O trabalho desenvolvido pela psicóloga Francesca Stephan, doutoranda em Projetos Psicossociais em Saúde, pelo Programa de Pós-Graduação de Psicologia da UFJF, está colhendo dados sobre a rotina de trabalho dos docentes no ambiente acadêmico e sua relação com desgastes emocionais e relacionais próprios da função.

A pesquisa, intitulada “Saúde Emocional e Relacional do professor da UFJF”, dá continuidade aos estudos desenvolvidos pelo Núcleo de Estudos em Violência e Ansiedade Social (Nevas), com apoio do Sistema de Atenção à Saúde do Servidor (SiASS). Francesca ressalta que a iniciativa surgiu depois de ser verificado que o trabalho do docente de ensino superior vem sofrendo desvalorização. “Temos desenvolvido estudos na área do trabalho e da saúde e percebemos que essa desvalorização do trabalho dos docentes, principalmente de ensino superior, tem sido uma das causas de seu adoecimento físico e mental”.

Dados de pesquisas anteriores relacionadas ao assunto, segundo a pesquisadora, mostram um aumento significativo do estresse no exercício da profissão e também no número de casos de afastamentos por conta de depressão e ansiedade. Além disso, a psicóloga também destaca que a literatura sobre o assunto fala sobre o distanciamento entre os docentes, o que faz com que trabalhem de forma isolada.

Somado a isto tudo vem a pressão das instituições para a produtividade, o que tem gerado desgastes nas relações interpessoais de trabalho e na saúde física e mental dos professores, diz Francesca Stephan

De acordo com Francesca, nas últimas décadas, a literatura na Psicologia tem percebido que o aumento do estresse entre os professores de graduação se deve, entre outros motivos, ao aumento da carga horária no trabalho, que, além dos compromissos na sala de aula e com a orientação de graduandos, se estende para questões burocráticas. “Somado a isto tudo vem a pressão das instituições para a produtividade, o que tem gerado desgastes nas relações interpessoais de trabalho e na saúde física e mental dos professores”, acrescenta.

Coleta de dados

Envolvendo uma equipe interdisciplinar de pesquisadores, o trabalho está em fase inicial de coletas de dados. Uma amostra de professores da instituição foi selecionada por meio de um sorteio estatístico, realizado pelo professor do Departamento de Estatística do Instituto de Ciências Exatas e do Programa de Pós-Graduação em Economia, Marcel Toledo Vieira. Com cerca de 350 participantes, a pesquisa conta com a contribuição de docentes de todos os departamentos e institutos da UFJF (excluindo apenas o Departamento de Psicologia).

Projeto prevê um grupo de reflexão para os professores, não só da UFJF

Resultados mais conclusivos da pesquisa dependem da participação dos professores selecionados, que devem contatar a doutoranda através do e-mail enviado. Os questionários são respondidos presencialmente, com duração de cerca de 20 minutos, e serão aplicados conforme agenda do professor. O material coletado será mantido em sigilo, com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (CEP).

A doutoranda afirma que uma análise preliminar com o que já foi colhido aponta para um grande número de professores estressados. “Uma menor parcela dos professores apresenta maior comprometimento, com indicativos de depressão, ansiedade e estresse associados ao trabalho na UFJF. No entanto, dependemos do término da coleta para uma análise mais ampla dos dados”, afirma.

Além das informações sobre a saúde dos professores da Universidade, o trabalho pretende oferecer, paralelamente à pesquisa, um projeto de intervenção. “O projeto prevê um grupo de reflexão para os professores, não só da UFJF, mas também da rede particular e do ensino fundamental e médio que tiverem interesse, com o objetivo de refletirem sobre o cotidiano da prática docente, angústias e desafios e estratégias de resolução dos problemas enfrentados.”, explica Francesca.