A jornalista Beatriz Coelho Silva apresentou seu livro no IAD sobre relações entre "berço do samba" carioca e judeus (Foto: Gustavo Tempone)

A jornalista Beatriz Coelho Silva apresentou seu livro no IAD sobre relações entre “berço do samba” carioca e judeus (Foto: Gustavo Tempone)

Praça Onze, bairro conhecido como berço do samba no Rio de Janeiro, costuma ser lembrado com saudosismo pelos amantes do carnaval. Parte do passado do bairro, no entanto, é pouco comentada: a presença de judeus no local, no início do século XX. Para explicar as relações sociais que aconteciam no espaço, a jornalista Beatriz Coelho Silva publicou o livro “Negros e Judeus na Praça Onze. A história que não ficou na memória.”

Beatriz foi convidada para discutir o assunto no “Seminário Dona Ivone Lara: Apoteose ao samba”, que aconteceu na última quinta-feira, 19, promovido pelo projeto de extensão “Ponto do Samba”, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A jornalista relata que a ideia de contar a história dos negros e judeus moradores da Praça Onze surgiu ao fazer uma reportagem sobre o líder da comunidade judaica Samuel Malamud. “Ao conversar com a filha dele, ela me falou que o pai morava na Praça Onze e era amigo dos sambistas Pixinguinha e Donga. Eu achei isso curioso, pois essa relação não era algo muito falada. Quando fiz pós-graduação em História do Brasil, em 2007, na Universidade Federal Fluminense (UFF), eu decidi que esse era o tema que eu queria estudar.”

Beatriz afirma que se surpreendeu com as semelhanças entre as culturas negra e judaica. Após a pesquisa, ela percebeu que negros e judeus tinham em comum o amor pela música e pela festa; o fato de serem mal vistos pela polícia e pela sociedade católica, além do passado trágico que compartilhavam – a escravidão e a perseguição religiosa. Estes fatores, segundo a pesquisadora, motivaram esses grupos a buscarem refúgio na Praça Onze. No começo do século XX havia 5 mil judeus e a estimativa de 14 mil negros no bairro. Apesar das diferenças existentes entre os dois grupos – como nas formas de organização e de atuação na política -, a convivência era harmoniosa.

A Praça Onze foi destruída na década de 40, com o objetivo de possibilitar a abertura da Avenida Getúlio Vargas. Beatriz conta que, depois do lançamento do livro, foi procurada por muitos judeus que queriam falar sobre a relação de seus parentes com o bairro: “Parece que eles querem retomar a Praça Onze como um lugar da história deles”. A jornalista destaca, ainda, que “hoje, onde era a Praça Onze, tem pelo menos três elementos que lembram a cultura negra: o sambódromo, a escola da Tia Ciata e o monumento a Zumbi. Mas não há nenhum para a cultura judaica.”

No vídeo, Beatriz explica a importância de estudar a memória do convívio de negros e judeus na Praça Onze.