Cesar Dornelas (drag Donatela) Lucas Gonçalves (drag Lucy) e Tiago Capuzzo (drag Titiago) debateram sobre aresistência e a importância da arte na luta contra os preconceitos (Foto: Alice Coelho)

Cesar Dornelas (drag Donatela) Lucas Gonçalves (drag Lucy) e Tiago Capuzzo (drag Titiago) debateram sobre a resistência e a importância da arte na luta contra os preconceitos (Foto: Alice Coelho)

A quarta roda de conversa do I Seminário de Combate à LGBTTIfobia e Educação, discutiu as experiências drag no contexto social, na última quarta-feira, 23, na Sala de Demonstração Paulo Freire na Faculdade de Educação (Faced), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O debate informal buscou retratar as vivências para além do ambiente acadêmico, destacando a resistência e a importância da arte na luta contra os preconceitos.

O evento aberto ao público, tem por objetivo dar voz às questões de gênero, sexualidade, educação e diversidade, numa troca mútua entre os participantes, conscientizando sobre o combate às opressões. A roda convidou duas drags estudantes da Universidade e o artista Tiago Capuzzo, que performa a drag Titiago, para relatarem suas experiências de vida e os desafios enfrentados. O seminário encerra as atividades na próxima quarta-feira, dia 30, com a mesa-redonda “LGBTTIfobia e a educação escolar em debate”.  

O professor da Faced e organizador do evento, Roney Polato, acredita que a regularidade da discussão é uma das formas de sensibilizar a comunidade, e uma oportunidade dos estudantes adquirirem conhecimentos fora das unidades acadêmicas específicas. A partir da idealização do projeto, ele faz um balanço do seminário até o momento. “Nós temos tido uma boa repercussão, as mesas têm alcançado os resultados esperados, a proposta está se cumprindo a partir do que traçamos. Além disso, a expectativa para semana que vem é fazer um fechamento propositivo, visto que vamos trazer representantes que estão envolvidos com as políticas do município, de forma a fechar esse debate.”   

A experiência artística

Cesar Dornelas, que performa a drag queen Donatela, é estudante de Administração na UFJF, e relata que o primeiro contato com a arte se deu a partir do desejo de inovar na apresentação de um trabalho disciplinar que discutia os movimentos sociais e a representatividade. A tentativa de experimentação fez nascer a drag. Segundo Donatela, a atividade artística é uma forma de lidar com a sociedade e se posicionar. A artista afirma que a transição entre os gêneros faz parte da estética de suas apresentações, mas que causa incômodo e estranhamento. “Existe a questão de ocupar o espaço e de ter a resistência de ser uma bicha afeminada performando, porque são elas que estão na linha de frente. Elas que mais sofrem a LGBTTIfobia, desde a escola. Eu vejo que essa questão vêm do machismo; que não aceita tudo que seja dito como feminino, que pareça vulnerável. Quando se vê uma alguém dotada desses elementos, com barba, maquiada e de salto alto, incomoda. Aí nós vemos que estamos fazendo tudo muito certo.”

Confira o vídeo da drag queen Donatela, que explicou a importância do evento:

O ambiente acadêmico também serviu de motivação para Lucas Gonçalves, a drag Lucy, graduando de Comunicação Social na Universidade, que começou a performar durante a ocupação da reitoria em 2016. Ele conta que quebrar o estereótipo dentro da definição de drag é uma das formas de democratizar a arte, mostrando que ela é a acessível e não um conceito artístico fechado. “Como drag tento trazer uma figura feminina, mas que quebra com a ideia do que é ser mulher, eu não tento reproduzir uma mulher. A minha drag vai além disso. Qualquer pessoa pode fazer drag, homem, mulher, Cis ou Trans. Ser drag é uma arte, é experiência e possibilidade”. Entretanto, Lucy reconhece as barreiras impostas pelos preconceitos dentro e fora do grupo LGBTTI, além de ressaltar a importância da reflexão sobre a influência dos privilégios sociais, econômicos e raciais para a discussão.

Com sete anos de carreira e vivência drag, Tiago Capuzzo – a drag Titiago – fala sobre as mudanças no cenário artístico local e nacional, e sobre as dificuldades de reconhecimento e valorização do trabalho como drag. “Hoje nós realmente não temos muito espaço na cidade, ainda não consigo viver só desse trabalho, já que o que ganhamos não é metade do que gastamos. Mas eu amo ser drag, a paixão pela arte me motiva. Isso me dá a certeza que eu vivo a minha arte por mim e para mim.”

Confira a programação.

Outras informações: gesedufjf@gmail.com