Professor da UERJ lança o livro “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil” (Imagem: Reprodução)

Professor da UERJ lança o livro “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil” (Imagem: Reprodução)

Com o tema “A questão da democracia no Brasil de hoje” o Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) recebe a aula inaugural do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ) Felipe Demier. O evento ocorre nesta quinta-feira, 17, às 18h, no Auditório da Faculdade de Serviço Social da UFJF. Além da aula, a noite contará também com o lançamento do livro “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil” de autoria do professor.

Em sua palestra, Demier debaterá a democracia brasileira e o papel da universidade nela. “Em primeiro lugar, a gente deve conceber a academia como um espaço, nem neutro, portanto não isolado dos conflitos da sociedade brasileira, nem monolítico, como algo que expõe apenas uma visão. A universidade é, também, atravessada pelos conflitos de classe, sociais, e isso se expressa nas distintas posições teóricas, epistemológicas, científicas e, portanto, políticas, que têm lugar nela”, afirma o professor.

O pesquisador assume um posicionamento crítico com relação a atual conjuntura política do país. Para Demier, “a democracia, hoje, se converte, cada vez mais, num instrumento voltado para a retirada de direitos, voltada para a constituição de uma ferramenta política que consiga se tornar imune às pressões populares e aplicar medidas única a exclusivamente voltadas para os interesses da classe dominante”.

O livro “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil”, publicado pela Mauad Editora, é fruto das pesquisas desenvolvidas pelo autor desde 2012 e também trata do universo político brasileiro. “Tento narrar o processo político brasileiro, da transição conservadora, atingida pelas classes dominantes, para o regime democrático e a forma como esse regime assumiu um caráter blindado, que foi sendo desenvolvido desde as décadas de 1990 e 2000, na medida em que, cada vez mais, as possibilidades de representação das demandas populares por reformas e por direitos foram retiradas”, comenta. A obra estará a venda por R$ 30 no evento.

Na entrevista a seguir, Demier fala sobre o papel da academia na realidade democrática brasileira, dos movimentos de julho de 2013 e do conteúdo social da democracia.

De que forma a academia deve se debruçar sobre a atual realidade democrática no Brasil?

Felipe Demier: A universidade dá lugar a uma visão voltada para a reprodução da força do trabalho e da construção de um pensamento que justifique o status quo e, também, oferece a possibilidade de construção de um pensamento contra hegemônico, no qual eu e muitos outros colegas nos inserimos. A ideia é a de que você deve construir um pensamento crítico com relação à sociedade e a construção desse pensamento na realidade atual significa tomar partido, se expressar, verbalizar os interesses da maioria da população brasileira.

Neste sentido, a construção de um pensamento crítico é a construção de um pensamento contra hegemônico que, no atual cenário brasileiro significa, do ponto de vista dos trabalhadores, apontar, cada vez mais, os limites da democracia atual, que se torna crescentemente blindada em relação às pressões populares e que se apresenta como um arranjo político-institucional dirigida centralmente para a retirada dos direitos dos trabalhadores.

Com a crise política vivida pelo país, inúmeras discussões vêm sendo travadas, envolvendo posicionamentos calcados nas mais variadas ideologias. De que forma você enxerga essas disputas nas novas mídias, como as redes sociais?

Demier: Julho de 2013 fica marcado como um movimento de lutas por direitos sociais, ainda que isso não tenha sido feito de forma organizada, com as organizações dos trabalhadores e com uma clareza política do que se estava fazendo. Isso permitiu que as próprias classes dominantes, principalmente por meio da imprensa, disputassem os sentidos do Julho de 2013 e conseguissem encerrar o movimento, na medida em que os momentos finais das manifestações já apresentam conteúdo reivindicatório muito distinto do inicial, marcado por uma luta genérica, abstrata e moralista contra a corrupção, os políticos e os partidos.

Portanto, criou-se um caldo que, depois, numa conjuntura posterior, foi retomado com força a partir do segundo turno das eleições de 2014, quando começamos assistir, no Brasil, o crescimento de uma onda conservadora, que vai se expressar nos vários aspectos da vida social, tanto no âmbito da política econômica, na retirada de direitos, quanto no âmbito do acirramento da repressão contra os setores populares, mas também nas questões comportamentais, da vida privada. Este é um fenômeno que cresce e se desenvolve até hoje.

Contra essa onda conservadora há uma resposta, não na mesma altura, dos movimentos sociais, da classe trabalhadora, que tentam se organizar e se opor a isso. Esse cenário se expressa numa realidade de radicalização política, no qual o predomínio das ações está nas mãos dos setores dominantes. Há uma ofensiva burguesa contra os setores sociais, contra a proteção social e a nossa já fraca seguridade social, que é alvo de ataques desde os anos 1990 e que, hoje, atinge o seu ápice. E também há uma tentativa de resposta das classes trabalhadoras a isso.

Como as pesquisas na área do Serviço Social podem contribuir com o amadurecimento da democracia brasileira?

Demier: Não sei se trata-se, propriamente, de um amadurecimento da democracia, mas de entender o verdadeiro conteúdo social dela, em tempos de um capitalismo tardio, periférico e dependente, como o brasileiro, em momento de crise econômica.

Isso, em tempos de crise, significa uma tentativa de, celeremente, tirar direitos e, portanto, despir a democracia liberal, representativa, até mesmo de seus disfarces sociais, fazendo com que ela se apresente, claramente, como uma democracia do capital.

Outras informações: (32) 2102-3569 – Programa de Pós-graduação em Serviço Social