mestrado geografia

Mara Linda da Trindade Faria defendeu a dissertação “Soberania Alimentar na Comunidade Quilombola de Colônia do Paiol: entre a Cultura Local e Global”, no Instituto de Ciências Humanas da UFJF (foto: Fayne Ferrari/UFJF)

A reflexão acerca do processo de distanciamento do homem para com a terra e o entendimento de como este fato tem contribuído para a perda da soberania alimentar dos moradores de uma comunidade quilombola é um dos principais objetivos da dissertação de mestrado da acadêmica Mara Linda da Trindade Faria, do Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Neste sentido, Mara também estudou como o processo de globalização, dentre outros acontecimentos de cunho histórico, ajudaram a configurar um novo padrão de alimentação da comunidade.

No contexto analisado, foi importante, da mesma forma, compreender por quais meios a cultura global tem interferido nos valores sociais deste grupo de pessoas. A pesquisa foi feita na Comunidade do Paiol, reconhecida pela Fundação Palmares como Comunidade Remanescente Quilombola e pertencente ao município de Bias Fortes, na Zona da Mata mineira. Segundo a acadêmica, o interesse pelo tema estudado surgiu a partir de um projeto na graduação realizado em 2014. “Neste ano foram realizados muitos campos na comunidade e a relação entre estudantes e moradores se estreitou proporcionando um clima fraterno e favorável à pesquisa, uma vez que houve uma prazerosa troca de saberes entre os envolvidos. Com o desejo de aprofundar o estudo, compreender melhor as questões alimentares na comunidade e resistir a determinados processos ocorridos há décadas em nossa sociedade, que justifico esta dissertação.”

Para desenvolver a pesquisa, Mara Faria buscou conhecer os quintais e os moradores, estreitar relações, participar da rotina da comunidade e fazer um mapeamento produtivo dos referidos quintais. Desta forma,  foi possível identificar os potenciais de cada quintal, os problemas e as expectativas das pessoas em relação à comercialização dos produtos. “Caminhando pela propriedade, passo esse estritamente importante para os levantamentos, conseguíamos perceber os pequenos cultivos, porém nos deparávamos também com embalagens diversificadas espaçadas pelos quintais, ou seja, ao mesmo tempo em que os quintais expressavam a relação que a comunidade ainda tem com a terra, a mesma também denunciava a introdução de novos hábitos alimentares de forma bem significativa.”

A partir dessas observações, a mestranda se propôs a fazer um diagnóstico participativo da situação alimentar na comunidade em três momentos: em seu passado, presente e futuro. “Para isso utilizamos como ferramenta a Cartografia Social. Esta serve para construir o conhecimento de maneira coletiva, aproximando as pessoas de seu espaço geográfico, socioeconômico e histórico-cultural. Ao interligar essas informações à história de formação da comunidade, pudemos compreender a soberania alimentar nos três momentos propostos e diagnosticar como a cultura global estaria adentrando à comunidade, trazendo consigo essas transformações na forma de se alimentarem.”

De acordo com a mestranda, através da pesquisa foi possível compreender que as fontes de obtenção dos alimentos são os quintais, para aqueles de procedência local. Para aqueles outros de procedência industrial e não agroecológicos, as formas de aquisição se dão por meio de caminhões que vão até à comunidade, pelos mercados das cidades vizinhas, além dos botequins que funcionam na região como uma espécie de armazém.

Para o professor orientador, Leonardo Carneiro, a pesquisa permite compreender tensões territoriais existentes e nos leva a pensar sobre o papel que o Estado e a sociedade, como um todo, tem dispensado às populações tradicionais no Brasil. “Não obstante, ela também nos permite exemplificar os atuais processos de dominação da lógica do capitalismo global sobre a sociedade, porém também nos permite compreender os processos de resistência das comunidades quilombolas, aliadas às correntes da agroecologia”.

Contatos:
Mara Linda da Trindade Faria (mestranda)
mara_bruma@hotmail.com

Leonardo de Oliveira Carneiro (orientador – UFJF)
leo.ufjf@gmail.com

Banca examinadora:
Prof. Dr. Leonardo de Oliveira Carneiro (UFJF)
Prof. Dr. Francisco de Assis Penteado Mazetto (UFJF)
Profª. Drª. Marilda Teles Maracci (UFV)

Outras Informações: (32) 2102-3102 – Programa de Pós-Graduação em Geografia