Tifanny Abreu,  primeira jogadora transgênero do vôlei profissional brasileiro (Foto: Neide Carlos/Vôlei Bauru)

Tifanny Abreu, primeira jogadora transgênero do vôlei profissional brasileiro (Foto: Neide Carlos/Vôlei Bauru)

A presença de pessoas transgêneras – que se identificam com o gênero oposto ao designado ao nascimento – nos esportes amadores e profissionais é tema de pesquisa na Faculdade de Educação Física (Faefid) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A atividade é desenvolvida pelo Grupo de Estudos em Gênero, Educação Física, Esporte e Sociedade, sob coordenação da professora Ludmila Mourão.

“O esporte dá visibilidade a determinadas temáticas. É um espaço simbólico de força para mostrar, midiatizar um fato. A transexualidade é um desses temas que, ao trabalharmos com ele no esporte, poderemos apontar  se está tentando, de certa forma, abrir brechas ao trazer os transgêneros para as equipes. Ao mesmo em que o esporte reproduz preconceitos, tem esse papel de transformar. Eu gosto de pensar sob o ponto de vista do que o esporte transforma, em vez de reiterar os preconceitos. Em quais fronteiras o esporte visibiliza e rompe? Para quem ele rompe? Em quais condições? Romper no sentido de mostrar outras coisas, outras faces”, destaca Ludmila.

Confira o vídeo:

A docente ressalta o protagonismo do esporte, especialmente no que se refere à promoção de reflexões acerca da sociedade.

“O esporte é um fenômeno hoje de bastante visibilidade, fenômeno social e de mercado. Diferente de algum pouco tempo atrás, isso é novo para o próprio esporte. No Brasil, realmente o esporte de alto rendimento é para poucos, mas, entre os poucos, também tem esse papel. A Superliga de Vôlei foi protagonista. Tem várias modalidades que ainda não possuem posicionamento sobre o assunto da participação de atletas transgêneros, nem fazem esse debate. Quando o vôlei faz isso, de alguma maneira ele tensiona o campo, e esse movimento tende a avançar, a acontecer em outras modalidades.”

A pesquisa sobre atletas transgêneros integra as atividades de Doutorado em Educação Física da estudante Fernanda Dias. Ela enfatiza ter como objetivo principal a investigação das dificuldades de inserção e permanência dessa população no esporte. Um caso recente é o da primeira jogadora transgênero do vôlei profissional brasileiro, Tifanny Abreu.

“Nós temos o caso também da Fallon Fox, do MMA  nos Estados Unidos. Ela teve grandes dificuldades em virtude da transfobia naquele país. Vemos que esse preconceito é um retrato da sociedade refletido no esporte. Ao mesmo tempo em que o esporte é muito heteronormativo e binarista, masculino e feminino, hoje, com a presença dos atletas transgêneros, vemos a emergência de discutirmos essas diversidades que estão acontecendo no esporte e na sociedade. O esporte é um exercício de cidadania. Todos têm o direito a ter acesso e praticar”, avalia Fernanda.

Confira o vídeo:

Grupo de Estudos

O Grupo de Estudos em Gênero, Educação Física, Esporte e Sociedade está vinculado à Faculdade de Educação Física da UFJF desde 2010.  A professora Ludmila Mourão relata que inúmeras pesquisas foram realizadas, sob sua coordenação, por mestrandos e doutorandos integrantes da equipe. Dentre as temáticas investigadas, destacam-se  as trajetórias de mulheres gestoras esportivas, árbitras e atletas.

“Construímos, por exemplo, estudo sobre as trajetórias das árbitras nas décadas de 1980 e 1990 no Brasil. Descobrimos coisas interessantes. Na arbitragem, temos um conjunto de mulheres muito especiais, que tornaram-se referência para o empoderamento de outras mulheres. Estamos estudando, também, as treinadoras no futebol brasileiro. São muito poucas, e acompanhamos as dificuldades que têm de fazer parte desse espaço.”

Sobre as desigualdades na área esportiva, Ludmila acrescenta que os estudos do grupo indicam dificuldades maiores para acesso e permanência, inclusive de mulheres cisgêneras – que se identificam com o gênero designado ao nascimento.  

“Vimos uma coisa muito interessante na pesquisa das treinadoras: a necessidade de comprovar a própria competência a cada dia, mesmo sendo muito mais qualificadas do que os homens treinadores. Não encontramos uma treinadora sem especialização, enquanto a maioria dos homens não têm nem formação na área do esporte, por exemplo.  São detalhes que nos mostram como a profissional se constrói para ocupar esse espaço ou como tem que se construir quando essas diferenças são marcadas.”

Outras informações: diascoelhofernanda@gmail.com