“Só eu sei a história que carrego em minhas costas, a dor que sinto pela minha pele”. Assim teve início a apresentação do grupo Ruths, que abriu a roda de conversa “Negras Mulheres: Poder e (R)existência Frente a Velhos Ataques”, ocorrida às 20h desta sexta-feira, 15, no Anfiteatro do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora (ICH/UFJF).

O evento encerrou a “V Jornada de Ciências Sociais: Forma, Reforma, Deforma” e contou com a presença da diretora do Geledés Instituto da Mulher Negra, Suelaine Carneiro. A ativista trouxe duas pesquisas promovidas pelo Instituto, uma analisando socialmente a violência doméstica sofrida por mulheres negras. “As autoridades nos tratam como números, não se aprofundam em nossa realidade; por isso, buscamos relatos de mulheres que enfrentam violência, para compreender a verdadeira realidade em que elas vivem.”

Outro levantamento apresentado por Suelaine trouxe o volume de pesquisas feitas em pós-graduação sobre mulheres negras – e/ou produzidas por elas. De 1992 até 2016, foram publicados 84 projetos relacionados a este grupo. “O salto para as produções foi dado em 2003, quando iniciou uma preocupação com políticas sociais públicas, que aumentaram o enfrentamento ao racismo, à violência doméstica, às desigualdades. Mas a estrutura social não foi alterada; a mulher negra continua na base da pirâmide.”

Evento encerrou a “V Jornada de Ciências Sociais: Forma, Reforma, Deforma”.

Evento encerrou a “V Jornada de Ciências Sociais: Forma, Reforma, Deforma”.

 Em seguida, a supervisora do Departamento de Políticas para a Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos (DPCDH) da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Juiz de Fora e integrante do grupo Candaces, Giane Elisa Sales, manifestou seu repúdio aos ataques feitos aos terreiros de religiões de matrizes africanas, e destacou as relações que o racismo tem com o lema da Jornada. “Forma: o racismo no Brasil é uma questão ideológica, não é pontual; ele formou nossa estrutura social, histórica, cultural e econômica. Reforma: há infinitas estratégias de manutenção do racismo; colocam penduricalhos nele, mas, em essência, ele é o mesmo. Deformação: os impactos que este racismo provoca na identidade dos negros, a ponto de nos tornar um incômodo.”

Finalizando a roda de conversa, Fernanda Thomaz, professora de História da África na UFJF, propôs uma reflexão sobre o papel da mulher negra na Universidade e nos demais espaços da sociedade e expôs os argumentos utilizados para embasar o racismo: “Associam nossa aparência física ao nosso comportamento. Se aproveitam das diferenças biológicas para criar uma hierarquização de gêneros. Todos estes discursos racistas, sexistas, foram criados para subjugar os povos africanos e ganharam força, principalmente, no século XVIII, durante o Neocolonialismo e é escutado por nós até hoje.”

A “V Jornada de Ciências Sociais: Forma, Reforma, Deforma” aconteceu entre os dias 12 e 15 e foi organizada por estudantes da graduação e pós-graduação do ICH. Nela, foram realizados debates sobre a atual conjuntura nacional, sob a perspectiva das três grandes áreas que formam as Ciências Sociais: a Sociologia, a Antropologia e a Ciência Política.

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