Único membro brasileiro entre os cientistas da comissão internacional, professor da UFJF afirma que é necessária uma reestruturação na estratégia de combate às drogas e tratamento de usuários (Foto: Twin Alvarenga)

O representante brasileiro na comissão internacional composta pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Telmo Ronzani, participará da assembleia mundial coordenada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque, Estados Unidos, entre os dias 19 e 21 de abril. O evento reúne chefes de estado, embaixadores de organizações intergovernamentais e cientistas de todos os continentes para discutir novas e mais eficientes políticas no combate às drogas.

Indicado no final de 2013 para compor a comissão de pesquisadores, denominada Rede Científica Internacional para a Política de Drogas, Ronzani é o professor de Psicologia e coordenador do Centro de Pesquisa, Intervenção e Avaliação em Álcool e Outras Drogas (Crepeia) da UFJF. Único membro brasileiro entre os cientistas, o professor relatou que a dinâmica de experiências entre os membros, oriundos de vários países, foi diversa e enriquecedora. “Nossa responsabilidade é desenvolver um documento oficial com recomendações relativas à novas medidas sobre drogas”, define. “Um dos pontos fortes do produto final é, justamente, poder contar não somente com o parecer de várias partes do mundo, mas também com pontos de vista científicos de áreas e especialidades diferentes.”

Necessidade urgente de mudança

Segundo o professor Telmo Ronzani, a comissão se reúne há 3 anos e é composta por um total de 25 pesquisadoras que almejam oferecer respaldo científico para o comitê reunido na assembleia da ONU. “A última resolução da Organização a respeito da abordagem no combate às drogas é de 1998”, relembra. “Além do cenário mundial ter passado por muitas mudanças, também ficou claro as problemáticas do atual modelo adotado por nós.”

Para Ronzani, é imprescindível a formulação de “novas direções políticas e ações contínuas”. “É necessária uma virada de importância desde a última estratégia”, afirma. “Forneceremos evidências científicas para isso, para serem analisadas junto ao viés político, sobre nossa atual instância na ‘guerra às drogas’. Já é uma questão não somente de saúde, mas também econômica e até mesmo cultural.”

“Não existe apologia às drogas, mas sim uma nova visão de como combatê-las e revitalizar seus usuários. Não é punindo ou excluindo que vamos mudar a situação, e nosso respaldo científico comprova isso.”

“Não existe apologia às drogas, mas sim uma nova visão de como combatê-las e revitalizar seus usuários”, afirma o professor. (Foto: Twin Alvarenga)

Sobre algumas das mudanças necessárias, o professor adianta: “Ao invés de punir e isolar os usuários, preciso estruturar um maiores e mais completos acolhimentos e intervenções junto a eles, presentando um nível de atenção mais adequado.” Seus estudos apontam que, além do modelo atual não fazer com que diminua o consumo, é observado que os usuários também partem para demais opções de entorpecentes. “Ainda alimentam, por tabela, o tráfico e assassinatos ocorridos majoritariamente em comunidades periféricas”, exemplifica Ronzani.

“Outra noção que precisa ser derrubada é de que defender essa nova reestruturação na abordagem sobre as drogas é o mesmo que defender o uso das mesmas ou, ainda, defender o crime”, pondera o pesquisador. “Não existe apologia às drogas nesse tipo de pensamento, mas sim uma nova visão de como combatê-las e revitalizar seus usuários, devolvendo para eles a saúde e o convívio em sociedade. Não é punindo ou excluindo que vamos mudar a situação, e nosso respaldo científico comprova isso.”

“Se você não está questionando, não está fazendo ciência”

Analisando sua própria contribuição para a elaboração do documento internacional, Ronzani coloca que ela se deu por meio dos resultados de suas pesquisas que, segundo ele, possuem um “viés político e sócio-cultural”, com foco na questão do impacto do estigma do usuário de drogas. “Os pesquisadores da comissão interdisciplinar, concordam, em geral, que precisa acontecer uma mudança”, atesta. “O documento respeita a variedade de visões e convém que a visão criminal não é, de fato, a melhor estratégia.”

A contribuição do professor também reflete em suas atividades na UFJF. “É um reconhecimento muito bom do nosso trabalho”, declara. “Nosso grupo de pesquisa está empre aberto a demais evidências, ainda mais as provenientes de um campo tão rico quanto o fornecido por essa participação na ONU. Estamos sempre atentos, antenados, ponderando sobre novos aspectos. Afinal de contas, se você não está questionando, não está fazendo ciência.”

“Não é punindo ou excluindo que vamos mudar a situação, e nosso respaldo científico comprova isso.” (Foto: Twin Alvarenga)

“Não é punindo ou excluindo que vamos mudar a situação, e nosso respaldo científico comprova isso.” (Foto: Twin Alvarenga)

Outras informações:

Centro de Pesquisa, Intervenção e Avaliação em Álcool e Outras Drogas

Special Session of the United Nations General Assembly on the World Drug Problem 2016 (Ungass)

Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (United Nations Office on Drugs and Crime)