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Integrantes da pesquisa, aluno do Mestrado em Química Thalles Lisboa e professor Rafael Arromba (Foto: Géssica Leine/UFJF)

Os suplementos alimentares vêm sendo procurados cada vez mais por atletas, principalmente por prometerem melhorar o rendimento físico e desenvolver a massa muscular. O problema é que muitas pessoas fazem uso desses produtos sem orientação médica, além de já existirem alertas sobre problemas encontrados na constituição de alguns suplementos. Pensando nisso, o professor Rafael Arromba, juntamente com alunos do Departamento de Química da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), iniciou um projeto de pesquisa que visa avaliar a qualidade desses suplementos voltados para atletas. Os testes vêm mostrando alto teor do mineral cromo nas amostras analisadas.

O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) realizou pesquisa, em 2014, com foco em macronutrientes, constituintes encontrados em maior quantidade, como proteína, carboidrato e lipídeos. Foram analisadas 15 marcas, onde apenas uma apresentou resultado satisfatório, de acordo com a regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Já o projeto desenvolvido na UFJF é voltado para a análise de micronutrientes minerais, como ferro, manganês e cromo. Estão sendo avaliadas três classes diferentes de suplementos: whey protein, hipercalórico e barra de proteína, sendo 15 amostras de whey, quatro de hipercalóricos e sete de barra.

O projeto começa com análises do cromo, nutriente necessário para o auxílio na distribuição de açúcar pelo organismo, além de ajudar no controle do colesterol e aumento da capacidade do corpo em ganhar massa muscular. Ele pode ser encontrado em duas formas principais: cromo III e cromo VI. O cromo III é essencial para o corpo humano, enquanto o VI possui alta toxicidade.

O aluno do mestrado em Química da UFJF Thalles Pedrosa Lisboa também faz parte do projeto e, de acordo com ele, os resultados das análises têm mostrado falhas preocupantes em suas descrições químicas: os valores de cromo encontrados variam de 100% a 200% a mais do que é informado nas tabelas nutricionais dos suplementos testados. A Ingestão Diária Recomendada do cromo varia de 25 a 35 microgramas para pessoas adultas. Uma das amostras de whey protein informava o valor de 10 microgramas por porção, mas o encontrado pelos pesquisadores foi de 62 microgramas, enquanto outra de barra de proteína indicava 3,4 microgramas, mas o valor detectado foi de 22,3 microgramas.

O teor elevado de cromo sugere precaução, porém, a equipe de pesquisa enfatiza a necessidade de um estudo mais detalhado. “O maior ponto negativo seria essa alteração influenciar na concentração de outros nutrientes. As conclusões são parciais, apesar de detectarmos que as concentrações estão altas, precisamos de resultados complementares para fechar o trabalho”, diz Thalles.

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Amostras de suplementos analisadas na pesquisa (Foto: Géssica Leine/UFJF)

Os micronutrientes minerais são responsáveis pelo fortalecimento dos ossos e do sistema imunológico, mas devem ser ingeridos em concentrações específicas, geralmente baixas em relação à quantidade de macronutrientes. O excesso na ingestão de um mineral pode causar deficiência de outros nutrientes, além de reações de toxicidade no organismo. O professor Rafael Arromba ressalta que deve haver preocupação com a dosagem desses micronutrientes, pois muitas pessoas consomem suplementos sem orientação médica, e a indicação de micronutrientes nos rótulos dos produtos é facultativa quando ultrapassa 5% da Ingestão Diária Recomendada.

O projeto ganhou parceria com a empresa Agilent Technologies Brasil, para comprovação dos resultados alcançados. Os pesquisadores pretendem disponibilizá-los para os profissionais de saúde, para que possam ajudá-los na orientação de consumo. “Como químicos, temos que oferecer métodos para que esses produtos possam ser analisados e fornecer informações confiáveis. Nosso trabalho tem um enfoque analítico, mas o objetivo é ser usado por profissionais de outras áreas”, destaca Arromba.

O método utilizado na pesquisa é de absorção atômica em forno de grafite, técnica própria para dosagem de elementos minerais. A principal dificuldade no processo, de acordo com o professor Rafael, é a preparação das amostras, que são sólidas, mas devem se encontrar em estado líquido. Para isso, os pesquisadores dissolvem essas amostras em ácido diluído, de forma que não se perca os elementos constituintes.

O projeto foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), com o financiamento de R$ 15.716,40.