O município de Governador Valadares ocupa a quinta colocação no ranking de cidades mineiras mais violentas para as mulheres. Tal cenário corroborou para a realização do I Encontro de Fortalecimento da Rede Protetiva das Mulheres em Situação de Violência, promovido pelo Projeto de Extensão em Interface com a Pesquisa “Cultura e identidade de gênero: Agentes Comunitárias de Saúde e o enfrentamento da violência contra a mulher”.

Evento, promovido pelo projeto de Extensão "Cultura e Identidade de Gênero: Agentes Comunitárias de Saúde e o enfrentamento da violência contra a mulher", debateu papel das agentes no combate à violência contra a mulher (Foto: Dante Rodrigues/UFJF-GV)

Evento, promovido pelo projeto de Extensão “Cultura e Identidade de Gênero: Agentes Comunitárias de Saúde e o enfrentamento da violência contra a mulher”, debateu papel das agentes no combate à violência contra a mulher (Foto: Dante Rodrigues/UFJF-GV)

O evento realizado nesta sexta-feira, 23, reuniu cerca de 60 agentes comunitárias de Saúde lotados na Secretaria Municipal de Saúde de Governador Valadares, que atuam nos bairros Santa Rita, Altinópolis e Turmalina, regiões com maior número de notificações de violência contra as mulheres.

Segundo Juliana Goulart, professora do Departamento de Administração da UFJF-GV e coordenadora do projeto, as agentes comunitárias de Saúde são fundamentais para fomentar a discussão e os questionamentos sobre padrões culturais machistas que sustentam a violência contra a mulher. “As agentes, em sua maioria, são do sexo feminino. São elas as mediadoras entre a população e as unidades de Saúde. Elas residem na comunidade em que trabalham, o que favorece a criação de vínculo de confiança com os moradores que atendem, e, por isso, possuem maiores condições de identificar os casos de violência contra a mulher no espaço doméstico, e até fora dele, em suas visitas domiciliares”.

Opinião compartilhada pela juíza da 2ª Vara Criminal de Governador Valadares, Solange de Borba Reimberg, durante conversa com as agentes. “Vocês são os nossos olhos. O Judiciário precisa estar com as agentes, pois são vocês que entram na casa das pessoas. Vocês podem perceber sinais que indicam violência”.

Já a promotora de Justiça, Carla Regina Goulart Solaro, reforçou que é necessário acolher as vítimas de violência doméstica. “Temos que ter paciência, um olhar acolhedor. Às vezes, a vítima pode mudar a versão dos fatos por medo ou por uma outra série de fatores. Temos que ter empatia e nos colocarmos no lugar da vítima”. A delegada da Delegacia da Mulher de Governador Valadares, Adelina Xavier, acrescentou que é muito comum a vítima desistir da denúncia. “Geralmente existe uma grande dependência em relação ao companheiro, sobretudo financeira”.

Além da violência contra as mulheres, o evento discutiu dados da Organização Mundial da Saúde que comprovam a desigualdade de gênero: mulheres chegam a gastar até 90% de sua renda com a família, enquanto, entre os homens, o gasto fica em torno de 30 a 40%; em média, mulheres ganham 23% a menos do que os homens; e participam menos da política. “No Brasil, por exemplo, somos maioria do eleitorado, mas temos poucas representantes na política. Precisamos resolver estas desigualdades através de um movimento de mulheres unidas que buscam seus direitos”, destacou a estudante Andressa Dutra, do décimo período do curso de Direito.

Também participaram do evento o professor do Departamento de Administração e vice-coordenador do projeto, Renato Antônio de Almeida; a professora do Departamento de Medicina, Viviane Helena de França; e os estudantes Daniel Paulino, do sétimo período de Direito; e Ana Cláudia Ferreira, do quarto período de Medicina.