Campanha

Campanha foi desenvolvida em parceria com o Grupo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidade, Educação e Diversidade (Gesed)

Há 18 anos, a homossexualidade deixou de ser considerada como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), um ato de reconhecimento da orientação sexual, que representou um avanço na luta de lésbicas (L), gays (G) e bissexuais (B). Em razão da importância da ocasião, o dia 17 de maio passou a ser conhecido como o Dia Internacional Contra a Homofobia. Porém a decisão da OMS não assegurou, em definitivo, o devido respeito a transsexuais (T), transgêneros (T), travestis (T) e intersexuais (I). Como forma de  reforçar essa bandeira de luta, movimentos sociais passaram a denominá-la como o Dia Internacional de Combate à LGBTTIfobia.

Para dar visibilidade à defesa dos direitos de todos que lutam por essa causa e conscientizar e informar a sociedade sobre todos os aspectos relacionados a essa temática, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) iniciou, na segunda-feira, dia 14, uma campanha com reportagens e vídeos sobre o combate à LGBTTIFobia. A campanha foi desenvolvida em parceria com o Grupo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidade, Educação e Diversidade (Gesed). Nesta matéria, destacamos as ações de enfrentamento desenvolvidas no âmbito da pesquisa acadêmica, por iniciativas coletivas coletivas que envolvem estudantes e professores.

Gesed
Uma delas é o próprio Gesed, criado há oito anos, no Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da UFJF. Com aproximadamente 15 integrantes, o grupo tem em sua essência a pesquisa sobre diversidade, mas desenvolve atividades nos outros dois tripés da educação pública federal – ensino e extensão – conforme explica um de seus líderes, Roney Polato. “Inserimos continuamente essa temática nas disciplinas de graduação e pós-graduação, inclusive ministrando algumas específicas sobre ela. A partir de agosto, também oferecemos um curso de especialização com o tema ‘Relações de Gênero e Sexualidade: Perspectivas Interdisciplinares’”.

Confira a participação do professor Polato no terceiro vídeo da campanha de combate à LGBTTIfobia:

“No campo da Extensão, temos uma ampla relação com escolas, promovendo visitas, eventos e ações de formação”, acrescenta Polato. “Há quatro anos, sempre no mês de maio, realizamos ações diretamente relacionadas ao Dia Internacional de Combate à LGBTTIfobia. Esse ano, por exemplo, é Seminário LGBTTIfobia e Educação, cuja programação se estende até o próximo dia 30. Porém, é fundamental destacar que essas ações sempre partem da produção acadêmica, na medida em que estamos sempre utilizando nossos projetos de pesquisa para pensar as questão de gênero, a perspectiva do enfrentamento aos preconceitos e à violência”, diz.

Em 2016, o grupo, que é ligado ao Programa de Pós-graduação em Educação  coordenou a organização do 8º Congresso Internacional de Estudos sobre a Diversidade Sexual e de Gênero na UFJF, evento realizado pela Associação Brasileira de Estudos da Homocultura (Abeh), que trouxe pesquisadores do mundo todo para discutir e refletir sobre o tema. O eventou contou com uma palestra ministrada pelo professor da Columbia University e referência internacional na área, Richard Parke, e uma apresentação da cantora MC Xuxu.

Flores raras

“Temos um plano de trabalho para embasar essas publicações, que segue os pilares do Flores Raras: feminismo, ética e produção de conhecimento de excelência", diz Daniela Auad (Foto: Alexandre Dornelas)

“Temos um plano de trabalho para embasar essas publicações, que segue os pilares do Flores Raras: feminismo, ética e produção de conhecimento de excelência”, diz Daniela Auad (Foto: Alexandre Dornelas)

Também com uma atuação transversal, o Flores Raras – Grupo de Estudos e Pesquisas Educação, Comunicação e Feminismos – se organiza em duas linhas de pesquisa: Movimentos Sociais, Políticas Públicas, Educação e Cidadania; e Relações de Gênero, Socialização, Comunicação e Democracia. “Embora tenhamos uma abordagem enfática em mulheres LGBT, é importante destacar que não somos um grupo lésbico ou voltado, especialmente, para a lesbiandade. Somos integrados, majoritariamente, por mulheres, o que é um reflexo da própria área de Educação. E, apesar de termos uma caráter militante, nossa produção acadêmica é de excelência”.

A pesquisadora explica que, dentre os trabalhos científicos pelo grupo, há estudos sobre o projeto “Escola Sem Partido”; o ensino médio e o movimento feminista; as relações de gênero na educação infantil; e sobre como a educação infantil assegura os direitos da mulher; sendo dois deles desenvolvidos por heterossexuais. “Reunimos alunas de vários cursos, mas, sobretudo, da Faced, que estão fazendo trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado e teses de doutorado. Nós tivemos, de agosto a dezembro de 2017, oito textos enviados para revistas científicas. Destes, sete já estão publicados”, afirma.

A docente pontua ainda que esse quantitativo representa também um total de artigos, em revistas qualis A e B, de 405 pontos no que se refere à pontuação necessária para que docentes permanecem com boa avaliação nos programas de pós-graduação aos quais são vinculados, respectivamente. No ano passado, a própria Daniela foi convidada a participar de uma série de reportagens televisivas sobre feminismo em razão desse intenso trabalho acadêmico. “Temos um plano de trabalho para embasar essas publicações, que segue os pilares do Flores Raras: feminismo, ética e produção de conhecimento de excelência”, pontua.

Diversifica Saúde
Nessa mesma linha, o grupo de pesquisa Diversifica Saúde, surgiu na Farmácia a pouco mais de seis meses, derivado da disciplina de primeiro período da graduação, “Indivíduo, Saúde e Sociedade”. Segundo o diretor da unidade acadêmica e líder da iniciativa, Marcelo Alves, a proposta foi feita pelos próprios alunos, após a realização de um seminário sobre cuidados em Enfermagem para a população LGBTTI. “Já temos aproximadamente 20 integrantes, contabilizando professores, estudantes e profissionais do serviço de saúde da Prefeitura de Juiz de Fora”.

Já reconhecido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o grupo almeja incorporar também interessados de outras áreas da saúde, conforme ressalta Alves. “Por enquanto, estamos mais restritos aos estudos teóricos, pois queremos realizar uma pesquisa guarda-chuva para identificar como está o atendimento a essa população via SUS. Contudo, queremos estender esse trabalho a outros cursos que queiram agregar forças, visando dar materialidade às políticas focais para essa e outras minorias”, garante.

Pesquisar é preciso
Para Daniela, pensar a pesquisa acadêmica voltada para o segmento LGBTTI perpassa o reconhecimento de quem são as pesquisadoras e pesquisadores, bem como os desdobramentos sociais dos seus esforços. “Desde que as feministas começaram a ter presença nas Universidades, desenvolvendo estudos a partir da década de 70, mudaram a maneira de produzir conhecimento – incluindo nas áreas de saúde e das Ciências Exatas – na perspectiva de mostrar que existem mulheres cientistas, produzindo conteúdo de excelência, que é apropriado não só na Universidade, mas também nas redes de ensino e na militância pela garantia de direitos”, afirma.

Essa reflexão é corroborada pelo professor Marcelo Alves, que enfatiza a importância da pesquisa acadêmica para efetivar a implantação de políticas públicas em todo o Brasil, sobretudo no que tange os serviços de saúde. “Nesse sentido, a Universidade precisa estar na vanguarda, promovendo debates, estudando situações, identificando evidências e, consequentemente, promovendo a inclusão de pessoas que ainda são desfavorecidas em relação às iniciativas já existentes, bem como propor outras que, porventura, sejam mais contemplativas”.

Já o pesquisador Roney Polato reforça que a Universidade tem papel fundamental na produção do conhecimento no campo das relações de gênero e sexualidade. “Já temos um campo de pesquisa consolidado, que não se limita à educação, mas atravessa diversas áreas. Professores de diferentes áreas que pesquisam sobre esses temas. Sendo assim, a UFJF deve construir o conhecimento que impacta a definição de práticas e embasar o enfrentamento à LGBTTIfobia, assumindo, de fato, o compromisso com atividades que vão levar essa reflexão para a comunidade como um todo – interna e externa”.

Uma dessas ações acontece nesta quinta-feira, dia 17, às 18h30, em razão do Dia Internacional do Combate à LGBTTifobia: a sexta edição do Cine Sapatão, promovida pelo Flores Raras, com a exibição do filme “Uma nova amiga”, do diretor Fraçois Ozon. Na sequência, acontece a roda  de conversa LésBiTrans, onde será discutida a vivência e representatividade transexual, com base na obra apresentada no momento anterior. O evento acontece na Sala Paulo Freire da Faced, a partir das 18h30, e terá como convidada a Conselheira Estadual da Mulher Gisella Lima, que compartilhará trará para a roda suas vivências e visões de mundo como mulher trans, negra e ativista do movimento negro LGBT.

Leia mais sobre as ações de combate à LGBTTIfobia na UFJF.

Outras informações:
(32) 2102-3665 (Programa de Pós-Graduação em Educação da UFJF)

(32) 2102-3821 (Faculdade de Enfermagem)