Joelma Fernandes Teixeira (Foto: Dante Rodrigues)

Joelma Fernandes Teixeira (Foto: Dante Rodrigues)

“Minha barraca é um mix, tenho ovo, coco, abóbora, mandioca, limão banana, mujambo, araçá-boi, canistel, sapoti, açaí, entre outros inúmeros produtos”. Eis a lista da feirante Joelma Fernandes Teixeira, vice-presidente da Associação de Cooperação Mista dos Feirantes da Agricultura Familiar Agroecológica de Governador Valadares (ACOMFAFA), que representa a diversidade de produtos oferecidos em cada uma das 25 barracas da única feira agroecológica da cidade onde está localizado o campus avançado da Universidade Federal de Juiz de Fora.

O mix de produtos, como definiu Joelma, é apenas uma das características da feira criada em 2003 por feirantes produtores que visavam evitar os chamados atravessadores – comerciantes que compram de outros comerciantes e assim sucessivamente, formando uma cadeia até o produto final chegar ao consumidor.  “A gente tinha um espaço de comércio diário aqui na rua, mas com a vinda do Ceasa para Valadares, nós fomos obrigados a sair da rua e ir para o Ceasa. Quem era contra acabou sobrando, então nos organizamos para criar este espaço de comércio agroecológico direto com o consumidor”, destacou Sebastião Martins Barbosa, produtor, feirante e integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais.

Sebastião Martins Barbosa (Foto: Dante Rodrigues)

Sebastião Martins Barbosa (Foto: Dante Rodrigues)

De família de camponeses, Sebastião aprendeu a plantar com os pais e avós, e em cursinhos oferecidos por movimentos sociais. Ocupante de um terreno de oito mil metros quadrados, às margens da BR-381, produz centenas de plantas comestíveis e chás. “Tudo que eu trago aqui eu vendo. Chazinho de hortelã, temperos, manjericão, salsinha, couve”. 

A “herança agroecológica” não é exclusividade da família de Sebastião. A base desta cultura faz parte da vida dos produtores da ACOMFAFA desde quando eram crianças, em uma tradição transmitida geralmente de pais para filhos. A produtora Cremilda Henriqueta Alves começou a acompanhar os pais desde a criação da feira, ainda em 2003. Integrante do Movimento Sem Terra, é moradora do assentamento Barra Azul, no distrito de São Vitor, há 42 km de Governador Valadares. “Nosso assentamento existe há mais de 20 anos e desde então eu ajudo meus pais. Até tentei sair por um tempo, mas não aguentei e voltei para o assentamento. Então começamos a trabalhar na feira e estou aqui até hoje”. Mãe de adolescentes de 14 e 19 anos, Cremilda deseja ver os filhos trabalhando na roça, porém não esconde uma certa preocupação. “A gente vê que a vida na roça é dura, pois o investimento público é muito baixo. A gente gostaria de vê-los na roça continuando o que a gente faz, mas ao mesmo tempo gostaria também de vê-los com um futuro mais promissor. Mas se eles quiserem continuar isso aqui, pra mim será uma benção”.

Preocupada em valorizar a articulação e o estilo de vida dos produtores locais, a II Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária na UFJF-GV teve início nesta manhã de sexta-feira, 11, justamente na Feira Agroecológica, localizada à Rua José Luiz Nogueira, entre as ruas Bárbara Heliodora e Afonso Pena, no centro de Governador Valadares. Confira a programação completa.

Cremilda acompanhada pela irmã. (Foto: Dante Rodrigues)

Cremilda acompanhada pela irmã. (Foto: Dante Rodrigues)

Os produtos comercializados nas feiras agroecológicas são produzidos sem agrotóxicos. Pimenta, detergente líquido, fumo e urina de vaca são, por exemplo, utilizados para substituir insumos químicos.  “A urina de vaca tanto combate como fertiliza, ela não deixa aumentar a praga. Nos supermercados não possuem esse cuidado, pois eles compram do grande produtor que se interessa especificamente em vender, sem se importar com a qualidade”, ressalta Cremilda.

Além de garantir a ausência de agrotóxicos nos produtos, as feiras agroecológicas representam ainda a possibilidade de considerar elementos como a prevenção de doenças à população, o favorecimento de pequenos produtores e o protagonismo de mulheres e homens oriundos do campo. Assim, o consumo de produtos in natura traz consigo não só a valorização do meio ambiente, mas também de aspectos funcionais, sociais e culturais.

Produtores interessados em participar da feira agroecológica de Governador Valadares devem provar que as plantações recebem apenas produtos naturais. “Vamos à propriedade da pessoa e verificamos se preenche todos os requisitos para fazer parte da nossa feira. Acompanhados de agrônomos, acompanhamos como a pessoa planta, se tem esterco, se tem urina de vaca, chorumeira, garrafa de cebola, garrafa de fumo, além de outros compostos naturais para espantar as pragas”, explicou a vice-presidente da ACOMFAFA.

Oficina

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Oficina realizada na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (Foto: Dante Rodrigues)

Dando continuidade a programação da II Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária na UFJF-GV, foi realizado também na manhã desta sexta-feira, uma oficina sobre cultura indígena e espiritualidade com Schirley, da tribo Krenak, e Mayô, da tribo Pataxó, integrantes do Núcleo de Agroecologia de Governador Valadares (Nagô).

A atividade contou com a participação de servidores e estudantes da UFJF-GV, e representantes de movimentos sociais.  “Voltar às nossas origens e conseguir entender de onde viemos é também um sinônimo de resistência e de luta”, afirmou Tayara Lemos, professora do Departamento de Direito da UFJF-GV e uma das organizadoras da II Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária.