“A ciência é mutável e transformadora porque, afinal, é uma obra humana que está em constante construção”, define Ingrid Derossi. (Foto: Iago de Medeiros)

“A ciência é mutável e transformadora porque, afinal, é uma obra humana que está em constante construção”, define Ingrid Derossi. (Foto: Iago de Medeiros)

“Onde a ciência está presente?”. Foi com esta pergunta que uma pesquisa foi realizada entre estudantes anônimos de Química, no estado de São Paulo, pedindo para que os mesmos respondessem em forma de desenho. A resposta foi categórica: laboratórios. A mesma atividade foi proposta para alunos de ensino médio — desta vez, o pedido era para desenhar o que, para eles, é um cientista. Mais uma vez, um retorno estereotipado: um homem, sozinho, manuseando instrumentos científicos.

É justamente esta imagem de que a ciência é algo duro, distante, dominada pelo gênero masculino e reservado para pessoas geniais, trabalhando solitária e incansavelmente em laboratórios fechados, que foi questionada pela doutoranda da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Ingrid Derossi, durante sua palestra sobre o tema “O papel da história da ciência e a visão do cientista”.

Realizado com apoio do Programa de Pós-Graduação em Química, o evento debateu o papel da história da ciência como uma das bases auxiliares da educação, seja no nível médio ou superior, e como a mesma é uma poderosa aliada na formação de uma cidadania consciente. Desta forma, a palestrante discute formas de aproximar o cientista da própria sociedade na qual ele está inserido, além de como superar obstáculos como a carência de uma visão ampla e inclusiva das contribuições científicas para a comunidade como um todo.

“A ciência é mutável e transformadora porque, afinal, é uma obra humana que está em constante construção”, define Ingrid Derossi. “Temos uma visão de que algo comprovado cientificamente é inquestionável, o que não é verdade. Tudo está passível de mudança e questionamento.”

A doutoranda chamou atenção, principalmente, para o fato de que o conhecimento científico não pode ser separado dos seus contextos históricos, sociais, tecnológicos e ambientais. “Não são apenas fatos pontuais, mas que possuem um papel social. É isso que precisamos nos esforçar para ensinar, para mostrar que a ciência alcança além do contexto acadêmico.”

Hedy Lamarr,consagrada como atriz de Hollywood, era cientista e criou o “frequency hopping, que evita a interceptação de mensagens. (Foto: www.nwhm.org)

Hedy Lamarr, consagrada como atriz de Hollywood, era cientista e criou o “frequency hopping”, que evita a interceptação de mensagens. (Foto: www.nwhm.org)

Mulheres na ciência

Crítica ao modo de ensino que, ainda, ignora a contribuição de cientistas mulheres, Ingrid ressalta que este tipo de didática desconsidera o histórico de discriminações, injustiças e assédios no ambiente científico sofridos por pesquisadoras. Um dos exemplos apresentados pela doutoranda foi o de Lise Meitner, cientista responsável por descobrir a fissão nuclear, que ocorre no núcleo de um átomo. No entanto, o prêmio Nobel ignorou por completo seu papel na descoberta, atribuindo-a e premiando, em seu lugar, o químico Otto Hahn.

Lembrada como a mulher considerada a mais bela da Europa nos anos 30 e 40, Hedwig Eva Maria Kieler ficou conhecida por seu nome artístico Hedy Lemarr e por estrelar filmes em Hollywood — no entanto, poucos se recordam do seu trabalho científico, ou que Hedwig foi responsável pela invenção do sistema de comunicação que seria a base da telefonia celular e do wi-fi. A cientista e atriz foi mais um exemplo utilizado por Ingrid. “É um ciclo vicioso e ainda carente de mais conhecimento que acabamos perpetuando no meio científico”, pontua. “Precisamos repensar a ideia de uma ciência dura, linear, masculina e solitária, para que essa e as próximas gerações compreendam que o conhecimento científico está mais próximo de nós, assim como a possibilidade realizarem pesquisas e descobertas.”

Outras informações:

(32) 2102-3309 (Programa de Pós-graduação em Química)