Roney Polato,  Joana Machado, Andréa Borges, Fernanda Moura e Julvan Moreira participaram da última mesa-redonda que discutiu a LGBTTIfobia (Foto: Alice Coêlho)

Roney Polato, Joana Machado, Andréa Borges, Fernanda Moura e Julvan Moreira participaram da última mesa-redonda que discutiu a LGBTTIfobia (Foto: Alice Coêlho)

A LGBTTIfobia –  violência contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexos – e a educação escolar foram tema de mesa-redonda na noite desta quarta-feira, dia 20, na Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Participaram da atividade a representante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, subseção Juiz de Fora, e professora da UFJF, Joana Machado; a diretora da Superintendência Regional de Ensino de Juiz de Fora (SRE-JF), Fernanda Moura;  a subsecretária Municipal de Articulação das Políticas Educacionais, Andréa Borges; e o diretor de Ações Afirmativas da UFJF, Julvan Moreira.

A mesa-redonda encerrou o I Seminário LGBTTIfobia e Educação, organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidade, Educação e Diversidade (Gesed). O professor da Faced e um dos líderes do Gesed, Roney Polato, informou que o grupo de estudos  pretende reunir as informações provenientes do seminário em documento a ser entregue às secretarias Estadual e Municipal de Educação. “Realizamos, ao longo do mês de maio, quatro rodas de conversa nas quais priorizamos os sujeitos e suas experiências. Encerramos o seminário hoje com a fala de gestores da educação. O objetivo é fomentar o debate qualificado sobre o combate à LGBTTIfobia, e apontar as demandas da população LGBTTI às entidades.”

Polato destacou, ainda, a importância de a temática de combate à LGBTTIfobia estar presente no currículo de todos os cursos da UFJF e nas escolas das redes estadual e municipal. Assista ao vídeo:

Ausência de debate alimenta violências

Os três gestores educacionais integrantes da mesa-redonda apontaram a necessidade de ampliação das ações de combate à discriminação de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexos na UFJF e nas escolas das redes estadual e municipal.

A diretora da Superintendência Regional de Ensino de Juiz de Fora (SRE-JF), Fernanda Moura, afirmou que a rede estadual conta, desde 2015, com o Programa de Convivência Democrática, cuja proposta é trabalhar a temática da diversidade nas escolas.  Todavia, segundo Fernanda, a medida é recente e ainda insuficiente para sanar as violências contra a população LGBTTI nas 95 escolas da rede estadual de ensino sob sua supervisão. “Nesse programa trabalhamos as várias temáticas relacionadas ao respeito à diversidade, trabalhamos bastante a questão racial, o combate ao racismo, por exemplo. Precisamos ampliar os debates sobre o combate à LGBTTIfobia. Essas discussões são muito recentes nas escolas. Antes de 2015, não havia nada sobre isso na rede estadual”, afirmou.

Na rede municipal de ensino, de acordo com a subsecretária de Articulação de Políticas Educacionais, Andréa Borges, a situação é semelhante. “Temos o ‘Programa Trupe de Todos Nós’, que oferece cursos e palestras para complementar a formação dos professores, mas é fato que houve um enfraquecimento da política educacional para tratar a temática LGBT e do círculo de instituições e pessoas envolvidas nesse debate, se compararmos o cenário atual com o vivenciado há 12, 14 anos.”

Na avaliação de Andréa, um dos caminhos para o enfrentamento  dessa situação é a parceria entre as instituições. “É esse caminho que estamos vendo aqui hoje, o diálogo, o debate sobre como enfrentar a LGBTTIfobia. Temos que enfrentar essa questão. Todo sofrimento humano é importante para gestores e escolas.”  

Construir política de ações afirmativas

O diretor de Ações Afirmativas da UFJF, Julvan Moreira, afirmou que o objetivo da Diretoria é construir uma política de ações afirmativas para a Universidade, contemplando as demandas da população LGBTTI. “Para isso, propomos o Fórum da Diversidade, para que as decisões e as políticas sejam elaboradas democraticamente, por representantes de todos os segmentos da comunidade acadêmica. Infelizmente, por fatores externos, como a greve dos caminhoneiros, precisamos adiar o evento, que será remarcado em breve.”

Moreira acrescentou que também é objetivo da Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf) estimular eventos sobre o combate à LGBTTIfobia, fomentar a presença da temática em todos os cursos e atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade. “É importante que tenhamos também representantes LGBTTI nos conselhos e fóruns da instituição, para apresentação das demandas específicas dessa população. Pensamos também em buscar o aprimoramento dos mecanismos de denúncia dos casos de LGBTTIfobia.”

A representante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, subseção Juiz de Fora, e professora da Faculdade de Direito da UFJF, Joana Machado, destacou os inúmeros desafios que envolvem a educação para os direitos humanos. “São desafios em várias dimensões. Na UFJF, por exemplo, a formação jurídica é muito limitada no que diz respeito à temática da diversidade. No curso de Medicina, no qual leciono a disciplina Ética, também pouco ou quase nada se fala sobre a saúde da população LGBTTI.  É fundamental mudar esse cenário.”

A professora ressaltou, ainda, a relevância do aumento da representação política da população LGBTTI. “É muito importante a representação por presença e entendimento. É fundamental que a comunidade LGBTTI ocupe instâncias de deliberação. O combate à LGBTTIfobia é um problema de todos, assim como o racismo, o machismo, mas a urgência é de quem vive a questão, de quem sofre cotidianamente as violências.”

Outras informações: gesedufjf@gmail.com e Gesed no Facebook