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Professor José Roberto Heloani fala na UFJF na próxima terça, 17 (Foto: Divulgação/Unicamp)

O professor de psicologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), José Roberto Heloani, é o próximo convidado do ciclo de palestras sobre assédio e saúde no trabalho. O evento, realizado na UFJF, induz à reflexão sobre a construção de relações saudáveis de trabalho e reforça o compromisso em coibir ações que caracterizem assédio ou violência no contexto universitário.

A nova edição do Ciclo ocorre na próxima terça, 17, no Anfiteatro das Pró-reitorias, no prédio da Reitoria, com entrada  franca e inscrição na hora do evento. O professor abordará os “Desafios no contexto universitário no enfrentamento do assédio”.

Em entrevista ao Portal da UFJF, Heloani, que é considerado referência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia, Saúde e Psicodinâmica do Trabalho destaca a importância de se ter uma boa relação e vivência no espaço de trabalho, considerando que não é possível ter uma vida saudável, quando a pessoa se sente desprezada, humilhada ou assediada durante seu ofício.

O pesquisador aconselha as vítimas deste tipo de abuso a se manterem bem psicologicamente, procurarem refúgio com amigos e familiares, evitarem o isolamento e buscarem ajuda de autoridades, caso seja necessário.

Portal da UFJF: Como devem ser as relações humanas e as questões de bem-estar no ambiente de trabalho e ensino?
José Heloani: O grande problema atual, mediante as relações laborais, é que o ambiente de trabalho se tornou um ambiente de solidão. Milhares de pessoas trabalham juntas, mas se sentem sozinhas. Temos números significativos de pessoas que querem se suicidar ou que se suicidam por causa dessas questões. Essa é uma realidade que nos deixa extremamente preocupados, ainda mais agora com as novas reformas trabalhista e da previdência. Elas farão que nós tenhamos um grupo de pessoas sem perspectiva de aposentadoria no tempo almejado. De repente, esse tempo dobra, e teremos pessoas com frustrações mentais, que se sentem desestruturadas, vivem com a impressão de que possuem um sofrimento que não acaba mais. Outra questão está relacionada à lógica da competição: ela faz com que as pessoas tenham fantasias de ascensão e status conquistados rapidamente. Esses são apontamentos de uma violência simbólica, que parte para o físico, como, por exemplo, quando vemos as pessoas usando drogas e medicações para ficarem acordadas, ou ao notarmos jovens usando medicamentos que anteriormente eram voltados apenas para idosos. A falta de reconhecimento do esforço dos colaboradores pela empresa faz com que se naturalizem certas formas de violência. Não é à toa que o assédio moral tornou-se algo comum. É uma forma de organização do trabalho que privilegia a produção, em detrimento do ser humano. Quando se tem uma fórmula pela qual que se pensa apenas no resultado, esquecemos que o processo é realizado por pessoas.

Como melhorar as relações interpessoais dentro das instituições de ensino e trabalho?
Temos dois caminhos complementares. O primeiro deles é de ordem coletiva, que mostra politicamente que essa maneira de trabalho focado na produção não é a melhor forma de se trabalhar. Esse conceito deve ser trabalhado e realizado nas escolas, universidades, clubes e em todos os lugares; tem que ser discutido que o trabalho não é só de técnica, mas uma questão humana e coletiva. O segundo deles diz respeito à microesfera. É a maneira de conceituar que cada um de nós pode fazer a sua parte, mesmo que os resultados não aconteçam imediatamente. Eu posso, sim, tentar mudar a lógica da competição e trocá-la pela da colaboração. Quando você ensina a sinceridade e a solidariedade, as pessoas se desarmam. Só isso não basta, mas ajuda até na própria sanidade mental. Vale a pena investir nas pessoas que estão ao nosso lado.

Qual orientação deve ser passada para as vítimas de assédio dentro do contexto de ensino e trabalho?
As pessoas que passam por essas situações cometem erros quando se retraem, omitem ou se isolam. Isso é tudo o que não deve ser feito. É preciso denunciar, contar para os amigos de verdade o que está acontecendo, para que eles ajudem a distinguir o que, de fato, está acontecendo, pois, às vezes, não conseguimos perceber a gravidade da situação. É necessário também apoiar-se nos familiares e recorrer à justiça para denunciar a discriminação, qualquer que seja. A pessoa deprimida pode acabar chegando ao suicídio. Em resumo, o passos são: não se isolar; procurar amigos e familiares; sindicado e apoio psicoterápico. As empresas, muitas vezes, praticam desrespeito aos seus colaboradores para que eles se sintam oprimidos e peçam demissão. Elas não se importam em ocultar essas questões para cultivar sua própria imagem. Então, é preciso estar preparado emocionalmente, psicologicamente e juridicamente. É sempre bom fazer um dossiê, tipo uma agenda, que descreva minuciosamente tudo o que for vivido. Pois, se for preciso chegar a um juiz, ele terá certeza das suas motivações. Não podemos permitir que isso pareça normal, essas relações abusivas são bárbaras. Todos temos o direito de trabalhar em um lugar saudável. Não devemos permitir que nossos colegas passem por esse tipo de situação, pois se acontece com eles, pode acontecer com a gente também.

Terceira atividade e próximo encontro
A palestra faz parte do Ciclo de Debates organizado pelas pró-reitorias de Gestão de Pessoas (Progepe) e de Assistência Estudantil (Proae), pelas ouvidorias Especializada em Ações Afirmativas e Geral da UFJF, e diretorias de Ações Afirmativas (Diaaf) e de Imagem Institucional.

O último encontro do ciclo de debates está programado para o dia 23 de novembro, às 9h, no Anfiteatro de Estudos Sociais. Na oportunidade, a UFJF receberá o professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Leonardo Barbosa, com a palestra “O universo discente e as suas relações no contexto universitário.”

Outras informações:
(32) 2102-3930 – Pró-reitoria de Gestão de Pessoas
(32) 2102-6919 – Diretoria de Ações Afirmativas