A terra povoada por nós, seres humanos, também é um mapa histórico de épocas passadas, carregando vestígios de civilizações antigas e períodos decorridos. Com o avanço da tecnologia e sabendo que nossa história também deixa seus vestígios geológicos, pesquisadores são, atualmente, capazes de integrar dados geográficos e mapas antigos para realizar análises do desenvolvimento de atividades como o comércio, planejamento urbano, transporte, comunicações e até mesmo presença de recuross naturais.

"A partir dessa cartografia dos dados, encontrar novas perguntas que originalmente não tínhamos pensado”, afirma o pesquisador Angelo Carrara (Foto: Twin Alvarenga)

“A partir dessa cartografia dos dados, encontrar novas perguntas que originalmente não tínhamos pensado”, afirma o pesquisador Angelo Carrara (Foto: Twin Alvarenga)

Essa técnica, conhecida como geoprocessamento, consiste em um conjunto de técnicas computacionais que opera sobre bases de dados georreferenciados com o objetivo de transformá-los em informação relevante e é a ferramenta utilizada para um projeto de pesquisa desenvolvido no Departamento de História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) procura elaborar e aperfeiçoar metodologias e técnicas para a História Econômica, Agrária e Urbana.

De acordo com o coordenador do projeto, Angelo Alves Carrara, a ideia é, a partir da análise dos dados disponíveis em fontes tradicionais, avançar sobre novas questões. “O que nós buscamos fazer é jogar no mapa os dados quantitativos de determinadas pesquisas e, a partir dessa cartografia dos dados, encontrar novas perguntas que originalmente não tínhamos pensado.”

Parte do trabalho consiste, por exemplo, na avaliação do tipo de solo onde se encontravam as propriedades analisadas. Com base em variáveis como acesso à água, declividade, qualidade e dimensão do terreno, é possível compreender a distribuição das propriedades e como as atividades econômicas podem ter sido influenciadas. “Isso é uma aplicação do geoprocessamento que eu considero a mais importante para o estudo de História Agrária, porque me ajuda a entender o avanço da fronteira agrícola: por que algum grande proprietário rural escolheu a sede de sua fazenda para ficar nesse ponto e não no outro? Quando a gente vai fazer análises das variáveis geográficas, aí nós temos a resposta”, avalia Carrara.

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Com base em variáveis como acesso à água, declividade, qualidade e dimensão do terreno, é possível compreender a distribuição das propriedades e como as atividades econômicas podem ter sido influenciadas (Foto: Twin Alvarenga)

A inclusão dessas variáveis nas pesquisas passam a ser indispensáveis, também, para a retomada de um conhecimento tradicional que vem se perdendo no decorrer da história, segundo Carrara. “Esse conhecimento é muito importante para entendermos as escolhas e alternativas que essas pessoas adotaram ao longo do tempo, até para nós aprendermos com essa tecnologia que eles desenvolveram”, afirma.

Caminho Novo e descobertas sobre o período colonial

Um exemplo de aplicação do geoprocessamento foi o utilizado na tese de doutorado de Rafael Laguardia, orientando de Carrara. “Dos dízimos à demarcação de terras: geoprocessamento aplicado aos módulos rurais” teve como objetivo compreender como os aspectos físicos e geográficos condicionaram o processo de ocupação do solo, desde o início do século XVIII até a primeira metade do XIX, no antigo território ao redor do Caminho Novo, uma das estradas reais que ligava o litoral do país a Minas Gerais na época do Brasil Colonial, passando pela região da atual Juiz de Fora, como demonstrado na imagem a seguir:

(Fonte: Arquivo pessoal / Angelo Alves Carrara / Rafael Laguardia)

(Fonte: Instituto Estrada Real)

Segundo Carrara, na época, a maioria das propriedades se localizavam às margens dessa estrada por servirem como pousos dos viajantes que saíam do Rio em direção à Ouro Preto. Ao longo do século XVIII, período em que o ouro tinha elevada importância econômica, os grandes proprietários de terra estavam localizados na região de Juiz de Fora até a divisa do estado com o Rio, onde o relevo é de baixada. Durante a pesquisa, Laguardia observou que, por volta do ano de 1815, essas propriedades mudam de lugar e vão de Juiz de Fora até a subida da serra, possivelmente pela produção do café.

“Isso para a historiografia é curioso, porque não se imaginava que o café já fizesse parte da economia da cidade naquele momento. Achavam que o café era de 1830, 1840”, explica Carrara. “Nós já tínhamos registros de indivíduos que seguramente estavam entre os maiores produtores de Minas Gerais e pagavam uma quantidade significativa de impostos referentes à essa produção em 1815, mas não tínhamos outros elementos que validavam.”

Outras informações:

Grupo de Pesquisa em História Econômica – História Quantitativa e Georreferenciada