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Mídia Independente

Equipe
Luma Perobeli
Vinícius Guida

A literacia midiática corresponde a um conjunto de habilidades necessárias para compreender, avaliar e analisar mensagens, assim como expressar-se no ambiente da convergência midiática. Em meio à revolução tecnológica e ao deslocamento dos polos da emissão e recepção, os veículos de comunicação podem promover o desenvolvimento dessas capacidades permitindo a ampliação dos repertórios culturais dos indivíduos, estimulando a cultura participativa e contribuindo para o desenvolvimento de uma inteligência coletiva.

Um dos principais objetivos da literacia midiática é “ajudar os cidadãos a compreender como as mídias filtram percepções e crenças, formatam a cultura popular e influenciam as escolhas individuais” (BORGES, 2014, p. 183). Habilitar as pessoas para um pensamento crítico é, portanto, um dos pré-requisitos para o exercício de uma cidadania ativa, com garantia de liberdade de expressão e informação, fundamentais para a construção e manutenção da democracia.

Buscando promover essa discussão, analisamos conteúdos audiovisuais produzidos por coletivos independentes de mídia. Nesse sentido, objetiva-se compreender de que modo esse âmbito da comunicação contribui para o desenvolvimento da literacia midiática e se esses conteúdos são capazes de fomentar e ampliar a participação cidadã. Desse modo, pretendemos observar os recursos utilizados nos processos de produção e avaliar se conseguem incentivar o pensamento crítico e promover boas práticas midiáticas.

Como base, utilizamos o levantamento Mapa do Jornalismo Independente, realizado pela Agência Pública, em que se encontram reunidos 81 coletivos de mídia independente brasileiros. A partir disso, pesquisamos as respectivas páginas no Facebook, visto que esta é a plataforma mais utilizada para interação social. Como critério de relevância e circulação, consideramos aqueles que apresentam um número de curtidas superior a 200 mil, em maio de 2018, o que nos levou a uma amostra de 11 coletivos. Por fim, analisamos a frequência de atualizações, considerando somente aqueles que possuem ao menos uma publicação em vídeo nos últimos 30 dias.

Dessa maneira, a amostra final abrange seis coletivos, dos quais selecionamos para análise os cinco vídeos mais populares de cada um no YouTube. É importante ressaltar que consideramos somente os vídeos produzidos pela própria organização de mídia, excluindo-se transmissões ao vivo e reproduções de conteúdos externos como, por exemplo, discursos e recortes prontos de telejornais. Assim, propomos a discussão sobre os canais JustificandoNexoOutras PalavrasMídia NinjaOpera Mundi e Jornalistas Livres.

Indicadores

A análise dos vídeos foi realizada a partir da definição dos seguintes indicadores de qualidade:

ampliação do horizonte do público diz respeito ao compromisso sociocultural ao utilizar as ferramentas do ambiente comunicativo digital na transmissão de valores e informações plurais. Nos questionamos se as propostas são, por natureza, polêmicas, contraditórias e férteis, no sentido em que farão, ou não, o público refletir sobre aquilo que consomem. De acordo com Borges (2014), devem contribuir para ampliar o repertório cultural do público, dando a conhecer novas problemáticas, apresentando outros pontos de vista, e estimulando o pensamento e o debate de ideias.

Quanto à diversidade de sujeitos representados, procuramos avaliar a capacidade de interação em ambientes plurais e multiculturais. Tentamos identificar se os conteúdos publicados prezam por pautas que incluem a diversidade temática, geográfica, política, socioeconômica, cultural, étnica, religiosa, de gênero e de pontos de vista. Procuramos, também, avaliar a composição da equipe produtiva e a designação de pautas que respeitem as idiossincrasias dos sujeitos e permitam a autorepresentação, isto é, se mulheres, negros e LGBT+, por exemplo, falam por si mesmos ou se são retratados por outras classes.

Ao analisar a desconstrução de estereótipos, observamos se os conteúdos são capazes de promover a discussão sobre concepções pré-formuladas, arraigadas na sociedade, muitas vezes perpetuadas pelos veículos tradicionais. Neste caso, objetivamos avaliar se a produção audiovisual instiga a desconstrução de estereótipos ao possibilitar a reflexão sobre as generalizações que se consolidaram ao longo dos anos.

O indicador estímulo à participação do público se faz importante no âmbito da cultura da convergência e da cultura participativa. Procuramos identificar se os coletivos adotam mecanismos que estimulam a participação ativa do espectador. Nesse sentido, buscamos avaliar a promoção da conectividade, da interação entre telas e a identificação com diversos públicos.

E o indicador engajamento político-social refere-se à forma como os coletivos escolhem seus temas, abordagens e constroem o discurso informativo. Nesse sentido, procuramos analisar se os conteúdos demarcam posicionamentos ideológicos, independente de quais sejam, ou visam encobri-los a fim de criar uma falsa impressão de imparcialidade.

Com isso, pretendemos contribuir para a discussão da literacia midiática a fim de perceber as capacidades de articular discursos relevantes e, de certo modo, inovadores, que possam contrapor a reprodução de padrões, modelos e formatos consolidados na comunicação. Desse modo, as análises aqui produzidas refletem sobre os processos de produção e circulação de conteúdos no ambiente da convergência e sobre a contribuição desses meios para o desenvolvimento de capacidades crítico-cognitivas nos cidadãos.

 

Confira o trabalho realizado pelo grupo:

Análises

 

Referências:

BORGES, G. Qualidade na TV pública portuguesa. Análise dos programas do canal 2:. 1. ed. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2014.