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por aí – A “Terra do Mickey” sob o olhar de uma Turismóloga

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Por Suelen R. Sena

Outubro de 2005. A vontade de unir viagem, estudo e trabalho, melhorar meu inglês e adquirir uma experiência profissional e pessoal em um outro país, me levou a me inscrever num Programa de Trabalho no Exterior. Três meses depois, mais especificamente em 07 de dezembro, eu desembarcava na Flórida (EUA), iniciando o que seria a viagem mais importante da minha vida até então.

Meu destino final era a cidade de Orlando, onde havia sido contratada por uma empresa de prestação de serviço em hotéis. A escolha me pareceu perfeita no início. A cidade de Orlando, eleita pelo cartunista Walt Disney, nos anos 60, para abrigar seu segundo parque temático (o primeiro é a Disneylândia, na Califórnia), saiu do anonimato e se alçou para o turismo em 1973, com a inauguração do Magic Kingdom, chegando ao ranking de terceiro destino mais visitado em 2000 por turistas estrangeiros, segundo a revista Viagem e Turismo*. Lá, eu esperava poder visualizar de perto um produto turístico já estabelecido, e vivenciar na prática o que havia estudado em meu curso, conhecendo a rotina de um hotel e lidando com estrangeiros a todo tempo. No entanto, nem tudo foi assim.

Orlando vive para o turismo. Seus parques, muito bem organizados, são destinos consagrados tanto pelo público doméstico quanto pelo externo. Ela possui uma rede gigante de hotéis, restaurantes e shoppings, além de uma excelente infra-estrutura, com ruas largas e arborizadas, linhas de ônibus exclusivas para os parques, caixas eletrônicos em toda parte e centros de informação aos turistas. Seu clima é quente, com poucas variações no inverno, e o custo de vida não é o dos mais altos. Além disto, a cidade supera bem sua sazonalidade, atraindo eventos durante o ano todo, e conta com muitas opções de lazer além dos parques, agradando as mais diversas idades.

Quando cheguei, contudo, fui de imediato trabalhar numa rede internacional muito famosa e conceituada chamada Marriott, e me deparei com uma realidade bastante diferente da que eu imaginava. Não havia profissionais de turismo em lugar algum! Somente uma grande massa de imigrantes, vindos de todas as partes do mundo, mais principalmente da América Latina, regidos por pessoas de diversas áreas, habituadas como serviço quase “mecânico” de servir aos visitantes. Os serviços eram em sua maioria, terceirizados, e os empregados, quase todos ilegais no país, não possuíam o menos vínculo com a atividade turística, valorizando os hospedes somente pela gorjeta que deixavam. Durante os quatro meses que estive presa ao meu programa, eu trabalhei em vários hotéis, e em diferentes funções, e todo o tempo me pareceu que a hotelaria praticada nos Estados Unidos, apesar de bastante padronizada e eficiente, possuía relações de trabalho frias, onde o capital humano era muito pouco respeitado, talvez devido à vasta demanda. Algumas empresas até mesmo se aproveitam da ingenuidade destes trabalhadores e os exploram, atrasando seus salários e não cumprindo com sua parte nos contratos. Estes e outros acontecimentos que eu presenciei me decepcionaram profundamente com minha viagem, e ao final do meu programa, eu deixei os hotéis para trabalhar em outras áreas, tendo permanecido no país por mais três meses.

Sem duvida, esta experiência me trouxe inúmeras lições que servirão para sempre ao longo de minha vida. Morar em um outro país amplia seus horizontes e o mundo passa a parecer menor aos seus olhos. Eu também fiz amigos que me ensinaram muitas coisas e ganhei fluência no inglês e também no espanhol, depois de ter convivido com tantos latinos. Neste aspecto, minha viagem foi realmente positiva, cheia de histórias e mais, enriqueceu minha cultura e modificou alguns de meus conceitos, um amadurecimento que eu jamais teria se não tivesse saído de meu próprio lar. Atualmente, recomendo uma viagem destas a todos que me perguntam a respeito, mesmo não tendo tido tanta sorte com meu emprego. Independente do quanto você ganhe financeiramente por lá, esteja certo que, em valores culturais, seus ganhos serão infinitamente maiores.

 

(*VIAGEM E TURISMO: EDIÇAO ESPECIAL ORLANDO. São Paulo: Outubro, 2002.)

Graduação em Turismo


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