Registro do painel sobre células-tronco no bar Na Garganta, na noite de terça, 15 (Foto Claudia Nunes)

Registro do painel sobre células-tronco no bar Na Garganta, na noite de terça, 15 (Foto Claudia Nunes)

No segundo dia do Pint of Science os temas provocaram a curiosidade do público que, mais uma vez, lotou os três bares que sediam o evento internacional. Células-tronco, ciência da música, terrorismo e religião ganharam um tom descontraído, o que conduziu a um bate-papo democrático. O evento vai até amanhã, quarta, 17, com eventos simultâneos nos bares: Arteria, Na Garganta e Brauhaus Zeppelin. Clique aqui para conferir a programação.

Células-tronco: a carta curinga do nosso corpo
Você sabia que existe um biobanco de células-tronco em pleno funcionamento na UFJF — e que você pode pedir auxílio dos pesquisadores para armazenar a polpa dentária do seu filho, por exemplo? Essa foi uma das várias informações abordadas ao longo do painel “Células-tronco: a carta curinga do nosso corpo”, apresentado pelos professores Antônio Márcio Resende do Carmo e Carlos Magno da Costa Maranduba.

Pesquisadores da UFJF, Antônio Mário do Carmo e Carlos Maranduba, são alguns dos que conversaram com o público durante o festival (Foto: Claudia Nunes)

Pesquisadores da UFJF, Antônio Mário do Carmo e Carlos Maranduba, são alguns dos que conversaram com o público durante o festival (Foto: Claudia Nunes)

Abertos ao contato com o público que encheu as mesas do bar Na Garganta, os pesquisadores responderam dúvidas que surgiram a respeito da utilização e do estudo de células-tronco. Se podemos armazená-las no biobanco da UFJF, como coletá-las de uma maneira segura? E por que retiram o material da polpa dentária, e não de um cordão umbilical, por exemplo? “Nossas pesquisas são voltadas para analisar como essas células, obtidas através do dente, também podem ser transplantadas para pessoas diferentes, além de diminuir outros atos cirúrgicos, como implantes e retrações”, revela do Carmo. Seu colega, Maranduba, completa: “Escolhemos não trabalhar com sangue, por exemplo, porque não consigo expandir as células coletadas através dele — não consigo multiplicá-las e transformá-las futuramente. Esse é o tipo de coisa que iniciativas privadas, por exemplo, podem não deixar claro para vocês quando oferecem o serviço de armazenamento de células-tronco.”

O pesquisador explicou, também, como são realizadas as coletas e o prazo para levar um dente até um biobanco (até 48 horas). Ao longo do bate papo, ambos os professores esclareceram outras questões da plateia, desde um olhar mais acessível sobre a estrutura das células-tronco, até a utilização das mesmas em tratamentos no caso de doenças hereditárias, por exemplo.

Do Carmo voltou a reforçar: “É importante dizer que existe esse biobanco, que ele é parte de uma universidade pública, de uma proposta para disponibilizar esse serviço de uma forma gratuita e realizar pesquisas sobre o tema. Muitos desconhecem que Juiz de Fora está na vanguarda das pesquisas sobre células-tronco, e que nossa intenção é ser um Centro de Terapia Celular, fazendo parte de uma rede nacional para, com isso, avançarmos cada vez mais.”

A ciência da música
Dos bardos medievais, que tocavam nas tabernas em troca de moedas e cerveja, às rodas de samba nas portas dos botecos, música e bares sempre tiveram uma relação sólida. Homenageando essa parceria, o segundo dia do Pint of Science trouxe os pesquisadores Dimitri Fernandes – do Instituto de Ciências Humanas da UFJF – e Shirlene Moreira – doutoranda em Psicologia – para o Brauhaus Zeppelin.

Durante a conversa temperada com chope, os professores abordaram o potencial terapêutico da música e seus efeitos neurológicos nos ouvintes, além da construção social das preferências por diferentes gêneros musicais. Conforme Fernandes, o gosto está associado a diversos fatores culturais, podendo variar de acordo com a classe econômica, a localização geográfica, e com o grupo social em que o ouvinte se enquadra.

A estudante de Letras da UFJF, Marcela Gonçalves, acredita na força do ambiente para transformar as discussões. “Achei muito interessante trazer essa discussão para um lugar que não seja acadêmico. O público também não é aquele que está dentro da Universidade, o que eu acho muito legal. Mas é, também, problemático, já que a parcela da população que acredita que a universidade é uma bolha por não sair de seus muros, não está aqui para ver isso”, avalia a graduanda.

Já a estudante de Nutrição da UFJF, Tuane Reis, se interessou principalmente pela forma como o tema foi apresentado. “Música é um assunto muito acessível, lidamos com ela no dia a dia. Hoje, a Academia nos trouxe como ela funciona e nos influencia, de forma palpável ao entendimento”, comentou.

Religião e terrorismo: existe relação?
Já no bar Arteria, dois pesquisadores da UFJF discutiram o terrorismo em seus diversos aspectos: Maria Cecília Simões e Vicente dos Santos Pinto, da Ciência da Religião e Geografia, respectivamente. De imediato, os convidados responderam a questão levantada pelo título do próprio painel: “religião e terrorismo: existe relação?”. Segundo eles, terrorismo pode ser muito mais associado à política do que à religião.

Iniciando o evento, Vicente dos Santos Pinto explicou o terrorismo em quatro perspectivas: como um fenômeno complexo; como algo sem uma definição neutra; sob os olhares geopolíticos, que mudam de acordo com o período local; e por fim, sob a ótica da globalização. Contextualizando com a temática de Maria Cecília, o pesquisador trabalhou com a questão geopolítica dos locais demarcados e enfatizou que muitos desses ataques são feitos contra um aspecto hegemônico da região. Em uma das perguntas respondidas ao público, o professor frisou que é de muita importância nos questionarmos quais são as formas que o terrorismo pode tomar, refletindo além dos ataques físicos e observando os meios de disseminação de informações atualmente.

Já Maria Cecília compartilhou com o público a contextualização histórica do Islã com o terrorismo. “A grande maioria de vítimas de terrorismo são muçulmanos, de acordo com a ONU. As pessoas americanas, francesas e espanholas que foram vítimas destes atentados correspondem de 2 a 3% dos números de vítimas muçulmanas. Esses outros 98% pouco são retratados.” Maria Cecília acredita que este cenário se deve à questão da narrativa que é criada sobre o assunto e um empoderamento causado por elementos políticos, e não religiosos, de algumas nações.