O Hospital Universitário da UFJF/EBSERH dispõe de um diferenciado tratamento para pacientes com danos ou ausência das funções dos rins, viabilizando a prática de exercícios físicos durante a hemodiálise e a diálise peritoneal. As atividades são conduzidas e monitoradas por fisioterapeutas que atuam no Setor de Nefrologia, sendo o acompanhamento fundamental para que não ocorram lesões durante a realização das dinâmicas.

Segundo a fisioterapeuta Daniele Thomé, os principais exercícios executados e ensinados na unidade são os de força, fortalecimento e aeróbico, este último, feito com o uso de bicicletas ergométricas. A profissional revela que as atividades visam a auxiliar na reabilitação dos pacientes, proporcionando uma melhora na qualidade de vida e atuando no tratamento de outras patologias decorrentes da insuficiência renal. “Existe uma intensa preocupação e responsabilidade quanto ao bem-estar deste enfermo. Avaliamos cada caso separadamente, verificamos se existe força ou algum déficit no quadro clínico do paciente e, a partir disso, elaboramos um perfil indicando o exercício ideal.”

O fisioterapeuta Fabrício Barros explica que, assim como a atividade é pensada de forma personalizada, a duração destes exercícios também pode variar conforme as especificidades do paciente. “Em média, o atendimento aeróbico tem duração de 40 a 50 minutos, iniciando com um alongamento e sendo monitorado de forma constante e individual durante toda a realização. Algumas das questões que monitoramos são a pressão, o batimento cardíaco, a saturação e o cansaço do paciente. A média são 30 minutos pedalando na bicicleta e, para os exercícios de fortalecimento e força com o uso do halter, da caneleira ou da faixa elástica, são cerca de 20 minutos.”

Fabrício e Daniele destacam que, apesar da prática de atividades durante a hemodiálise e a diálise peritoneal não serem uma novidade na área, o serviço ainda é visto como algo inédito pela maioria dos pacientes, por tratar-se de um recurso ofertado em poucos hospitais no Brasil. “Muitas pessoas vêm de anos de hemodiálise em outros hospitais ou são novas neste processo e pensam que é preciso ficar o tempo todo deitadas ou em repouso para realizar o procedimento. Então, ficam muito surpresas com a possibilidade de realizar exercícios, por isso pontuamos os benefícios da prática e, nesta orientação, contamos também com o auxílio da equipe de psicologia, desenvolvendo assim um relevante tratamento multidisciplinar”, esclarece Daniele.

Instituição pioneira

A iniciativa foi implementada no HU-UFJF em 2002, com a criação do projeto de extensão da UFJF “Fisioterapia no Doente Renal Crônico”, coordenado pelo professor Helton Geraldo Magalhães. Sendo um dos programas pioneiros da área no Brasil, foi a partir deste ano que o método foi adotado oficialmente pelo HU, com a contratação de fisioterapeutas para o Setor de Nefrologia – Unidade de Diálise, por meio de concurso da Ebserh.

O professor da UFJF Maycon de Moura Reboredo, responsável por retomar o projeto, revela que ingressou na equipe em 2003, ainda na graduação, realizando posteriormente mestrado e doutorado nesta mesma linha de pesquisa. Ele explicita, também, que o Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Faculdade de Medicina da UFJF, realizado por ele em 2005, resultou no trabalho “Efeitos do treinamento aeróbio durante a hemodiálise em pacientes com doença renal crônica”. A pesquisa, orientada pelo professor Rogério Baumgratz de Paula, indicou que em três meses de exercício aeróbico, realizados durante as sessões de hemodiálise, proporcionaram uma redução dos níveis pressóricos, aumento da capacidade funcional e melhora da qualidade de vida dos enfermos.

Reboredo também assinala os resultados obtidos a partir de seu projeto de doutorado “Efeitos do treinamento aeróbico durante as sessões de hemodiálise em parâmetros cardiovasculares e na tolerância ao exercício em pacientes com doença renal crônica”. Nesta pesquisa, percebeu-se que o treinamento aeróbico aumentou a tolerância ao exercício e melhorou o metabolismo oxidativo muscular.

Benefícios das atividades

José Roberto da Silva Filho, 39 anos, paciente com diagnóstico de insuficiência renal, realiza atividades físicas durante as sessões de hemodiálise desde 2008. Ele conta que foi a partir do projeto “Fisioterapia no Doente Renal Crônico”, realizado no hospital, que teve contato com a possibilidade de exercitar-se durante o tratamento, gerando impactos positivos em sua qualidade de vida. “Graças às atividades realizadas aqui eu percebo que tenho mais disposição para fazer as tarefas do dia-dia, andar de bicicleta, correr ou subir morros e tenho mais força muscular também..” Silva Filho é natural de Andrelândia (MG) e percorre mais de 160 quilômetros de ônibus, para chegar ao HU em Juiz de Fora. A viagem leva cerca de três horas. É um percurso longo e um pouco cansativo, que ele realiza três vezes por semana para tratar-se. Mas, apesar da distância, o paciente afirma que vale a pena realizar o procedimento no hospital e destaca que a maneira diferenciada, permitindo a realização de exercícios físicos, é um ponto extremamente positivo, sendo um fator determinante para não se sentir desmotivado.