Festival internacional vai até quarta-feira, 16, com eventos simultâneos nos bares Arteria, Na Garganta e Brauhaus Zeppelin (Foto: Iago de Medeiros)

Festival internacional vai até quarta-feira, 16, com eventos simultâneos nos bares Arteria, Na Garganta e Brauhaus Zeppelin (Foto: Iago de Medeiros)

O primeiro dia do Pint of Science de Juiz de Fora foi marcado pelo diálogo, pela vontade e pela disposição em ouvir diferentes pontos de vista sobre assuntos notoriamente populares. Ancorados pelo rigor do método científico, os bate-papos contaram com a leveza e descontração típica dos bares, ambientes tão queridos pelos mineiros. Mais de 350 pessoas saíram de suas casa na noite desta segunda, 14, para ouvir sobre a loucura, drogas e fake news. O evento vai até quarta, 17, com eventos simultâneos nos bares: Arteria, Na Garganta e Brauhaus Zeppelin. Clique aqui para conferir a programação.

A comunicação internet na era da pós-verdade
Paulo Roberto Leal, pesquisador da Faculdade de Comunicação (Facom), e Fábio Fortes, da Faculdade de Letras – ambos da UFJF – falaram sobre fake news e o debate público na era da pós-verdade. Apoiando-se nos textos de Platão, Fortes explicou que a linguagem é quase sempre incapaz de representar integralmente a realidade e que escrever sobre algo raramente é prova de dominar esse tema.

Já Leal argumentou que, mesmo frequentemente associadas às notícias evidentemente falsas que circulam nos grupos de WhatsApp, vindas de fontes duvidosas, as fake news também estão presentes nos grandes meios de comunicação. Indo ao encontro da fala de Fortes, o professor explicou que as inverdades (mal-intencionadas ou não) vem da ausência de pontos de vista diversos.

Ao fim de suas exposições, os professores ressaltaram que o caminho mais certeiro para a verdade se encontra no diálogo franco entre pessoas com opiniões que, por vezes, são radicalmente divergentes, desde que exista entre elas o desejo de buscar essa verdade. Durante a conversa com os ouvintes, foi debatido o papel da tecnologia na criação desse problema (e seu potencial para resolvê-lo), democratização da mídia e como lidar com discursos intolerantes.

Júlia Garcia, estudante de jornalismo da UFJF, comentou sobre a importância dessa conversa de bar. “É a primeira vez que venho num evento desse tipo e, depois dessa noite, com certeza pretendo vir de novo, ainda nesta edição do Pint. É um ambiente mais descontraído, em que você não fica sentado ‘lá atrás’ só ouvindo, naquele esquema de palestra: você está com amigos, participando da conversa.”

Em casa cheia, o foco foi para pesquisadores e suas contribuições para o debate (Foto: Divulgação)

Em casa cheia, o foco foi para pesquisadores e suas contribuições para o debate (Foto: Divulgação)

“Drogas – um bate papo multidisciplinar”
Como em uma boa conversa de bar feita com os amigos, as pessoas que compareceram ao Bar Arteria – Fábrica de Cultura, no primeiro dia do evento, participaram do debate gerado pelo painel intitulado “Drogas – um bate papo multidisciplinar”, comandado pelos pesquisadores Telmo Ronzani e Leonardo Martins.

Martins iniciou a conversa explicando como agem as drogas e como é causada a dependência química. Já Ronzani focou sua apresentação nas questões sócio-históricas das drogas, dando ênfase em diversas substâncias que usamos — mas não são problematizadas.

A professora de psicologia, Andréia Stenner, que levou uma turma de alunos ao evento, ressaltou a importância de abordar temas complexos em conversas, segundo ela, “mais informais, abertas, joviais, em um ambiente com espaço de troca”. Andréia definiu a experiência como um “aprendizado mútuo, diferente do espaço acadêmico”. Entre as questões finais levantadas pelo público, após a fala de ambos, os pesquisadores falaram, principalmente, sobre a questão da legalização das drogas.

A “loucura” na sociedade
Foi de casa cheia que o Na Garganta – Culture Pub recebeu a pesquisadora e psicóloga Rita Almeida e a jornalista Daniela Arbex. Ambas protagonizaram o debate sobre a “loucura” na sociedade.  Em um ambiente que não lembra em nada as dependências acadêmicas, onde tradicionalmente se discute assuntos científicos, temas como a atual medicalização da vida e o tratamento desumano dado às vítimas do “Holocausto brasileiro” puderam ser discutidos e apresentados a um público diversificado.

“O contato com o público que a literatura me proporcionou, me ensinou que é uma delícia estar perto de gente. Essa foi a primeira vez que me apresentei em um bar e, sinceramente, me senti muito acolhida”, comemora a jornalista. Para Rita, a descontração no local e a espontaneidade são facilitadores de uma boa exposição. “Foi uma apresentação mais descontraída, tentei descolar um pouco da fala acadêmica que é muito hermética. A descontração impacta também nas perguntas do público que são feitas de forma mais espontânea”, pontua a pesquisadora.

O evento Pint of Science
O evento mundial de divulgação científica vai até esta quarta-feira, 16. São 21 países participantes, sendo 56 cidades no Brasil, incluindo Juiz de Fora. A programação completa pode ser conferida no site do evento ou no facebook.