ópera no Theatro Central

Montagem exclusiva para o evento em Juiz de Fora foi considerada um marco na música antiga. (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Aplausos entusiasmados marcaram o encerramento do 28º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, ao final da apresentação da ópera Il Ballo delle Ingrate, de Claudio Monteverdi, montada com exclusividade para o evento juiz-forano e encenada na noite de domingo, 30, no Cine-Theatro Central. A plateia lotada celebrou a oportunidade única de assistir a um espetáculo de um gênero pouco visto nos palcos locais – e, além disso, de uma ópera rara, que já não é montada atualmente, o que levou o professor de Música da UFJF Rodolfo Valverde – que falou ao público sobre a obra de Monteverdi antes da apresentação – a ressaltar o momento como histórico para o Festival, um marco no cenário da música antiga internacional.

A montagem foi uma homenagem do evento aos 450 anos de nascimento de Claudio Monteverdi, mestre na era dos madrigais – composições poéticas musicais –, que foi também um dos primeiros compositores de ópera, gênero que surgiu no final do século XVI, em Florença, na Itália, unindo drama e música. Monteverdi logo se tornaria um gênio dessa nova arte, escrevendo algumas das mais emblemáticas páginas dos primórdios da música dramática.  L’Orfeo, Favola in Musica, representada em 1607, foi sua primeira ópera.

Sob a direção artística de Rosana Orsini, soprano brasileira que também estrelou o espetáculo no papel de Vênus, Il Ballo delle Ingrate (O baile das Ingratas) contou ainda com a mezzo-soprano espanhola Nerea Berraondo e com o baixo-barítono brasileiro Pedro Ometto como solistas. A produção envolveu profissionais de renome como a cenógrafa Giorgia Massetani e a figurinista Michele Santos, Henrique Passini como diretor de cena, o espanhol Roberto Santamarina como diretor musical e o cravista Marco Brescia como maestro preparador e contínuo.

Professor da oficina de dança barroca do Festival, o bailarino Osny Fonseca assinou a coreografia do bailado das ingratas, apresentado na segunda parte do espetáculo, e também dançou no palco. Para o coro final, a produção selecionou intérpretes locais, que ensaiaram com os profissionais na semana que antecedeu a apresentação no Central e brilharam na segunda parte do espetáculo.

Il Ballo delle Ingrate foi encenada pela primeira vez em 4 de junho de 1608, por ocasião das bodas de Francesco Gonzaga – filho de Vincenzo I Gonzaga, Duque de Mântua e mecenas de Claudio Monteverdi – e Margherita di Savoia. Como explicou Rodolfo Valverde à plateia no Central, trata-se, na verdade, de uma obra em gênero representativo, mas não uma ópera propriamente, no sentido atual. Nela, o compositor desenvolve um novo estilo, o recitativo, associado a um bailado na segunda parte, justificando o título da obra. Rosana Orsini a define como um madrigal representativo, que conjuga harmoniosamente cenografia, figurinos, dança, texto e música. A montagem juiz-forana explorou bem os espaços do Cine-Theatro Central, com Nerea Berraondo surgindo à frente da plateia na pele de Cupido, ou Pedro Ometto – como Plutão, o rei do Inferno – e as ingratas, damas que desprezaram o Amor, saindo do “submundo” através do alçapão existente no palco, sob efeitos especiais de nuvens de fumaça. 

O público que lotou a plateia – às 19h já havia uma multidão à frente do Central –, formado tanto por entusiastas do Festival, interessados e jovens estudantes de música participantes das oficinas do evento, retribuiu com emoção e calorosos aplausos a iniciativa e o esforço da produção para realizar a montagem em tão curto espaço de tempo, com apenas uma semana de ensaio.

A recepção a Il Ballo delle Ingrate fechou com sucesso uma edição de pleno êxito, com público interessado e motivado em todos os concertos. As apresentações realizadas tanto no Central como nas igrejas do Rosário e São Sebastião registraram boas plateias, como observou o supervisor do Centro Cultural Pró-Música e diretor executivo do Festival, Marcus Medeiros. Nos agradecimentos finais a todos que contribuíram para a realização da edição – do reitor da UFJF, Marcus David, à Fadepe, funcionários do Pró-Música e da Pró-reitoria de Cultura, músicos e professores das oficinas – o diretor reservou menção especial ao público que prestigiou o evento ao longo de seus 10 dias.

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(Atualizado em 31 de julho de 2017, às 18h15)