A coordenadora do curso, Isabela Monken Velloso, iniciou o ciclo de palestras que termina neste domingo, 26. (Foto: Clecius Campos/UFJF)

A coordenadora do curso, Isabela Monken Velloso, iniciou o ciclo de palestras que termina neste domingo, 26. (Foto: Clecius Campos/UFJF)

Começou na manhã deste sábado, 25, o curso de extensão “Vestindo os aromas: cultura do perfume de moda e outros acordes” promovido pelo Grupo de Pesquisa Interfaces da Moda: saberes e discursos, do Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O primeiro dia de evento foi dedicado a assuntos como o mundo dos perfumes, o olfato como sentido primitivo, publicidade, memória, religião, semiótica e história da perfumaria. O curso vai até este domingo, 26, na Casa de Cultura.

Na palestra de abertura “Prazer, moda, perfumes e linguagem: narrativas de pesquisa”, a coordenadora do curso, Isabela Monken Velloso, destacou como o trabalho do grupo de pesquisa foi iniciado, a partir da falta de estudos acadêmicos sobre a importância do perfume na moda. “A moda tem sido estudada por sua via eminentemente visual, porém nossa vivência não é só visual, mas holística, multissensorial. A moda alcança a visualidade, mas a transcende. Portanto, percebemos a necessidade de estabelecer estudos de forma a tentar preencher esta lacuna que o cheiro representa, no âmbito na moda, da arte, do design e da cultura.”

Isabela exemplificou como as grandes grifes de moda dependem da área da perfumaria e como os grandes criadores foram visionários em identificar a ligação do cheiro com a visualidade de suas grifes. “O costureiro Paul Pioret, no início do século, foi o primeiro a relacionar, diretamente, a criação de moda com o perfume, e foi um visionário na elaboração de uma fragrância que remetia à sua criação de moda. Da mesma forma, Coco Chanel também mostrou ter essa visão holística da moda, criando o Nº 5. Christian Dior entendeu que se a roupa revela a mulher, o cheiro a antecipa, a prenuncia. A partir do cheiro, ele trouxe sua visualidade, ao apresentar o new look numa passarela toda pulverizada pelo principal cheiro da maison.” Isabela finalizou sua palestra, dizendo que o olfato é o sentido mais misterioso para a ciência, desencadeando reações no âmbito emocional e impactando a moda.

Questões biológicas e socioculturais

Um dos destaque do primeiro dia de evento foi a palestra da professora da Faculdade de Medicina da UFJF, Jomara Oliveira de Santos Yogui, “A presença da memória olfativa nas nossas vidas”. Sua apresentação tratou dos aromas como despertadores de lembranças e de sensações esquecidas. “Em contato com o cheiro, podemos lembrar da infância, do momento que íamos à escola, da merenda escolar, do primeiro amor, de um lugar, de um ente querido e todas essas recordações fazem ligação com o aroma e com o olfato.” A professora cruzou questões biológicas do olfato com respostas socioculturais, apresentando aspectos diversos dessa relação. “Biologicamente, o olfato esteve atrelado à sobrevivência e à evolução da espécia humana. Da parte sociocultural, o aroma está intimamente ligado à história de vida de cada um. Cada pessoa estabelece uma relação própria com o cheiro que está sentindo e isso se dá em função das experiências pregressas.” Segundo Jomara, o olfato é o mais nostálgicos dos sentidos, sendo que as pessoas com problemas olfativos têm mais dificuldade em evocar situação passadas.

O perfume e as religiões

O doutor em Ciência da Religião e técnico-administrativo do IAD, Hermenegildo Ferreira Giovannoni, apresentou a palestra “Uso dos perfumes nas religiões: práticas e significados”, em que tratou da presença do perfume em diversas religiões pelo mundo, nos tempos antigos e nos tempos atuais. Usando a etimologia latina da palavra perfume — que significa através da fumaça — ele citou a relação da fumaça com os rituais religiosos, com o objetivo de se buscar pelo divino e evocar espíritos em rituais. “Assim como as divindades para os religiosos, o perfume é uma presença contundente que provoca efeitos diversos, mesmo sendo invisível. Por aí já se percebe a analogia forte com as concepções das esferas do sagrado e do divino, que são sempre de natureza etérea, porém perceptível. A fumaça e o perfume têm ainda analogia com as ascensão aos céus, como veículos de conexão da terra com o divino.”

Quinta edição

Esta é a quinta edição do curso oferecido pelo grupo de pesquisa, como forma de ampliar as discussões internas e convidar o público a integrar os levantamentos. As pesquisas realizadas resultaram no volume 1 do livro “Vestindo os Aromas: Cultura do Perfume, Cultura de Moda e Outros Acordes”, publicado pela Editora UFJF. Atualmente, além do curso, o grupo está organizando o segundo volume, incluindo pesquisadores de áreas diversas, como o professor da da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFJF, Frederico Braida, num caráter híbrido e experimental.