Brune Coelho, Leonardo Peçanha, Mc Xuxu, Thiago Lima, Bruna Rocha e Bruna Leonardo (Foto: Alexandre Dornelas)

Roda de conversa: Brune Coelho, Leonardo Peçanha, Mc Xuxu, Thiago Lima, Bruna Rocha e Bruna Leonardo (Foto: Alexandre Dornelas)

As travestis e transexuais – pessoas que sentem e concebem a si mesmas como pertencentes ao gênero oposto ao designado no nascimento – e o acesso a direitos básicos, como saúde, trabalho e educação, foi tema de roda de conversa na noite de  quarta-feira, dia 31, no Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A atividade, organizada pela Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf) da UFJF, teve como objetivo contribuir com a luta dessa população por respeito e cidadania, na semana na qual foi celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, 29 de janeiro.

“O ano de 2017 foi um ano muito difícil para travestis e transexuais, com o Brasil liderando o ranking mundial de assassinatos e violências contra essa população. O Dia Nacional da Visibilidade Trans marca lutas importantes. Debater o acesso de travestis e transexuais a direitos é muito importante. A UFJF não se furtará desse debate, bem como conclama toda a sociedade a também discutir o assunto”, afirmou a vice-reitora da UFJF, Girlene alves da Silva.

Protagonismo trans

A roda de conversa contou com a presença da doutoranda em Psicologia na UFJF Brune Coelho; da militante LGBT Bruna Leonardo; da estudante do Bacharelado em Ciências Humanas da UFJF Bruna Rocha; do estudante de Direito da Universo Thiago Lima;  da cantora MC Xuxu; do professor e militante carioca Leonardo Peçanha; além de representantes da Secretaria Municipal de Saúde, do Hospital Universitário da UFJF, da Ordem do Advogados do Brasil (OAB) e do Centro de Referência em Direitos Humanos da Zona da Mata de Minas (CRDH).

Vice-reitora Girlene Silva: "Debater o acesso de travestis e transexuais a direitos é muito importante. A UFJF não se furtará desse debate" (Foto: Alexandre Dornelas)

Vice-reitora Girlene Silva: “Debater o acesso de travestis e transexuais a direitos é muito importante. A UFJF não se furtará desse debate” (Foto: Alexandre Dornelas)

Cerca de 80 pessoas – docentes, técnico-administrativos em educação e discentes da Universidade, militantes e sociedade em geral – participaram da atividade. O evento foi, também, integral e simultaneamente traduzido para língua brasileira de sinais (Libras), oportunizando a acessibilidade das pessoas surdas presentes no debate.

“Juiz de Fora tem um trabalho na área da saúde direcionado à população de travestis e transexuais, mas não é uma política pública. É muito mais um trabalho resultante da boa vontade e da sensibilidade dos profissionais envolvidos. Nós, trans e travestis, só queremos os mesmos direitos das outras pessoas”, enfatizou Bruna Rocha.

A cantora MC Xuxu destacou as dificuldades enfrentadas pela população Trans em função da transfobia sofrida nos ambientes familiar, escolar e profissional.  “Se tem uma coisa que uma pessoa deve poder é trabalhar e ir aonde quiser. Tem muita gente sofrendo porque não é respeitada pela família, porque não consegue uma oportunidade de emprego. Nós, trans, temos que saber que podemos estar em qualquer lugar, sim!”

O público presente teve, ainda, a oportunidade de conferir o trabalho da cantora, que lançou esta semana seu primeiro CD, “Senzala”, já disponível nas plataformas musicais virtuais.

Opressões cruzadas

 O professor, pesquisador e militante trans carioca, Leonardo Peçanha, ressaltou como as discriminações potencializam umas as outras. A temática é frequentemente abordada por Peçanha em suas pesquisas e textos publicados em seu blog Negros Blogueiros“É fundamental que pensemos a interseccionalidade, ou seja, se a pessoa é travesti ou trans e é negra, da periferia, se tem uma deficiência física, todas as discriminações já mencionadas só aumentam e a falta de acesso a direitos também. Isso acontece porque a transfobia se soma ao racismo, à discriminação por classe social, etc. É preciso reverter esse quadro de exclusão.”

Peçanha salientou que o acesso à saúde é fundamental, inclusive, para a garantia do direito à vida. “O acesso a direitos tem que ser igual para todas as pessoas. Eu penso a saúde como uma ferramenta que permite que vivamos. Nós trans não estamos sendo assassinados por acaso. Não querem que a gente viva. Os altos índices de suicídio entre pessoas trans e travestis, na minha avaliação,  também são homicídios. Afinal, qual a solução para quem não consegue ir à escola, trabalhar, ter acesso à saúde, ser respeitado pela família?  Precisamos pensar o recorte de classe social dentro do debate trans, porque ele é enorme. Nem todo mundo tem recursos para fazer as cirurgias, os procedimentos. O uso de hormônios e as cirurgias são fundamentais para estarmos bem com o nosso corpo. É fundamental que tenhamos acesso à saúde na rede pública.”

A avaliação é compartilhada pelo estudante Thiago Lima que acrescentou a necessidade do respeito ao uso do nome social. “Fiz minha transição de gênero quando estava na primeira faculdade privada na qual estudei. Na época, solicitei o uso do nome social, que é o meu nome, o nome com o qual me identifico. Precisei mudar de faculdade para ser respeitado. Essa é uma grande barreira enfrentada por muitas pessoas travestis e trans em várias instituições que não nos reconhecem de acordo com a nossa identidade.”

Para vencer tantos desafios impostos pelo preconceito, Bruna Leonardo reforçou a importância dos movimentos sociais e da militância de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (LGBT). “Quanto mais unidos para reivindicarmos os nossos direitos, seja à saúde, à educação, ao trabalho, ao uso do nome social, maiores serão as nossas chances. Os movimentos sociais são fundamentais para que a gente consiga, por exemplo, a formalização do atendimento de travestis e transexuais na rede pública de saúde de Juiz de Fora.”

Projeto de Extensão Visitrans

Criado há quatro anos, sob coordenação da professora do curso de Psicologia da UFJF, Juliana Perucchi, o projeto de extensão Visitrans tem o objetivo de fomentar uma rede de troca de experiências e vínculos entre as pessoas travestis e transexuais da cidade. No ano passado,  o Visitrans iniciou também o atendimento formal às famílias desta população.

Para participar dos encontros que ocorrem no Centro de Psicologia Aplicada da UFJF, os interessados devem agendar – por e-mail ou telefone -, conversa inicial com a psicóloga do projeto, Brune Coelho: (32) 3216-1029 (Centro de Psicologia Aplicada da UFJF) ou brunecbrandao@yahoo.com.br.

O Centro de Psicologia Aplicada fica localizado na Rua Santos Dumont 214, Bairro Granbery.

Outras informações: (32) 2102-6919 (Diretoria de Ações Afirmativas-UFJF)

acoesafirmativas@ufjf.edu.br

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