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Ciência e religião são temas que se misturam? É essa a discussão promovida pela primeira edição do Chope com Ciência em Juiz de Fora, evento que incentiva a interação entre cientistas e o público em ambientes descontraídos, como bares e restaurantes. O encontro conta com a participação do professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Alexander Moreira-Almeida, e acontece no dia 22 de agosto, às 19h, na Fábrica de Cultura Arteria. A participação é gratuita.

Lucas Miranda, um dos organizadores, conta que o Chopp com Ciência é inspirado no Pint of Science, maior evento de divulgação científica do mundo. “O nosso objetivo com esse modelo é acessibilizar o conhecimento científico e nada melhor que um bar, que já é um ambiente naturalmente informal, para facilitar esse processo”, afirma.

Para o professor Alexander, a iniciativa também é uma forma de retorno, “a UFJF produz muito e temos que reunir esforços para que esse conhecimento chegue em quem financia, que é a comunidade. Por isso esse tipo de evento é tão importante”.

O professor conta que as discussões vão partir do questionamento: é possível e/ou desejável investigar cientificamente a espiritualidade/religião? “Existe uma visão de que a ciência e a religião são áreas que não se misturam, mas nas últimas décadas isso tem mudado com a tese da complexidade”, afirma. “Segundo essa ideia, a relação entre ciência e religião é muito complexa: elas podem estar sim em oposição, em conflito, mas também podem trabalhar de forma colaborativa ou até mesmo serem indiferentes. Tudo depende da situação”.

Para Alexander, esse panorama histórico de oposição é um dos desafios para quem trabalha na área. “Como a religião é metafísica, as pessoas têm dificuldade em enxergar como analisar de forma científica. Mas isso é possível”.

O professor acredita que o estudo da intercessão das duas áreas é muito importante. “A religiosidade tem papel relevante para grande parte da população mundial e, de forma geral, se expressa positivamente na resolução de problemas e dificuldades, por exemplo”, explica. “Então, é necessário entender essa conjuntura, até mesmo para formar melhor os profissionais que atuam na área de saúde”.

Além do panorama geral, ele também falará a respeito das metodologias científicas para o estudo da religião, principais achados das pesquisas na área, suas implicações práticas e o papel do Brasil no cenário mundial das pesquisas em espiritualidade e saúde.

Como a UFJF está inserida nesse contexto?

Alexander Moreira reforça a importância de  deixar o conhecimento científico ao alcance da comunidade.

Alexander Moreira reforça a importância de deixar o conhecimento científico ao alcance da comunidade.

Por meio do Nupes – Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde, grupo associado ao Programa de Pós-Graduação em Saúde da UFJF, os alunos têm a oportunidade de desenvolver pesquisas interdisciplinares sobre as relações entre espiritualidade e saúde.

Coordenado pelo professor Alexander, o Núcleo tem pesquisas reconhecidas e já encontrou relações importantes entre religião e saúde, como implicações na qualidade de vida, bem-estar, doenças mentais e expectativa de vida. “Em um estudo sobre transtorno bipolar, por exemplo, encontramos evidências de que o uso da religiosidade foi muito positivo: diminuiu de 3 a 4 vezes a depressão e aumentou a qualidade de vida dos pacientes”, afirma. “Mas para outra parte desse grupo, a religiosidade incentivava atitudes passivas e punitivas. Então, ainda existem muitos mecanismos que precisam ser entendidos para levar esse conhecimento para a prática clínica e treinar os profissionais da saúde para compreender esse panorama”. A pesquisa foi publicada na maior revista de estudos de bipolaridade, a Bipolar Disorder.

O professor também se destacou no Top Ten Cited pelo seu trabalho de revisão em religiosidade e saúde mental. O seu artigo foi o mais citado da história da Revista Brasileira de Psiquiatria, uma das mais importantes publicações científicas em toda a América Latina.

Sobre o evento

O Chope com Ciência pretende estimular a interação entre cientistas e o público dentro do bar, sem jargões ou qualquer formalidade. As apresentações de até 25 minutos sobre temas científicos variados e de interesse público acontecem entre rodadas de chopp e tira gostos. Após as exposições, serão reservados 90 minutos para participação do público com perguntas e contribuições sobre o assunto. A próxima edição está marcada para o dia 05 de setembro, no mesmo local com a participação do professor da UFJF, Fábio Prezoto, e o tema é “Fatos e boatos sobre Dengue, Zika e Chicungunya”.