Mesa integrou o Seminário sobre Troca de Saberes e Extensão Universitária, nesta sexta-feira, 27 (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Mesa integrou o Seminário sobre Troca de Saberes e Extensão Universitária, nesta sexta-feira, 27 (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Quatro professores convidados da mesa-redonda sobre “Educação Popular, Troca de Saberes e Inclusão Social na Extensão Universitária” relataram suas experiências em práticas extensionistas, que vão além da difusão do conhecimento produzido na Universidade, mas que se pautam em práticas comunicativas e plurais para que a troca de saberes seja horizontal. A mesa integrou o Seminário sobre Troca de Saberes e Extensão Universitária e ocorreu na manhã desta sexta-feira, 27, no Anfiteatro da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

O encontro teve início com um rezo feito pela índia Mayô, da tribo Pataxó, em homenagem a Uatu, entidade que protege as águas do Rio Doce. Ela pediu que as instituições de ensino respeitem mais a sabedoria popular indígena. “Nosso rezo é uma ciência tão sagrada quanto a de vocês, temos muito a ensinar para a Universidade, basta vocês nos perguntarem, pois estamos dispostos a um intercâmbio de saberes, contanto que nossa cultura seja preservada.”

Em seguida a professora de Linguagens da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Christianne Rochebois, apresentou a dinâmica da instituição, localizada em uma região marcada pelo turismo, mas que também abriga inúmeras reservas indígenas e quilombolas. “O aprendizado lá é gigantesco, porque nosso cotidiano é predominantemente com grupos étnicos minoritários. Temos uma política de cotas mais ampla do que as outras federais, para que esses grupos sejam os protagonistas da instituição.” Na UFSB, um dos projetos coordenados por Christianne é o “Histórias de Vida”, no qual os estudantes produzem documentários sobre personagens de seu cotidiano, e avaliam como a Universidade participa da vida deles.

A professora da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Deise Moura de Oliveira, destacou que as instituições de ensino superior precisam se especializar na formação cidadã e que isso só será possível caso a academia dialogue com a comunidade externa. “A extensão é o espaço real e este espaço é pouco explorado dentro do ensino superior. Valoriza-se a produção de ciência feita por métodos positivistas, mas há uma inferiorização da que é produzida com base na vivência dos sujeitos.”

Edilson Vicente de Lima, professor de História da Música na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), chamou atenção para o fato de que, muitas vezes, a extensão assume apenas um fluxo: “As Pró-Reitorias de Extensão (Proex) veem a extensão como uma porta de saída do conhecimento. E as sabedorias populares a transformam em uma janela para conseguirem entrar nas Universidades e conversarem com a gente.”

Retomando as falas de seus companheiros de mesa, Reinaldo Duque Brasil, professor do Instituto de Ciências da Vida da UFJF no campus de Governador Valadares, propôs uma reflexão sobre qual é a inclusão social que está sendo feita pelas instituições de ensino. “Cada grupo social tem uma forma de organizar seu conhecimento, então por que sistematizá-lo tão rigidamente? É preciso reconfigurar os espaços de ensino, aprender novas formas de narrativas, para sairmos da bolha e abrir a janela mencionada pelo professor Edilson.” Junto com Mayô Pataxó, ele apresentou o projeto Roda de Terapias Tradicionais que é realizado no campus GV, no qual vários mestres e curandeiros de múltiplas sabedorias populares se reúnem para um intercâmbio cultural.

A pró-reitora de Extensão da UFJF, Ana Lívia Coimbra, elogiou todos os componentes da mesa por seus projetos, enfatizando que a realização de práticas extensionistas que não sejam apenas difusionistas é um desafio. “Precisamos de uma Universidade que não tenha barreiras, para construirmos coletivamente o conhecimento. É urgente a demanda por ressignificação dos espaços institucionais, para que a pluralidade de sabedorias faça parte deles e essa ressignificação só pode ser feita com diálogo”, finalizou a pró-reitora.

O “Seminário: Educação Popular, Inclusão Social e Troca de Saberes na Extensão Universitária” foi realizado nos dias 26 e 27, e reuniu representantes de três áreas temáticas: Meio Ambiente, Saúde e Educação.