Você está em: Edições Anteriores > Volume 05 – Número 1 – Julho de 2012 > Apresentação/Editorial
Apresentação
É com grande satisfação que apresento à comunidade dos estudos literários esse número da Revista Darandina, inteiramente dedicado à Literatura Portuguesa. Depois de três décadas ensinando essa disciplina na graduação e, mais recentemente, literatura comparada (principalmente em língua portuguesa) na pós-graduação na UFJF, vejo com entusiasmo os jovens pesquisadores, mestrandos, doutorandos, graduandos e recém-titulados em nosso programa ou em programas afins, dedicando-se à tarefa crítica e ao exercício de leitura e interpretação de um corpus expressivo de textos da literatura portuguesa.
Observo que o interesse dos colaboradores é relativamente amplo e abrangente no que diz respeito às propostas teóricas, críticas e temáticas, mas no que tange à escolha das obras percebe-se que a ênfase é dada à literatura do século XX e à literatura contemporânea. Assim, dos nove artigos, sete têm como objeto esse recorte, enquanto os dois outros se dedicam a Camões, único autor de época diferente, que, contudo, aqui também é lido em paralelo com escritores da atualidade.
A Darandina no seu número especial sobre a literatura portuguesa tem o seguinte perfil: o ótimo contista contemporâneo Pedro Paixão foi tratado nos artigos de Laura Assis, e de Andressa Pinto; o complexo e instigante romance de António Lobo Antunes é matéria de duas colaborações: de Fabrícia Rodrigues, de Fabrício Tavares. O comparatismo entre autores de língua portuguesa norteia o artigo de Ana B. A. Penna, que aproxima o Camões épico do poeta contemporâneo Manuel de Freitas; e, de modo menos direto, também é a base da reflexão sobre a presença do poeta quinhentista no romance O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago, feita por Luy B. Braga, Lígia Valle e Webert Guiducci. O muito divulgado romance Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, é retomado por Bertoni Licarião, o que mostra o interesse permanente pela obra do único Prêmio Nobel de língua portuguesa. Também registro que Fernando Pessoa, em suas muitas máscaras, continua sendo alvo do interesse do jovem pesquisador brasileiro de literatura portuguesa: dois artigos voltam-se para a obra desse poeta plural. Cito o trabalho de Gustavo Menegussu, especificamente sobre o Mestre Caeiro, e, numa perspectiva crítica relativamente pouco explorada, o artigo de Rodrigo Damasceno sobre o Pessoa tradutor.
Outra referência sobre o perfil desse número, que convém registrar, é sobre a origem dos colaboradores: apenas quatro dos nove artigos são de autoria de discentes da UFJF; os demais são de autores externos à casa, assim distribuídos: um da USP; dois da UFMG; um da UFF; e um da URI/RS. Esse dado é importantíssimo porque atesta não apenas a boa divulgação, o alcance e a circulação da Darandina para muito além das fronteiras regionais, como também atende à proposta de vascularização e de abertura para a diversidade, o que é desejável para se evitar a endogenia do periódico.
A Literatura Portuguesa é um sistema literário consolidado e riquíssimo, e, pelas relações históricas e culturais que aproximam Brasil e Portugal, penso que a Literatura Portuguesa é, também, uma espécie de acervo que contribui, entre outros, para a construção do arquivo da Literatura Brasileira, também rica, fecunda e originalíssima, que tem em comum com a Portuguesa, além da língua, uma trajetória marcada por complexas relações de aproximação e de afastamento, mas nunca de ruptura absoluta.
Se a afirmativa famosa de Antonio Cândido – de que a literatura brasileira, ao menos até o século XIX, pode ser considerada como um ramo da frondosa arvora da literatura portuguesa – foi já muito discutida, penso que podemos afirmar que nos dias de hoje observa-se, pelo menos da parte dos estudos literários produzidos na universidade brasileira, um interesse real por autores portugueses. Esse interesse se revela nos currículos dos cursos de Letras, na existência de uma sólida e ativa Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa, na grande demanda de intercâmbios e de bolsas-sanduíche em Portugal, e nas pesquisas desenvolvidas nos cursos de pós-graduação, no viés comparatista ou não, como atesta esse próprio número especial da Darandina.
Finalizo agradecendo, em nome do PPG Estudos Literários da UFJF, aos colaboradores, e cumprimentando-os pelo excelente nível dos artigos. Também parabenizo os editores e organizadores desse número especial sobre a Literatura Portuguesa, e desejo à Darandina a vitalidade e a continuidade do sucesso de que desfruta até aqui, e que tem mostrado de fato merecer!
Maria Luiza Scher Pereira
Professora de Literatura Portuguesa
da UFJF
Darandina Revisteletrônica