Nathália abordou os variados malefícios que os atletas punidos por doping podem encontrar, passando da perda de patrocínios a desconfiança de companheiros de profissão (Foto: Divulgação)

Nathália abordou os variados malefícios que os atletas punidos por doping podem encontrar, passando da perda de patrocínios a desconfiança de companheiros de profissão (Foto: Divulgação)

Assunto cada vez mais comum, o doping não foi tabu durante o II Congresso de Ortopedia e Medicina Esportiva, que teve seu primeiro dia de eventos na noite da última quinta-feira, dia 25, no Anfiteatro da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A médica da Seleção Brasileira de Atletismo e do Esporte Clube Vitória, Nathália Figueiredo, abordou o tema, que vem levando em média cerca de seis jogadores de futebol a serem punidos anualmente no Brasil, tratando da responsabilidade de atletas e profissionais da saúde.

Maradona, Mike Tyson, e mais recentemente Anderson Silva e César Cielo são alguns dos grandes nomes de variados esportes que já sofreram punições por doping e ajudam a explicar as razões que levaram o Anfiteatro da Faculdade de Engenharia a ficar lotado para ouvir a especialista. Segundo a médica esportiva, o Brasil é o segundo país que mais realiza testes para detectar irregularidades entre jogadores de futebol, com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tendo realizado 55.707 averiguações desde 1987, que puniram 112 atletas. A substância mais comum é a cocaína, já dentre as que necessitam prescrição médica, o que ganhou especial atenção do público presente, o corticoide lidera a lista.

“O Brasil é o segundo país que mais realiza testes para detectar irregularidades entre jogadores de futebol, com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tendo realizado 55.707 averiguações desde 1987, que puniram 112 atletas. A substância mais comum é a cocaína”

As diferentes punições por doping podem deixar os apaixonados por esportes confusos, e foram explicadas por Nathália durante a palestra. Citando casos recentes, a médica exemplificou a punição ao jogador Deco, que recebeu apenas 30 dias de punição por conta de sua transgressão ter sido avaliada como menos grave. Em contrapartida, a nadadora Rebeca Gusmão foi banida do esporte por conta do uso de testosterona, o que a atleta nega que tenha ocorrido.

A médica explicou a importância do tema: “O doping está muito mais para proteger o atleta do que para deteriorar sua imagem, já que você acaba protegendo seus companheiros de equipe. Então é importantíssimo informamos os atletas sobre o doping, pois é um assunto que está crescendo. Se está estudando mais isso e fazendo mais análises.” Para reforçar os esforços do Brasil no combate ao doping, Nathália apresentou os caros e importados recipientes nos quais são realizadas as análises de fluidos dos atletas, no caso do futebol, restritas a dois jogadores por jogo no famoso sorteio.

Na exposição, Nathália abordou os variados malefícios que os atletas punidos por doping podem encontrar, passando da perda de patrocínios a desconfiança de companheiros de profissão. A palestrante explicou que muitas das substâncias proibidas são comuns no dia a dia, como aspirinas, suplementos e medicamentos contra a calvície. Surge daí a grande importância de os profissionais estarem sempre em contato com especialistas da saúde, que têm a capacidade de avaliar quais substâncias são ou não permitidas, o que pode variar de acordo com o período competitivo e a modalidade.

Segundo o diretor da Liga Acadêmica de Ortopedia e Traumatologia (Laort), Vinicius Lopes, o interesse no evento foi maior do que a organização esperava: “O público superou as expectativas. O doping é um tema que atrai bastante, tanto aos atletas que têm interesse em saber o que é considerado e o que não é caracterizado. Acho que esta palestra foi de grande valia para termos um conhecimento geral sobre a área.”

O  II Congresso de Ortopedia e Medicina Esportiva continua nesta sexta-feira, 26, na Faculdade de Engenharia. O evento é uma realização da Laort em conjunto com a Associação Atlética Acadêmica da Faculdade de Medicina da UFJF. As inscrições podem ser feitas das 11h às 13h, na sala da Atlética da Medicina, pelos valores de R$ 30 e  R$ 50 para acadêmicos e para profissionais, respectivamente, ou pelo site  (R$ 35 e R$ 55). A programação segue nesta sexta-feira. Confira a programação completa aqui.

“A Tríade da Mulher Atleta é uma síndrome pouco estudada, mas é de extrema importância, já que pode trazer graves consequências para a mulher atleta, como a infertilidade e as fraturas, e pode inclusive tirar uma atleta do alto do rendimento”

Problema pouco conhecido

A palestra sobre doping ajudou a atrair atenções para outro tema abordado por Nathália, este bem menos conhecido. A Tríade da Mulher Atleta é um tema que vem ganhando espaço na medicina esportiva, apesar de ainda ter sua discussão bem restrita. O problema pode causar dificuldades à atletas de alto desempenho, e tende a afetar cada vez mais mulheres que praticam esporte de alto rendimento, segmento que é submetido a um aumento exponencial nos últimos tempos, com a participação feminina chegando a quase metade na Olimpíada de 2016, porcentagem que ficou em 2,2% nos jogos de 1900.

A tríade é desencadeada pelo estresse competitivo, em especial em modalidades que levem em conta o peso e a estética das atletas, como a ginástica e a natação. Com a pressão pelo desempenho e a apresentação do corpo, as mulheres começam a sofrer em um ciclo que afeta as funções corpóreas, que envolvem anorexia, disfunção menstrual e perda da resistência óssea, podendo até mesmo levar à fraturas, comprometendo a carreira das atletas. Os sintomas muitas das vezes são pouco levados em conta, o que ajuda a explicar a pequena repercussão da tríade, apesar de suas consequências.

“É cada vez mais frequente vermos atletas de 35, 40 anos continuarem jogando, justamente pela ação da medicina. Há cada vez uma conscientização nos jogadores de que eles precisam se cuidar”

Nathália ressaltou a gravidade da tríade: “É uma síndrome pouco estudada, mas é de extrema importância, já que pode trazer graves consequências para a mulher atleta, como a infertilidade e as fraturas, e pode inclusive tirar uma atleta do alto do rendimento.” E alertou sobre a importância de se discutir o tema no meio da saúde: “São sintomas que muitas das vezes passam despercebidos pelos médicos, então se não nos atentarmos, podemos perder atletas mais cedo do que imaginamos.”

Crescimento do ramo

Ao fim da palestra, muitos estudantes foram conversar com Nathália e receberam incentivos para ingressarem na área da medicina esportiva, segmento que segundo a médica vem em expansão no país. Grande parte disso se deve a uma profissionalização cada vez maior do esporte, que faz com que atletas mais desleixados, como no caso do futebol, os chamados “boleiros”, percam cada vez mais espaço dentro de campo, enquanto casos como o do lateral-esquerdo do Palmeiras Zé Roberto, que joga em alto nível até os 42 anos, sejam cada vez mais comuns.

A médica ressaltou a tendência: “Está aumentando o número de atletas que precisam jogar mais tempo e são mais maduros no sentido de se preservar mais. É cada vez mais frequente vermos atletas de 35, 40 anos continuarem jogando, justamente pela ação da medicina. Há cada vez uma conscientização nos jogadores de que eles precisam se cuidar”.