Frederico Pittela: "É essencial que tenhamos o apoio não só de pacientes e profissionais relacionados com a temática, mas da comunidade toda, para que pesquisas como esta possam continuar a ser feitas" (Foto: Twin Alvarenga)

Frederico Pittela: “É essencial que tenhamos o apoio não só de pacientes e profissionais relacionados com a temática, mas da comunidade toda, para que pesquisas como esta possam continuar a ser feitas” (Foto: Twin Alvarenga)

Neste mês, em apoio à campanha Outubro Rosa de prevenção ao câncer de mama, o Portal da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)  irá divulgar algumas das atividades desenvolvidas, pela instituição, que visam ao combate da doença. Uma das iniciativas está sob coordenação do professor do Departamento de Ciências Farmacêuticas, Frederico Pittella.

O docente, três graduandos em Farmácia e um mestrando em Ciências Biológicas da UFJF dedicam-se ao estudo dos genes expressos no câncer de mama. “O nosso objetivo é construir sequências complementares ao RNA de alguns desses genes, para que possamos silenciar os mesmos, através do efeito de RNA de interferência, para o tratamento da doença”, explica Pittella.

Em outras palavras,  RNA é a sigla para ácido ribonucleico, que é o responsável pela produção de proteínas em cada uma das células do nosso organismo.

“Depois da conclusão do Projeto Genoma, trabalho internacional de pesquisa científica para mapeamento genético, foram identificadas as sequências de proteínas super-expressas envolvidas com o câncer, ou seja, a quantidade de proteína produzida pela célula com câncer é diferente daquela cuja origem é uma célula normal. O que nós pretendemos no projeto ‘Otimização de sequências de short interfering RNA para terapia de câncer de mama e o desenvolvimento de nanocarregadores híbridos’ é criar um medicamento que iniba a produção dessas proteínas pelas células cancerígenas.”

Temos formado discentes de graduação e pós-graduação capazes de discutir com propriedade a temática do câncer de mama e propor soluções diagnósticas e terapêuticas

Para que o tratamento seja específico no tecido acometido pelo câncer, ou seja, para que a medicação não provoque efeitos adversos nas pacientes, Pittella ressalta a necessidade de nanopartículas, cujo tamanho situa-se entre 1 e 100 nanômetros. No caso desta pesquisa, as nanopartículas teriam a função de transportar o fármaco até as células afetadas pela doença. Um nanômetro (nm) equivale à bilionésima parte de um metro, isso significa ser mil vezes menor que um fio de cabelo.

“Nanotecnologia é a tecnologia que trabalha em escala nanométrica. É necessária a construção de nanopartículas para carregar o fármaco.  Essas ‘nanomáquinas’ vão viajar pelo corpo da paciente, identificar o tumor, e entregar o fármaco (nosso RNA de interferência) exatamente no tumor. É o que chamamos de sistema de entrega de fármacos, utilizando nanotecnologia.”

Os pesquisadores envolvidos na atividade estão baseados no Laboratório de Desenvolvimento de Sistemas Nanoestruturados (LDNano), na Faculdade de Farmácia, mas também utilizam os laboratórios  Integrado de Pesquisa e de Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), do Núcleo de Pesquisa e Inovação em Ciências da Saúde (Nupics) na UFJF, além do Laboratório de Nanotecnologia para Saúde e Produção Animal na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária de Juiz de Fora (Embrapa/JF),  dentre outros.

CNPq e Fapemig: a ciência ensina e pode salvar vidas

Pittella ressalta que o projeto foi efetivado após a liberação de linhas de financiamento em 2014. A pesquisa conta, atualmente, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).

“A ideia de trabalhar com o câncer de mama, no entanto, vem já há mais tempo. Precisamente, foi após o término do meu doutorado, no ano de 2011, em que entendi que poderia aplicar meu  conhecimento sobre câncer de pâncreas em doença que acomete maior número de pessoas, como o câncer de mama.  Então, um projeto inicial também coordenado por mim foi aprovado pelo CNPq em 2012, e realizado com sucesso na Universidade Federal de Santa Catarina,  instituição na qual atuei como pesquisador, antes de vir para UFJF em 2013.”

O professor explica que a utilização de novos medicamentos e terapias devem ser realizados apenas após os testes pré-clínicos (in vitro e in vivo) e clínicos (em humanos).  “O nosso projeto visa a levar a formulação proposta no limite das avaliações pré-clínicas. Dessa forma, para se tornar um medicamento e beneficiar os pacientes com câncer de mama, a mesma ainda deve ser criteriosamente avaliada nos testes clínicos, em humanos. Vale ressaltar que, até este momento, os principais beneficiados são os estudantes. Temos formado discentes de graduação e pós-graduação capazes de discutir com propriedade a temática do câncer de mama e propor soluções diagnósticas e terapêuticas, trazendo o foco para esta doença que acomete cada vez mais pessoas no Brasil e no mundo.”

Pittella acrescenta que projetos de pesquisa são os primeiros passos para o desenvolvimento de novos fármacos e novas terapias. “É essencial que tenhamos o apoio não só de pacientes e profissionais relacionados com a temática, mas da comunidade toda, para que pesquisas como esta possam continuar a ser feitas.”

Outras informações: frederico.pittella@ufjf.edu.br