black bloc encara as lentes de Lima Júnior, enquanto ao fundo um incêndio acontece (Foto: Luciano Lima Júnior)

Tensão: black bloc encara as lentes, enquanto ao fundo um incêndio acontece (Foto: Luciano Lima Júnior)

Muitas vezes a história de um país é marcada por acontecimentos cuja  importância é enorme, mas o seu desenrolar é breve. Para os fatos não caírem no esquecimento e lembrarmos como chegamos aonde chegamos, existe o atento testemunho do artista. Exemplo dessa relação entre memória, tempo e história é a mostra fotográfica “Ação do Instante”, de Luciano Lima Júnior, que será inaugurada na Galeria de Arte do Memorial da República Presidente Itamar Franco, nesta sexta-feira, dia 29, às 19h. A mostra, com entrada franca, pode ser visitada de terça a sexta-feira, das 9h às 18h e sábados, domingos e feriados, das 12h às 18h.

A exposição traz à lembrança os acontecimentos de junho de 2013, quando o aumento de R$ 0,20 na passagem de ônibus, na cidade de São Paulo, desencadeou uma série de manifestações pelo Brasil, que marcaram o início da turbulência na vida política do país. No caso do trabalho de Lima Júnior, as imagens foram registradas em Belo Horizonte, nos dias 17, 22 e 26 de junho daquele ano. Ao todo, as 21 fotos, de captura digital, apresentam ocasiões marcantes e circunstâncias tensas dos protestos na capital mineira. Nos trabalhos em exposição, não apenas a ação registrada nas imagens chama a atenção mas, sobretudo, a expressão das emoções, sempre fortes, das pessoas retratadas. Há fotografias em preto e branco e em cores. Conforme explica o artista, a variação das cores busca destacar o aspecto dramático da situação. “O preto e branco traz um elemento impactante, dramático para a foto, e, por conta da tensão dos acontecimentos, adotei o preto e branco na maioria das fotos. No entanto, no caso das fotos coloridas, elas são assim por esse motivo também: a cor dava uma beleza para a imagem e transmitia o que se passava.”  

ma jovem manifestante grita euforicamente contra um policial impassível.  (Foto: Luciano Lima Júnior)

Manifestante não se intimida e encara o policial impassível (Foto: Luciano Lima Júnior)

Exemplo de imagem em que o colorido ressalta a situação é a foto na qual um black bloc encara as lentes de Lima Júnior, enquanto ao fundo um incêndio acontece. Mesma situação, porém em versão preto e branco, é o caso da imagem na qual um jovem é arrastado pela polícia ao resistir a sair do caminho ou então o da foto em que uma jovem manifestante grita euforicamente contra um policial impassível.

Durante os três dias em que acompanhou as manifestações, Lima Júnior tirou cerca de mil fotos. O artista executou o trabalho de maneira espontânea, e sem pretensões, a não ser aquelas do vocacionado para a fotografia. “Eu estava em Belo Horizonte, e tinha visto no jornal que tinha mais de 20 mil pessoas na Praça Sete, e que elas iriam caminhando até o Mineirão. Eu gosto muito de situações de tensão e adrenalina, e logo vi que algo iria acontecer e me desloquei para o tumulto.”

Para registrar os momentos de tensão, Lima Júnior se posicionou  justamente entre a linha de frente dos manifestantes e do esquadrão de força da polícia. “Eu me mantive calmo fotografando, mas ao mesmo tempo sentindo muita adrenalina. Senti que eu estava cem por cento vivo. Quando você está perto do perigo e sabe que pode acontecer algo com você, você se sente mais vivo. É preciso estar cem por cento presente, ou alguma coisa de grave pode acontecer, como perder a vida.”
Passados cinco anos desde que registrou esses momentos, e observando o próprio trabalho, o fotógrafo faz uma afirmação que reflete o desalento atual com a dificuldade de efetiva transformação do país. “Quando as manifestações estavam acontecendo, eu tive a esperança de mudança. Vi e senti o povo mudar de atitude, o povo mais ativo, mas hoje percebo que foi uma coisa de momento, uma ocasião rara. A população continua passiva, pagando por gasolina mais cara, pagando mais imposto.”

jovem é arrastado pela polícia ao resistir a sair do caminho (Foto: Luciano Lima Júnior)

Cena comum nas manifestações: jovem arrastado pela polícia (Foto: Luciano Lima Júnior)

O fotógrafo

Luciano Lima Júnior tem 28 anos, nasceu em Belo Horizonte e começou a fotografar em 2009, quando morava na Austrália. Formou-se em Publicidade e Propaganda, pelo Centro Universitário UNA, e em Fotografia, pela Escola de Imagem, ambos em Belo Horizonte. Especializou-se em capturar imagens de ação. Desenvolveu esse potencial ao iniciar seus trabalhos como fotógrafo de esportes, a partir de 2011, com experiência na cobertura de eventos como a competição internacional de skate de velocidade MaryHill Festival of Speed, na Califórnia (EUA). Durante cinco anos, trabalhou como fotógrafo de corrida de rua, cobrindo provas como a Volta Internacional da Pampulha e a Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro. Em fevereiro de 2017, mudou-se para Juiz de Fora, onde também se especializou como fotógrafo de animais e tornou-se empreendedor nessa área, fundando a empresa 4Dogz – Fotografia Pet.

O Memorial da República Presidente Itamar Franco fica localizado na Rua Benjamin Constant 790, no Centro da cidade.

Outras informações: (32) 3212-2078 (Memorial da República Presidente Itamar Franco)