Escola como espaço expositivo: uma experiência estética e educativa no Colégio de Aplicação João XXIII
Andréa Senra Coutinho* e Renata Oliveira Caetano**
Ilustração: Martina Fantini
Extrapolar as tradicionais aulas de artes e criar outras possibilidades de aproximações entre estudantes e objetos artísticos é um dos objetivos do projeto de extensão Arte em Trânsito, que vem se destacando no cenário educativo dentro e fora do município de Juiz de Fora. Realizado desde 2011, no Colégio de Aplicação João XXIII, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e coordenado pelas professoras de arte da instituição, Andréa Senra e Renata Oliveira, tem se ocupado da ideia do trânsito como um movimento poético e intelectual, levando a pensar na obra de arte que “transita” de diferentes maneiras, em diferentes espaços e de como sua mensagem é processada nesse movimento.
Incitar articulações que dão suporte para que o sujeito construa seu próprio entendimento sobre arte é admitir que há muitas possibilidades de leitura e/ou compreensão do acontecimento artístico. Sendo assim, os estudantes são provocados a se deslocarem da zona de conforto como meros contempladores para, de forma dinâmica, construírem o conhecimento na relação entre a prática e a teoria artística. Nessa articulação, a aprendizagem se faz pela via da experiência vivida, da observação direta e do encantamento. Diante do artista, em plena produção poética nas dependências do colégio, sobretudo no momento da criação e da instauração das proposições, são estimulados a recepção, o hábito e o prazer estético, minimizando as distâncias entre o “mundo” dos artistas e o dos estudantes.
O colégio, trajando-se de ambiente expositivo e fomentador de cultura, propaga um intervalo poético, intelectual, transitório e efêmero da arte, mobilizando as subjetividades, os pontos de vista, as interpretações, os deslocamentos conceituais e do olhar sobre a arte. Esta se apropria de pátios, corredores e escadarias, repaginando os lugares cotidianos da escola em nichos onde circulam e reverberam o pensamento criativo.
A incontestável potencialidade e a função educativa da arte na formação humana – e sua indispensável presença nas escolas – se materializa numa proposta pedagógica arrojada e viável, tendo professores e artistas como mediadores de outros modos de ensinar, ver e vivenciar a arte. São empreendimentos que oxigenam o ensino de arte e a rotina escolar, a despeito de suas normatizações e condicionantes, que geram oportunidades de viver e aprender arte em seu fluxo criativo e livre.
- Já participaram do projeto os seguintes artistas: 1ª edição/2011 – Fabrício Carvalho (UFJF), René Loui e Jéssica Melatto; 2ª edição/2012 – Ricardo Cristófaro (UFJF) e Priscila de Paula (UFJF); 3ª edição/2013 – Adriana Gomes (UFJF) e Petrillo; 4ª edição/2014 – Luiz Gonzaga e na 5ª edição (que acontecerá em setembro de 2015) Afonso Rodrigues (UFJF).
Referências bibliográficas
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Agradecimentos: Professora Cristina Weitzel (revisão ortográfica) e Professor Marco Aurélio Mendes (abstract).
* Doutora em Estudos da Criança; professora de Artes Visuais no Colégio de Aplicação João XXIII da UFJF
** Mestre em História da Arte; doutoranda em História da Arte; professora de Artes Visuais no Colégio de Aplicação João XXIII da UFJF