O pesquisador Giovanni Levi ao lado da pró-reitora de Pós-gradução e Pesquisa, Mônica de Oliveira (Foto: Alexandre Dornelas)

O pesquisador Giovanni Levi ao lado da pró-reitora de Pós-gradução e Pesquisa, Mônica de Oliveira (Foto: Alexandre Dornelas)

A História é considerada a Ciência que estuda o ser humano no tempo e no espaço. Para não se perder em meio aos milhares de anos da nossa existência, alguns historiadores optam por aplicar uma “lente de aumento” sobre determinados acontecimentos, enxergando a riqueza de detalhes que os formam. Outros vão além e desenvolvem métodos “microscópicos”, como o italiano Giovanni Levi, um dos criadores de uma das correntes historiográficas mais relevantes e frutíferas das últimas décadas, a Micro-história.

O conceito se baseia em uma análise histórica extremamente reduzida, focando em objetos específicos, como comunidades e indivíduos, para apresentar novas realidades, sem deixar de levar em consideração as estruturas estabelecidas pela História Geral. Nas palavras de seu criador, “a Micro-história tenta ver o que não é imediatamente evidente e busca sugerir leituras diferentes sobre a história”.

Em sua segunda visita à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Levi guiou a discussão sobre a temática “História Global e Micro-história” no 3º Ciclo de Encontros organizado pelo Laboratório de História Econômica e Social (LAHES). Em um auditório lotado do ICH, o pesquisador destacou visões de ambas as correntes sob um viés comparativo, revelando alguns aspectos pouco contemplados na perspectiva global. “O mundo é globalizado em algumas situações e hiper fragmentado em outras. Há uma série de desastres que a globalização conduz concomitantemente aos efeitos positivos causados por ela”, esclarece o palestrante.

Em sua segunda visita à UFJF, Levi lotou anfiteatro no ICH (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Em sua segunda visita à UFJF, Levi lotou anfiteatro no ICH (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Retornando alguns anos no tempo em sua fala, o pesquisador classificou o fim da ordem mundial bipolar como um “choque fundamental” na História. “Com todo choque, um trauma é gerado – e, com ele, vem o silêncio. Precisamos em média de trinta a quarenta anos para que se comece a surgir aberturas em meio ao mutismo. Das várias viagens que fiz à Argentina, por exemplo, senti muitas vezes um silêncio culpável com relação aos anos e acontecimentos da ditadura”, pontua o acadêmico.

Durante o encontro, ainda foram levantadas questões sobre o papel do historiador na construção dos conhecimentos e como as ferramentas utilizadas por eles podem ser perigosas se o processo não for bem elaborado. Os documentos, segundo ele, são os melhores amigos e os piores inimigos dos historiadores, porque são as principais fontes de informação sobre o passado, mas “são parciais, fragmentos e contemplam apenas determinado ponto de vista”.

Como solução à viciosa análise frequentemente unilateral, produto de estudos baseados em documentos de origem ocidental e eurocêntrica, o pesquisador sugere aos historiadores uma missão essencial, porém árdua. “Devemos estudar vencidos e vencedores. Uma tarefa importante, mas difícil. Precisamos recuperar a história dos perdedores”, conclui.