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Dificuldades no dia a dia da população foram retratadas pelo chargista por quase 30 anos de produção

Em quase três décadas de produção ininterrupta, com o seu talento para o humor e a sátira do cotidiano, José Bello da Silva Júnior – o chargista Bello – narrou e comentou a história política e social de Juiz de Fora e do Brasil. A partir das 20h30 desta quinta-feira, 12 de janeiro, data de abertura da exposição, uma seleção de charges publicadas entre meados dos anos 1980 e 2011, quando morreu vítima de um infarto, aos 55 anos, poderá ser vista no Espaço Reitoria, no campus da UFJF. Realizada pela Pró-reitoria de Cultura, a mostra Saudades do Bello – 25 anos de charge é uma homenagem ao artista, que completaria 60 anos em 2016.

O período em que produziu corresponde a momentos de muitas mudanças e turbulências nas áreas política, econômica e social do país. Bello, que começou a desenhar profissionalmente em 1983, no extinto Diário Mercantil, e três anos depois iniciou uma trajetória de 25 anos no jornal Tribuna de Minas, acompanhou todas essas transformações: da redemocratização do Brasil, com a abertura política, a eleição indireta de Tancredo Neves e a Constituição de 1988, à eleição de Fernando Collor, primeiro presidente diretamente eleito após a ditadura, e os governos que o sucederam.

Com a irreverência própria de um cronista que une humor e crítica ao desvelar as mazelas do país, o desenhista denuncia as disputas e arranjos de poder, a corrupção, as injustiças, os problemas sociais e econômicos, as dificuldades cotidianas do cidadão brasileiro. Saudades do Bello reúne mais de 300 originais das cerca de 15 mil charges que o artista desenhou para o jornal, numa tentativa de apresentar uma síntese de algum modo diversa e fiel aos temas que mais o ocuparam.

Atualidade

Idealizada pela pró-reitora de Cultura Valéria Faria, e sob a curadoria de Mário Tarcitano, que sucedeu a Bello no cargo de chargista da Tribuna, a mostra parte de uma organização cronológica, perpassando as quase três décadas de produção de Bello. Ao oferecer esse panorama da história recente de Juiz de Fora e do Brasil, a exposição permite ao espectador perceber a atualidade de suas charges, que continuam a fazer rir e refletir sobre os rumos de Juiz de Fora e do Brasil.

Como afirma Tarcitano na apresentação de Saudades do Bello, seu traço rico e preciso alia a crítica ferina ao humor popular, e a reunião de uma seleção de seus originais em uma exposição como essa dá “a dimensão exata da importância e qualidade do trabalho gráfico e jornalístico desse grande chargista”. Diante dessa qualidade, o mais difícil para a curadoria de Saudades do Bello foi selecionar, entre sua vasta produção, preservada cuidadosamente pela família e organizada por Nicolle Bello, uma das filhas do artista, as charges a serem apresentadas na exposição. A opção foi pelas charges de maior expressividade, seja pela maestria de sua realização, seja pela representatividade das personalidades ou a atualidade dos fatos retratados.

Trajetória

Nascido em Juiz de Fora em 4 de abril de 1956, Bello manifestou sua habilidade para o desenho ainda na infância, quando já se fazia notar pela irreverência e a criatividade. Com seu talento para desenhar, pretendia estudar arquitetura, mas como na época não havia esse curso na UFJF, optou por engenharia civil. Logo ficou conhecido entre os colegas por esse talento especial, desenhando alunos e professores.

Em 1983, ao participar com caricaturas de uma Semana de Engenharia, chamou a atenção do jornal Diário Mercantil, que o convidou para ser chargista na publicação. Começava então sua carreira na imprensa juiz-forana, atuando ainda em jornais como Correio da Mata, Diário da Manhã e O Povo na Rua, até fixar-se na Tribuna de Minas, no qual permaneceu contratado até o fim.

ello viu uma charge de sua autoria ganhar projeção nacional ainda no início da carreira, na década de 1980: trata-se de Metamorphose econômica, premiada na II Feira de Humor de Juiz de Fora, que criticava a mudança na pasta do Planejamento, com a substituição de Delfim Netto por João Sayad,

Charge Metamorphose econômica, ganhou projeção nacional e criticava a mudança na pasta do Planejamento, com a substituição de Delfim Netto por João Sayad na década de 80.

Amigos, admiradores e colegas de trabalho são unânimes ao considerar que a obra de Bello encontraria lugar e sucesso em qualquer jornal brasileiro, mas o chargista escolheu permanecer em Juiz de Fora, cidade cujos problemas e personagens – autoridades e políticos, principalmente – foram bem focalizados pelo artista ao longo de sua trajetória na imprensa local.

Apesar dessa opção pela “aldeia” – atribuída a seu apego à família e aos inúmeros amigos das turmas da rua Padre Café, do Cascatinha e de tantas outras – Bello viu uma charge de sua autoria ganhar projeção nacional ainda no início da carreira, na década de 1980: trata-se de Metamorphose econômica, premiada na II Feira de Humor de Juiz de Fora, que criticava a mudança na pasta do Planejamento, com a substituição de Delfim Netto por João Sayad, como uma troca que não representava verdadeira alteração na economia do país. A charge, na qual os rostos dos personagens se metamorfoseiam com um giro de 180 graus na imagem, apareceu em telejornais da TV Globo. Ela é um dos destaques de Saudades do Bello, prova da inteligência, da criatividade e da sutileza do artista.

A visitação ocorre de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h, e sábados, das 9h às 12h. Término: 13 de fevereiro, com entrada franca.

 Outras informações:

Pró-reitoria de Cultura – (32) 2102-3964