o lacre

Material conta com ensaio fotográfico, entrevistas e reportagens produzidas por alunos da Facom (Foto: Armando Júnior)

Buscando reconhecer, registrar e relatar a realidade vivenciada pela população negra LGBT na Universidade, alunos da Faculdade de Jornalismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) desenvolveram a revista “O Lacre”. Por meio de entrevistas, reportagens e diversos conteúdos, Armando Júnior e Leandro Barbosa procuraram dar voz a essa comunidade, com o intuito de denunciar preconceitos e violências sofridas por ela. O lançamento da revista ocorre no próximo dia 22, às 9h, no Anfiteatro da Faculdade de Comunicação (Facom) da UFJF. Além da apresentação do produto final, o evento aberto ao público conta com uma roda de conversa sobre “Negritude e Masculinidades”.

Para abordar o tema, foram reunidos um ensaio fotográfico, entrevistas e reportagens produzidas pelos alunos, assim como crônicas, artigos e textos enviados por convidados. Todo o material foi elaborado a partir de estudantes, professores e técnicos-administrativos da UFJF. Os estudantes do sétimo período contam que a ideia surgiu durante uma reportagem desenvolvida para a disciplina Técnica de Produção em Impresso, mas logo ganhou outras proporções, devido à relevância e à necessidade de debater sobre o tema.

“É importante levantar essa discussão, uma vez que estamos falando de uma parcela da população que ainda sofre preconceitos. Os negros sofrem violências diárias na sociedade como um todo. Quando cruzamos essa identidade com os LGBTs, isso se torna ainda pior. Precisamos discutir essas questões sempre, para que esses dilemas não sejam naturalizados”, percebe Armando Júnior.

A escassez de debates sobre a questão racial dentro do movimento LGBT também motivou a produção do conteúdo. “O movimento negro ainda é muito pautado pela heterossexualidade. Portanto, falar de gays negros é dar visibilidade a um assunto que pouca gente questiona. Existimos e queremos deixar de ser estatística de violência para termos representatividade de fato”, declara Leandro Barbosa. O aluno ressalta ainda como a publicação pode servir de inspiração para que a luta continue. “A cada depoimento, nos percebemos nas histórias dessas pessoas. Nossa luta, militância e resistência precisam ser levadas para fora dos muros da academia, para que outras pessoas possam ser empoderadas, emancipadas e fortalecidas.”

A professora orientadora do trabalho, Marise Baesso Tristão, entende que o assunto merece mais espaço e que é preciso dar atenção à causa de minorias dentro do ambiente acadêmico. “Abraçar projetos como o da revista ‘O Lacre’ é dizer sim a políticas afirmativas e tentar dar voz a quem não tem tanto espaço para falar de suas causas. Isso é importante, principalmente, diante de um momento difícil em que estamos vivendo no país, entendendo que até mesmo o acesso destas minorias à educação pública de qualidade está ameaçada.”

Destacando o ambiente universitário, o diretor de Ações Afirmativas da UFJF, Julvan Moreira de Oliveira, considera que a construção de uma sociedade democrática deve passar pela inclusão dos grupos em questão. “A Universidade é feita de pessoas de diversos movimentos sociais, entre eles, LGBTs e negros, que constroem suas identidades, remetendo a diversas expressões culturais, políticas e educativas. A atuação se materializa em nossas atividades de pesquisa, ensino e extensão. São essas novas ações descobertas, fortalecidas e produzidas que fazem a Universidade construir novas possibilidades em defesa dos direitos humanos e ampliar a diversidade em nosso espaço.

Outras informações: Página do evento de lançamento no Facebook