mestrado ciências sociais

Dissertação apontou que a presença dos objetos religiosos não só revela busca pela proteção do local, como reflete a religiosidade dos comerciantes (foto: Paul Williams www.IronAmmonitePhotography.com via Visualhunt / CC BY-NC Details Image typ)

“Por que muitos comerciantes têm o hábito de expor objetos religiosos no interior de suas lojas?”. Uma pesquisa realizada pelo mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Gustavo Gobbi Novaes, tenta responder a essa pergunta. O estudo deu origem à dissertação “A presença do sagrado no comércio: uma etnografia das práticas religiosas entre os(as) comerciantes de Juiz de Fora”.

A resposta é mais profunda do que se imagina. Conforme indicou a pesquisa antropológica, a presença dos objetos religiosos não só revela busca pela proteção do local, como reflete a religiosidade dos comerciantes. “O estudo revelou a existência de relações religiosas profundas dos comerciantes com seus santos, orixás e entidades diversas. Tais relações, muitas vezes, foram marcadas por trajetórias religiosas prolongadas, com aprendizados familiares distantes. Desse modo, o sentido de proteção, amparo nos momentos difíceis, bem como de intercessão das divindades em suas vidas é muito mais complexo, espraiando-se para todos os âmbitos de suas vidas, inclusive no interior de seus ambientes comerciais”, explica Novaes.

Para realizar o estudo, Novaes foi a campo, visitou lojas em três ruas do Centro de Juiz de Fora e o Mercado Municipal. Nos locais identificou grande pluralidade de objetos religiosos. “Comecei a encontrar uma enorme variedade de objetos religiosos e, também, oriundos de saberes populares nativos e estrangeiros, como: uma enorme variedade de santos do mundo religioso católico; imagens tridimensionais de orixás e muitas outras entidades que povoam o mundo das religiões de matriz afro-brasileira; pinturas com dizeres religiosos em paredes, vigas, ou junto aos nomes das lojas; adesivos de caráter religioso colados em vitrines ou balcões. Encontrei a presença de bíblias sobre balcões; cristais, fadas, bruxas, dentre outros, bem como objetos relacionados a saberes populares orientais, como gatinhos da sorte japoneses, colocados pelos comerciantes no interior de seus recintos comerciais para garantirem sorte nas vendas e, também, para atrair mais clientes.”

O pesquisador acredita que o trabalho final superou suas expectativas. “O estudo deu conta de revelar a pluralidade existente no campo religioso local, a partir daqueles objetos que foram encontrados no interior dos estabelecimentos comerciais. Eu consegui encontrar comerciantes oriundos de muitas pertenças religiosas no recorte delimitado.”

O professor orientador da pesquisa, Carlos Francisco Perez Reyna, considera que o trabalho levanta questões importantes sobre as práticas religiosas entre os comerciantes nos seus ambientes de trabalho, como a presença das relações do homem com o sagrado em meio ao mundo comercial, dominado por vitrines, produtos, dinheiro e racionalidade administrativa. “O comerciante revela-se como o promotor dessa realidade colorida de sentidos religiosos. Por meio das experiências vividas e das subjetividades religiosas externadas dos comerciantes, nas suas relações com os santos, orixás, eguns, entidades e divindades diversas, Gustavo Gobbi chegou ao resultado de que eles não fixam objetos religiosos e de saberes populares, em seus recintos comerciais, apenas para proteção do ambiente, mas porque tais objetos marcam uma relação atravessada por muitas bênçãos, auxílios e graças recebidas.”

Para Reyna, o estudo enriquece os estudos em Ciências Sociais. “Para a academia, pesquisas como essa são fundamentais, pois trazem novos questionamentos e reinterpretações aos estudos relacionados à antropologia da religião. Na Zona da Mata, não existe um trabalho similar que permita entender como os símbolos do sagrado e profano coexistem para além de seu sincretismo.”

Outras informações: (32) 2102-3113 – Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais