O pesquisador Jorge Perrout explica que “o corpo humano respeita as leis da física, mas todos os seus componentes são biológicos". (Foto: Twin Alvarenga)

O pesquisador Jorge Perrout explica que “o corpo humano respeita as leis da física, mas todos os seus componentes são biológicos”. (Foto: Twin Alvarenga)

Com o tema  “A matemática está em tudo!”, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2017 incita importantes abordagens como a interdisciplinaridade das áreas de conhecimento. Um caso exemplar são as relações da matemática com a Educação Física. “O esporte é desempenho, quantificação de tempo, força, repetições, proporções, velocidade, ângulos de movimento, massa, aceleração. As mais diversas áreas do esporte envolvem conceitos e grandezas da matemática,” explica Jorge Perrout, professor de Medidas e Avaliação na Faculdade de Educação Física da UFJF.

No desenvolvimento das atividades físicas o uso da matemática se faz presente desde o primeiro momento, que consiste na aferição de medidas de um indivíduo com o intuito de evidenciar suas condições físicas. “A partir do registro das dimensões corporais é possível fazer o cálculo de alguns índices, como o IMC – Índice de massa corporal- e o percentual de gordura”, conta Perrout. Além de registrar as medidas do indivíduo, na avaliação são feitos testes referentes à suas capacidades cardiovasculares, respiratórias e de resistência física.  O professor explica que “ todas as medidas possuem parâmetros de comparação, sejam derivados de algum cálculo individual ou com base na comparação de tabelas com valores de referência”.

Os planos de atividade são individuais e devem respeitar características descritas na avaliação e também nos objetivos traçados. Em um treino de musculação, por exemplo, é necessário um cálculo preciso entre a resistência do atleta e o recomendável para seu biotipo. “Se a pessoa aguenta 80 kg no supino – levantamento de peso para membros superiores-  existe um manual de treino que recomenda que ele faça repetições com 80% da sua capacidade. Logo ele deve usar 64 kg neste aparelho, com um número ‘x’ de repetições. Com a ficha de valores iniciais conseguimos quantificar como deve ser a prática de exercícios de forma a alcançar objetivos sem prejudicar fisicamente o indivíduo” explica Perrout. Ainda durante a prática esportiva é importante que se faça o monitoramento da frequência cardíaca- número de batimentos por minuto- pois esse valor é diretamente proporcional ao esforço realizado. Quando feita a proporção entre as frequências máxima e mínima se obtém os valores ideais de carga e intensidade do treino.

Além do desempenho individual, voltado para saúde e bem estar, as atividades físicas também acontecem no âmbito profissional. Na prática esportiva com o objetivo de competições, os ajustes técnicos com os recursos numéricos têm ampla importância. “Nos esportes de rendimento, o que faz a diferença entre o segundo lugar e a medalha de ouro é a matemática”, acrescenta o professor de fisiologia do esporte Mateus Laterza. No caso do Atletismo, modalidade em que mínimos detalhes alteram drasticamente os resultados, os cálculos de distância, altura e ângulos dos movimentos são corriqueiros. “Na prática dos esportes nem sempre são feitos os cálculos propriamente ditos, mas os conceitos devem estar bem claros para que os movimentos sejam feitos de forma natural”, acrescenta. Nesse momento, o trabalho dos técnicos é fundamental: “O atleta tem a informação de autopercepção, quem está de fora vai fazer os ajustes para que ele possa assimilar e traduzir pra sua linguagem motora”, comenta Laterza.

Atualmente é comum que equipes esportivas tenham um analista de desempenho, que é especialista em Estatística. Os analistas são responsáveis por levantar passes e lances do time adversário para que a preparação das partidas seja potencializada de acordo com as características do oponente, aumentando as chances de uma vitória. “Como acontece nos times de futebol o analista passa para o goleiro que os batedores do time oposto costumam chutar a bola mais vezes para o lado direito do que para o esquerdo, então ele terá mais chances de defender se cair mais vezes para esse lado,” explica Perrout. Para registrar esses dados são utilizados recursos de tecnologia, como revisão de vídeos, rastreamento por GPS e até mesmo aparelhos que captam os movimentos através da temperatura corporal. “Não pode ser ignorado que também existe um componente humano, mesmo com todos os dados apresentados o jogador pode atribuir seus atos à sua intuição”, acrescenta.

Durante as partidas de futebol a matemática está presente. “Para fazer um passe é preciso calcular a força que deve ter o chute de acordo com o alcance esperado. Se for necessário que a bola tenha uma trajetória mais ‘curva’ o chute deve acontecer em determinado ângulo. Claro que durante a partida não são feitas as contas, mas os conceitos têm que estar bem fixos para os atletas”.

Assim como em todas as áreas de conhecimento, o ensino de um Educador Físico abrange diversas disciplinas. O professor Perrout explica que “o corpo humano respeita as leis da física, mas todos os seus componentes são biológicos. Trabalhamos de maneira integrada com as ciências biológicas, saúde, exatas e humanas. Olhando pelo lado humano, o indivíduo só pratica uma atividade física se estiver motivado e inserido em um contexto cultural, assim também utilizamos os recursos da psicologia e ciências sociais”. Durante a graduação, os alunos de Educação Física também estudam matérias como estatística e precisam de conhecimentos que os insiram nas tecnologias utilizadas nas modalidades esportivas.