Data: 28 de agosto de 2018
Camila Roseno
Durante os dias 09 a 12 de agosto de 2018, ocorreu em Salvador (BA) a 10ª edição do Seminário Nacional de Lésbicas e Mulheres Bissexuais – SENALESBI – que, desde 1996, em sua primeira edição, vem se consolidando como um dos principais espaços de articulação política das nossas pautas. Uma de nossas Flores Raras, a doutoranda Camila Roseno participou representando o nosso grupo, pois nós enquanto pesquisadoras e militantes feministas, lésbicas, bissexuais e heterossexuais, acreditamos que este espaço também colabora na construção de caminhos e em formas de atuação política que fortalecem as nossas resistências diárias.
Diversas entidades políticas, como organizações, partidos, coletivos, grupos e mulheres independentes estiveram presentes, debatendo, em mesas e rodas de conversa, os desafios, as estratégias e a conjuntura política nacional a partir das lesbianidades e bissexualidades. O eixo central de todos os debates foi o racismo e suas intersecções, pois para que todas avancem precisamos priorizar as questões raciais vivenciadas pelas mulheres negras. Como nos lembra bellhooks, em seu livro “El feminismo es para todo el mundo”, foram as feministas negras e as feministas lésbicas brancas que primeiro reivindicaram o feminismo interseccional, pois entendemos que não haverá igualdade de direitos entre homens e mulheres e também entre as mulheres, se não transformamos o sistema patriarcal capitalista supremacista branco vigente e, deste modo, foram as mulheres negras que protagonizaram esse evento, sendo elas a grande maioria na organização, mesas e rodas de conversa e tendo suas pautas priorizadas.
Estiveram presentes em Salvador cerca de 200 mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais, que debateram também outras estruturas de dominação e opressão, como capitalismo, sexismo, heteronormatividade compulsória, lesbofobia, bifobia, além de saúde física, mental e bem-viver; modos de sustentabilidade financeiras das organizações; auto-organização; geração; regionalidades; educação; modos de participação política em órgãos de controle social; e, principalmente, novos modos de ocupação do poder, a partir de um modelo afrocentrado.
Durante estes quatro dias de formação, tensões, afetos e companheirismo, mulheres de todas as regiões do Brasil, com sotaques e ritmos distintos, puderam trocar experiências de luta, de vivências e de fortalecimento. E, apesar de tudo isso, alguns desafios foram postos pelas participantes, como por quais vias políticas as mulheres lésbicas e bissexuais irão ocupar o poder? Por que ainda não discutimos com mais atenção as maternidades de mulheres LBTs? Como promover nos próximos SENALESBIs espaços de formação, recreação e acolhimento das crianças que também participam do evento com suas mães? Como aproximar as mulheres do campo nos próximos seminários? Como articular politicamente a nossa religiosidade, principalmente as religiões de matrizes africanas e afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda, entendendo que esses espaços possibilitam as nossas existências e os cuidados que tanto precisamos? E como “matar a branquitude” que existe em nós e em nossas organizações? Todos esses questionamentos geraram reflexões nos debates, fora deles e se farão presentes em nossas trajetórias de vida e de luta, para que possamos também avançar coletivamente.
Como resultado desses dias, tivemos a aprovação em plenária final da “Carta de Salvador – 10º SENALESBI”, que se configura como um manifesto das nossas demandas, da nossa orientação política nos próximos anos e em nossos lugares de atuação. Além da carta, tivemos o lançamento do livro que foi produzido por diversas organizações que constroem o SENALESBI, com artigos sobre a história do movimento de mulheres lésbicas e bissexuais, e primeiro será lançado em formato ebook e possivelmente em versão física. Também tivemos a criação da Rede de Mulheres Lésbicas e Bissexuais da Universidade do Estado da Ba
hia (UNEB), compreendendo que muitas de nós estamos na Academia, fortalecendo através das nossas pesquisas e estudos as nossas lutas.
Por fim e pela memória de Marielle Franco, Luana Barbosa e de tantas outras companheiras, continuamos resistindo. Pelo fim do lesbocídio, da invisibilidade lésbica e bissexual, continuamos lutando. Pelo fim do racismo, contra a lei da mordaça e por políticas públicas voltadas às nossas demandas continuamos construindo. Que os resultados desse 10º SENALESBI floresçam em todos os cantos desse País! E 2021 está logo aí, para que nos encontremos novamente em Recife (PE), no 11º SENALESBI.
Somos muitas, somos a resistência!
Agosto é o Mês da Visibilidade Lésbica
O Dia do Orgulho Lésbico Brasileiro é comemorado em 19 de Agosto, assim definido em homenagem à ativista lésbica Rosely Roth (21/08/59-28/08/1990) e para lembrar o dia da manifestação no Ferro’s Bar, chamada por ativistas da época “de nosso pequeno Stonewall Inn”, como conta Míriam Martinho, em artigo publicado pela revista Um outro olhar (ano 14, n. 33, outubro de 2000, p. 8.).
O Dia da Visibilidade Lésbica é comemorado em 29 de Agosto. A data foi definida na realização do 1° Seminário Nacional de Lésbicas (Senale), ocorrido no Rio de Janeiro, em 1996. A partir da 9ª edição, realizada no Piauí, em 2016 – com o tema “20 anos de luta e desconstrução: desafios e perspectivas” –, o evento passou a se chamar Senalesbi (Seminário Nacional de Lésbicas e Mulheres Bissexuais). Em 2018, ocorreu, em Salvador, na Bahia, o 10º Senalesbi, que contou com a Pró-reitoria de Ações Afirmativas da Uneb (Universidade do Estado da Bahia) – que tem como pró-reitora Amélia Maraux – e o Núcleo de Estudos de Gênero e Sexualidade (NUGSEX) DIADORIM UNEB – com a professora Eide Paiva à frente –, entre outras entidades organizadoras.
Educação, Comunicação e Feminismos – Grupo de Estudos e Pesquisas