastante essa questão. Para mim é um aprendizado também, cresço cada vez mais, minha vida é isso hoje em dia.
Giro: Quais trabalhos (artigos, publicações, projetos de extensão etc) já desenvolveu ou vem desenvolvendo na área de Turismo?
Orlando: Minha aproximação com a área de turismo é engraçada porque eu lecionei durante quatro anos na USP, no programa de pó- graduação em Ciência Ambiental e lá eu tive contato com muitas pessoas dessa área, e passei a orientar alunos que desenvolviam trabalhos, sobretudo, na área de turismo ambiental.
Giro: Como o turismo está intimamente ligado ao planejamento urbano, principalmente nos grandes centros, onde a visitação é maior, o que você observa, já fez alguma reflexão?
Orlando: Eu acho que o campo do turismo está passando por uma revolução muito grande, antes era pensado meramente como atividade econômica, esse talvez seja o elemento propulsor do crescimento do turismo no mundo inteiro. O turismo é uma atividade capitalista, muito lucrativa, mas também nós estamos vivendo um momento muito interessante de reconceituação da própria atividade, por exemplo, o turismo como direito, o turismo na perspectiva do multiculturalismo, o turismo na perspectiva do cosmopolitismo, ou seja, estamos vivendo uma era em que o turismo não pode ser reduzido apenas em sua dimensão econômica, lucrativa. Hoje você tem três esferas essenciais para compreender o que está acontecendo com o turismo. Primeira: o turismo como atividade econômica lucrativa; segundo: o turismo como prática alternativa ou de construção de sentidos alternativos e terceiro: o turismo como direito, significa que ele precisa ser regulado pelo estado, como atividade fundamental para os estados modernos, não só no ponto de vista capitalista, mas também como garantia dos direito de ir e vir do cidadão.
Giro: O turismo, enquanto direito, sob tutela do estado, acaba esbarrando no planejamento urbano?
Orlando: Ele é uma atividade ligada ao planejamento urbano, ou seja, planejar a cidade é planejar a possibilidade de as pessoas chegarem e saírem dela, é planejar a rede de cidades, a conectividade entre elas. O turismo não pode mais ser restrito à rentabilidade, não vai deixar de ser, mas ganha outro sentido. Nós não podemos deixar de levar em consideração o turismo ambiental. As empresas encontram lucratividade no meio ambiente e o inverso também. De fato, o meio ambiente pode se constituir em uma das dimensões mais renovadoras dentro da prática do turismo.
Giro: Quais trabalhos (artigos, publicações, projetos de extensão etc) já desenvolveu ou vem desenvolvendo na área de Turismo?
Rosane: O turismo é uma coisa mais ou menos recente na minha vida, e agora estou trabalhando com mais dedicação, atualmente, por causa de minha pesquisa na Ilha Grande, no estado do Rio, desde 1999, quando comecei com questões ambientais, e lá é impossível não desenvolver a questão do turismo. Comecei a me envolver com essa temática quando encontrei outras pessoas que estavam trabalhando com turismo lá, me senti tão interessada, por causa de uma tese que ajudei a desenvolver e agora já estou no meu segundo curso de antropologia do turismo na pós e aprendendo cada vez mais. Em 2007, fiz um pós-doutorado em Porto Alegre, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O meu orientador foi um especialista nessa junção de turismo e religião e, por coincidência, estava lá um professor visitante que é precursor nessa área de antropologia do turismo, eu tive essa ótima oportunidade de fazer o curso, foi ótimo.
Giro: Você trabalha exatamente onde na Ilha Grande?
Rosane: Eu fiquei migrando, essa foi a primeira coisa que eu aprendi sobre Ilha Grande. Que ela é tão diversa que não dá para você generalizar. Cada comunidade, ou praia, tem uma evolução diferente, sobretudo em termos de turismo: cada uma está numa relação particular e peculiar com o que chamamos de turismo.
Giro: Naturalmente, em suas observações você percebe aspectos positivos e negativos do turismo, você diria que o turismo contribui mais socialmente, culturalmente e ou economicamente ou ele tem deixado a desejar?
Rosane: Nos primeiros trabalhos que escrevi sobre turismo, eu tinha essa tendência de falar dos impactos. Até porque antropólogo tem essa fixação nos nativos. Comecei a falar de questões ambientais e ficava muito impressionada com o desrespeito dos ambientalistas com relação às populações locais, como se fossem desprovidos, ignorantes e que não aderiam a essa ideologia ecologizante universal. Comecei trabalhando com isso, apontando para essa arrogância. Minhas primeiras avaliações foram sob a perspectiva do impacto do turismo mas, recentemente, eu aprendi a relativizar isso e a ver o turismo de uma forma mais total, uma coisa complexa que envolve essa coisa básica de visitante e visitado, procurando entender os seus benefícios e malefícios.
Graduação em Turismo
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