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Histórico

Início – Grupo de Pesquisa “Poéticas da Imagem Técnica”

O Grupo de Pesquisa Laboratório de Mídia Digital é o primeiro constituído no âmbito da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora. Ele tem início em 2002, sendo credenciado na plataforma Diretório Grupos de Pesquisa do CNPq com o nome de Poéticas da Imagem Técnica, agregando pesquisadores com estudos no âmbito das correlações entre a imagem e outras práticas semióticas, privilegiando a abordagem das interseções entre as produções audiovisuais, as culturas moderna e contemporânea, o aparato tecnológico e a literatura. Em 2003, o projeto “A imagem em Walter Benjamin”, desenvolvido pelo grupo, obteve recursos financeiros e bolsas de iniciação científica junto à Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora. No período de 2003 a 2005, os docentes e os acadêmicos bolsistas ligados ao projeto desenvolvem atividades de pesquisa integradas. Em 2008, publica-se o livro de ensaios “Walter Benjamin: imagens”, pela Editora Mauad X, com artigos de membros do grupo. Em 2006, nova pesquisa é aprovada, “Um homem com uma câmera: um filme didático”, tanto no CNPq quanto na Fapemig. Entre 2005 e 2008, o grupo participa de eventos divulgando as pesquisas realizadas no projeto, com a publicação de um livro – “Vertov: o homem e sua câmera” – e um DVD encartado referente a este trabalho em 2009.

Primeira reformulação – Grupo de Pesquisa “Cinema e Mídias Digitais”

Em 2010, o grupo passa por reformulações e passa a se chamar “Cinema e Mídias Digitais”, com participação de professores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF e de convidados. A proposta a partir de então é produzir projetos que tenham um viés acadêmico, mas com produções teóricas e práticas. Novas parcerias começam a ser desenvolvidas, e a interatividade passa a ser pesquisada.

As pesquisas se concentram em algumas áreas, mais notadamente àquelas que tratam da interatividade. Daí, seus principais projetos, desde 2009, têm se concentrado em análises sobre a TV Digital Interativa e experiências com elementos comuns a ela, como a segunda tela, a IPTV e afins, juntamente com pesquisadores do Departamento de Ciência da Computação. Para falar de TV Digital Interativa, é necessário entender que existe um padrão internacional, criado no Brasil, para este tipo de funcionamento: O Ginga. Em 2013, os pesquisadores do grupo e do Laboratório de Aplicações e Inovação em Computação (LApIC) decidiram entrar no processo seletivo do “Ginga BR Labs”, edital aberto pelo Ministério das Comunicações para entregar a dez emissoras públicas brasileiras um laboratório completo de pesquisa e fomento do Ginga. Como a UFJF ainda não possui um canal de TV em atividade, um dos pré-requisitos para participar da seleção, o LMD buscou uma parceria com a TV Assembleia de Minas Gerais e apresentou a proposta de um programa televisivo dedicado a explorar as potencialidades de uso da interatividade na tela da TV. Naquele mesmo ano, a TV Assembleia teve êxito na concorrência e recebeu um dos laboratórios, que inicialmente foi instalado nas dependências da faculdade de Comunicação (Facom) da UFJF, quando então os trabalhos em torno do programa ganharam impulso.

Porém, logo após a entrega dos produtos audiovisuais previstos no edital do Ministério das Comunicações, a TV Assembleia, que era a proprietária oficial do laboratório, decidiu criar uma equipe interna de trabalho e solicitou a transferência de todos os equipamentos para a sede da emissora em Belo Horizonte. Apesar do fim da parceria com a TV Assembleia, as demandas apresentadas pela emissora serviram de pauta para a pesquisa e o desenvolvimento de aplicações interativas por parte do laboratório. Desta época remontam trabalhos de alunos do mestrado da Faculdade de Comunicação sobre interatividade (Stanley Teixeira), aplicações interativas em TV para o SUS (Ricardo Beghini), programas de TV Digital Interativa (Fernanda Viana), uso de timeline e interatividade em TV (Ricardo Reis).

Segunda reformulação e consolidação – Grupo de Pesquisa “Laboratório de Mídia Digital”

Com nova reformulação em 2014, o grupo agora se chama “Laboratório de Mídia Digital” e tem novos projetos aprovados no CNPq. O foco passa a ser o estudo do Ginga, de possibilidades de uso da chamada “segunda tela” e de IPTV. Em 2018, um novo desafio é colocado, com a ampliação da pesquisa para ambientes narrativos imersos multimídia ou transmídia, no jornalismo e na ficção, com possibilidades de uso de realidade aumentada e Internet das Coisas. Um subgrupo é formado em 2019, com o nome de Laboratório de Escuta, já reformulado durante a pandemia de Covid-19, a partir de 2020. O grupo conta com alunos, servidores técnico-administrativos e professores do Departamento de Ciência da Computação, da Faculdade de Comunicação e do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora e também da Universidade Federal de Ouro Preto.

Dando sequência aos trabalhos, a pesquisa voltou-se para uma questão mais específica da interatividade em TV, o uso da Segunda Tela. Os estudos são financiados pelo CNPq e procuram criar programas interativos e sincronizados com dispositivos móveis, tais como tablets e smartphones. Por meio deste projeto, também com ligação entre LMD e LApIC, foi desenvolvido um sistema por um aluno da graduação, na área de Ciência da Computação, para a sincronização de sinais entre telas (Thomás Brandão). Já na área de criação de conteúdos para segunda tela, foram criados três programas de TV Interativa com base em livros infantis, no intuito de auxiliar a fase de alfabetização. Os programas criados no projeto “Ginga BR Labs”, sobre a cidade de Juiz de Fora, também foram trabalhados para terem seus conteúdos levados para uma segunda tela. Esse trabalho também fez parte do projeto de doutorado de Stanley Teixeira, na PUC de São Paulo. Nele, a necessidade de oferecer mais tempo para que o telespectador possa interagir com o conteúdo audiovisual vai ao encontro da proposta do governo federal de utilizar a TV como instrumento de inclusão digital ao oferecer alguns serviços interativos que atualmente só estão disponíveis para quem tem acesso à Internet. Porém, flexibilizar o tempo da programação televisiva é encarado pelas emissoras como ameaça ao atual modelo de negócio, baseado na grade horária e na transmissão em fluxo.

Para que esta flexibilidade temporal seja incorporada sem comprometer a programação, uma alternativa é anexar aplicativos à transmissão televisiva – algo que só se tornou possível com o sinal de TV digital – para levar ao telespectador informações complementares à programação a qualquer momento, independente da grade horária ou de conexão com a internet. O perfil D do Ginga, lançado no segundo semestre de 2018, oferece extrema flexibilidade nesse sentido, ao permitir que os aplicativos instalados nas SmartTVs interajam com as aplicações transmitidas pelas emissoras.

Para evitar a poluição da tela da TV com o excesso de informações complementares, entendemos que será necessária a construção de uma rede de espaços dentro e/ou fora da tela, interconectados por laços de continuidade narrativa, para onde o tempo de interação possa escoar de forma rizomática, ampliando a experiência imersiva do telespectador sem comprometer o fluxo planejado pela emissora na tela. A melhor estratégia para implementar estes espaços ao redor da TV são as narrativas transmídias. Atualmente estamos familiarizados com este jeito diferente de consumir histórias. Antes da popularização das mídias digitais, a experiência de assistir a um filme ou ler um livro era isolada e terminava com um simples “Fim”. Agora este “fim” pode ser apenas o começo de outras narrativas, contadas em sites, blogs, animações, livros, revistas especializadas, etc.

A segunda tela é, portanto, o espaço mais óbvio para estes fluxos complementares, mas não é o único. Com a evolução da internet das coisas (IoT, do inglês Internet of Things) qualquer objeto capaz de se conectar pode ser “capturado” como um elemento da narrativa. Um exemplo disso poderiam ser as lâmpadas da Phillips que se conectam à rede wi-fi da casa. Imaginemos um filme de suspense em que a oscilação luminosa é marcante em razão de a narrativa estar ambientada em um velho casarão com problemas na rede elétrica. Terminado o filme, quando o telespectador está se levantando para ir embora, a lâmpada reproduz aquele efeito luminoso e deixa, de brinde, um último susto. Uma caixa de som conectada ainda poderia ampliar a imersão ao reproduzir, neste mesmo instante, o ruído de uma porta se abrindo. Esse caminho é o que começou a ser trilhado pelo LMD em 2018, com pesquisas sobre transmídia em ambientes narrativos e agora se voltam para ambientes narrativos imersivos, com uso tanto de IoT como também de possíveis experiências de realidade aumentada.

A necessidade de repensar o fluxo televisivo levou o LMD e o LApIC a direcionarem seus estudos também para a IPTV, uma vez que esta tecnologia oferece suporte para flexibilizar o tempo de interação do telespectador, além de aumentar a oferta de conteúdos e aplicativos com os quais a audiência pode interagir. Há um projeto sobre IPTV, inicialmente em conjunto com a RNP, buscando criar soluções de IPTV para diversas instituições. Ele começa a ser testado, ainda este ano, na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Um sistema de IPTV – Televisão por Protocolo de Internet (do inglês Internet Protocol Television) – tem como principal característica a transmissão de canais por meio da rede mundial de computadores usando o protocolo IP. Neste modelo de distribuição, em vez de o usuário receber o conteúdo por meio de antenas ou por cabo, ele é disponibilizado pela Internet. Além disso, a IPTV possibilita a interatividade de uma forma mais orgânica para os produtores de conteúdo, já que os dispositivos de segunda tela e a emissora estão conectados na mesma plataforma, a Internet.

Uma característica singular desse modelo é a possibilidade de operação tanto em fluxo – seguindo uma grade horária preestabelecida – quanto a distribuição de vídeo sob demanda (VoD), que chega ao telespectador a partir da relação estabelecida com a programação, sendo esta última diferente da experiência que a maioria da população tem com as atrações televisivas.

Abordar os dispositivos de segunda tela e a operação de uma IPTV, por exemplo, só reforça o ponto de convergência entre os meios – uma vez que o trabalho dos profissionais de mídia deve ser pensado já incluindo o fator interatividade e também definindo como os materiais poderão ser aproveitados da melhor forma possível.

Também é necessário que haja um esforço coletivo entre os investigadores desses novos fenômenos para que busquem contatos não só com aqueles ligados à comunicação, mas também com profissionais de áreas como computação e design com a finalidade de estabelecer estudos interdisciplinares, pois as pesquisas que abrangem estas novas tecnologias envolvem diversos fatores que passam não apenas pelas questões de conteúdo jornalístico, mas também interfaces gráficas ou procedimentos técnicos. Não se deve esquecer também a dupla dimensão pedagógica envolvida aí: tanto na preparação da audiência para lidar com os novos dispositivos quanto na aquisição de conteúdos destes novos meios, o que vem sendo chamado de literacia midiática. Isso passa também pelos profissionais de Educação, que não devem estar distantes destas novas formas de lidar com o conhecimento.

Aliado a isso, há que se pensar nos modelos de fluxo e sob demanda. Esses dois tipos não são compatíveis em muitos dos casos mostrados anteriormente neste estudo. A televisão aberta, mais conhecida e mais assistida, não comporta ainda essa segunda opção, sendo feita no modelo de fluxo desde o seu surgimento. De outro lado, a Internet também segue um modo de organização, basicamente sob demanda, onde não há muito apelo para as grandes transmissões “ao vivo” ou em fluxo. Além disso, esse tipo de transmissão pode acarretar problemas como congestionamentos na rede e também, em certos casos, mais custos de produção.

Assim, percebe-se que a IPTV acaba por ser uma solução que oferece a possibilidade de ambas as transmissões, pois pode gerar o fluxo ou trabalhar com a demanda, independente de quaisquer fatores externos a ela. A IPTV já foi projetada para funcionar neste modo duplo, além de oferecer suporte para a interatividade, recurso ainda não explorado na televisão aberta.

Outros projetos desenvolvidos pelo LMD, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, foram o de análise da programação da JFTV Câmara para possíveis utilizações de interatividade em seus conteúdos (Helena Amaral), e, na Ciência da Computação, no mestrado, o estudo sobre elementos de IoT em áreas diversas e facilitação de sua utilização (Thomás Brandão), que conta com aproximações com outras áreas, como a comunicação, a arquitetura e artes e design. No âmbito do doutorado do PPGCOM, há o início de um projeto gestado dentro do LMD, que é o Laboratório de Escuta, com participação de três ex-alunas de mestrado do PPGCOM, Helena Oliveira, Anna Gomes e Laís Cerqueira, com a supervisão da aluna de doutorado, Luana Viana, que vai discutir a utilização de tecnologias digitais em âmbitos diversos e também tratar da importância da escuta no mundo contemporâneo, incluindo aí pesquisa e desenvolvimento de produtos.

P&D é um foco mais recente do LMD, a partir do interesse em se produzir também metodologias, processos, projetos e produtos. Entende-se que não basta só desenvolver pesquisas que se interessem em discussões que vão levar à criação de artigos e monografias, mas que se pode ir além disso, principalmente na área da Comunicação, onde se produz muito, mas pouco se fala em desenvolvimento. Acredita-se que é fundamental para a área passar a discutir estas questões, pois o que se percebe é a perda de espaço e de influência quando se trata de produtos onde a Comunicação é fundamental, mas muitas vezes é deixada de lado. Esse é o foco principal de estudos correlacionados que vão buscar dar destaque ao que há de comunicacional neste âmbito de P&D.