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Em palestra, filósofo italiano defende a Educação para as Mídias e o desenvolvimento de um novo pensamento crítico

pier3Na última sexta-feira, 18 de maio, o filósofo italiano Pier Cesare Rivoltella, especialista em Mídia e Educação da Universidade Católica de Milão (UNICATT), na Itália, esteve na Faculdade de Educação da UFJF para ministrar a palestra “O Futuro da Rede”. O evento foi uma iniciativa conjunta do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) e do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UFJF, que já vêm buscando parcerias para fomentar os estudos e discussões no campo da Mídia- Educação, e contou com o apoio do CNPq, a partir das atividades do projeto “Competência midiática em cenários brasileiros e euroamericanos” da Rede Alfamed Brasil. 

 

Rivotella começou a sua fala apresentando uma imagem com três capas de jornais, dos anos 1702, 1896 e 2018. Ao compará-las, destacou as mudanças tecnológicas que proporcionaram a expansão da notícia para além do local onde o fato ocorrera (com o telégrafo), o apelo maior ao visual (com a fotografia), e as transformações na própria atuação do jornalista. Ao falar sobre essas transições, o filósofo defendeu que a trajetória da Comunicação se aproxima mais de uma ideia de continuidade do que de revoluções, visto que alguns padrões permaneceram ou foram apenas aprimorados. A esse processo ele chamou de “remediação da mídia”.

 

O filósofo ressaltou também algumas características presentes na Comunicação contemporânea, tais como: a mídia-ferramenta (os meios como instrumentos); além do lugar (desarticulação entre o lugar e a comunicação); tecnologia da distância (as pessoas podem aprender a qualquer hora e em qualquer lugar – dificuldade do controle do acesso à informação pelas crianças); mídia ambiente (ambientes virtuais de aprendizagem – o nosso espaço está sendo reconfigurado pelas novas mídias); tecnologia de grupo (apelo maior aos trabalhos coletivos, através de softwares com o Google Drive ou o Dropbox); mídia conectiva (a mídia está presente em várias mediações: do conhecimento, das relações humanas, da nossa representação da história); e tecnologias da comunidade (aproveitamento das novas tecnologias por nós para a reconstrução da comunidade).

 

pier5Para o especialista em Mídia e Educação, com as novas tecnologias e o maior apelo ao virtual, a realidade desapareceu. “Não se sabe onde termina a realidade e onde começa a informação, por isso atualmente é tão difícil distinguir as informações verdadeiras das falsas”. Questionado sobre a onda de fake news, Rivotella defende que elas têm ganhado espaço exatamente por trabalharem com o nosso envolvimento emocional e com a confirmação de nossas crenças. Daí a necessidade de desenvolver uma nova Educação do pensamento crítico.

 

Em se tratando desse novo cenário educacional, o filósofo destacou uma frase proferida em um Congresso que participou no ano de 1998: “a Educação do novo milênio não pode ser outra que a Educomunicação”. Com esse exemplo, Rivotella mostrou que o alerta para a conexão entre a Educação e a Comunicação já vem sendo feito há muito tempo, em razão da urgência em desenvolver competências críticas e habilidades de crianças e jovens que estão fazendo uso das mídias incessantemente. “Se a mídia está em todas as coisas, ela faz parte da Cidadania, por isso a Mídia-Educação deve ser incluída nos currículos escolares”, afirmou.

 

Para explicar melhor essa ideia, o palestrante contou que eles já têm batalhado para inserir a Mídia-Educação nas escolas italianas, com o suporte de um profissional que eles denominaram como “Mídia-Educador”, o qual atuaria como um tutor para os professores. Esse profissional deveria ter competências específicas: competências semióticas (para trabalhar com a análise de textos e imagens e análise de consumo); competências sociológicas; competências psicopedagógicas; e competências de produção. Rivotella destacou, ainda, que o Mídia-Educador deve estar nos espaços formais, como as escolas, mas também nos espaços informais, já que a mídia está presente em ambos.

Quanto ao papel dos profissionais de Comunicação, o filósofo foi categórico ao defender que eles também precisam desenvolver competências de Educação, dada a responsabilidade que possuem na transmissão das informações. “Hoje qualquer um pode divulgar uma informação em seu canal do YouTube, conta do Twitter ou Facebook. Por isso, é fundamental que os profissionais especialistas em Comunicação desenvolvam competências diferenciais, as quais incluem a Educação”, disse. Para ele, é necessário incluir na grade curricular dos cursos de Comunicação não somente disciplinas da Educação, como também da Ética.

 

Questionado sobre o papel das mídias alternativas em construir e oferecer visões diferentes da mídia tradicional, pautada por um único olhar ideologizado, Rivotella fez elogios, mas deixou uma ressalva: “é importante deixar claro que o poder também pode controlar essas mídias: não se tem mais um poder aqui e outro ali, está tudo misturado. Por isso a urgência em desenvolvermos o pensamento crítico, mas com novas estratégias, dada a complexidade do cenário contemporâneo”, finalizou.