Ildeu de Castro Moreira foi uma das maiores inspirações para o Centro de Ciências da UFJF (Foto: Alexandre Dornelas)

Ildeu de Castro Moreira foi uma das maiores inspirações para o Centro de Ciências da UFJF (Foto: Alexandre Dornelas)

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) recebeu, nessa sexta-feira (16), a visita do professor Ildeu de Castro Moreira — presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) –, que compareceu à inauguração do Planetário do Centro de Ciências da UFJFPesquisador premiado por seu trabalho como divulgador da ciência, Moreira aproveitou a ocasião para reunir-se com os coordenadores dos programas de Pós-graduação da Universidade.

Durante esta entrevista, o professor ressaltou a importância de iniciativas como o Planetário no atual contexto de escassez de recursos para a ciência e para o ensino público, além de compartilhar as atividades mais recentes do SBPC para a manutenção da pesquisa no país e a necessidade da divulgação científica como um compromisso institucional.

UFJF – Como você antecipa o impacto do Planetário para Juiz de Fora, nos seus potenciais benefícios para a educação básica e para o incentivo da prática científica?

Moreira – No mundo inteiro, crianças e jovens ficam muito mobilizados com planetários, porque são instrumentos que ajudam a mostrar vocações, a mostrar sobre o Universo e sobre o mundo. Tudo isso contribui para a educação, renovando e melhorando o nosso ensino escolar, às vezes muito seco, muito árido.

Essa iniciativa do Planetário da UFJF é uma oportunidade de realizar essa renovação, permitindo que as pessoas exercitem sua curiosidade sobre o mundo, que é o cerne da ciência. Mais do que eu posso falar agora, as pessoas vão ver esse impacto nos próximos meses e nos próximos anos.

Como você imagina que os professores, em sala de aula, podem dar continuidade a essa experiência iniciada no Planetário?

Esse retorno para a escola pode ser muito aproveitado como um instrumento de melhoria das aulas, tornando-as mais interessantes e mais curiosas. Com a visita ao Planetário, as crianças saem cheias de interrogações e um papel importante dos professores é estimular e atender essas questões.

Todos os professores, de todas as áreas, podem se aproveitar muito do espaço do Planetário para, a partir dele, gerar novas discussões e novos tipos de atividade, com um interesse renovado.

Qual o foco do trabalho da SBPC para fomentar a divulgação científica? Dialogar diretamente com os estudantes, incentivar a comunidade acadêmica e seus pesquisadores?

Dentro do SBPC, nós temos essa luta mais ampla para a garantia de recursos para a ciência e tecnologia e, também, para a divulgação e educação científica. Além de trabalhar junto aos órgãos de fomento para a criação de editais que estimulem essas áreas e formem pessoas qualificadas.

Em um outro âmbito, nós realizamos reuniões anuais — que envolvem uma ordem de 15 mil pessoas a cada edição –, quando debatemos todos os temas da ciência, de maneira interdisciplinar, agregando pesquisadores locais e nacionais. Promovemos mini-cursos, conferências, palestras, encontros, atividades de exposição dos museus de ciência. Esses grandes eventos de divulgação da ciência também tem um impacto grande nas regiões onde ocorrem.

Nós também publicamos a revista Ciência e Cultura e organizamos projetos em vários estados do Brasil, levando pesquisadores às escolas. Então, a SBPC tem uma tradição de realizar diversas iniciativas de divulgação científica. Certamente, gostaríamos de realizar mais e também incentivar que as Universidades façam mais.

Falando sobre sua própria atuação, você tem uma produção de pesquisa considerável e uma atuação na divulgação científica igualmente intensa. Quais são os desafios em conciliar essas duas atividades?

Isso depende, obviamente, das pessoas. Eu sempre tive interesse pela divulgação científica: no Rio de Janeiro, ajudei a criar um dos primeiros museus interativos do Ciência Viva; fui, por muitos anos, editor da Ciência Hoje; depois, no MCT, coordenei essa área da popularização da Ciência, quando criamos a Semana Nacional da Ciência e Tecnologia, além de diversos projetos para apoiar museus de Ciência.

Então, essa é uma atividade na qual já estou imerso. Não significa que todo pesquisador tenha que abordar todas essas questões; as pessoas têm interesses e vocações diversas. Portanto, eu não acho que todo pesquisador deve ser “obrigado” a fazer divulgação científica. A instituição, sim, tem que ter essa preocupação: de realizar esse trabalho nas escolas, de criar estímulos para que aqueles professores interessados façam isso, de criarem espaços como o Centro de Ciências e o Planetário.

Essas iniciativas são importantes, tanto na escala local quanto na escala nacional.