“Com tanta gente passando fome, é importante pensarmos em formas de diminuir e evitar a perda de leite”, aponta Igor Meurer (Foto: Twin Alvarenga)

“Com tanta gente passando fome, é importante pensarmos em formas de diminuir e evitar a perda de leite”, aponta Igor Meurer (Foto: Twin Alvarenga)

Você já deve ter tentado tirar aquele restinho de leite que fica na caixa e não conseguiu. Mas será que já pensou em quantos litros do produto são desperdiçados dessa forma? O farmacêutico e mestre em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Igor Rosa Meurer, desenvolveu, como tema da sua dissertação de mestrado, uma pesquisa para identificar como o design das embalagens de leite UHT influencia no desperdício do produto.

Meurer conta que a ideia da pesquisa surgiu no próprio cotidiano e que a maior motivação foi pensar na quantidade de leite desperdiçada dessa forma. “O leite tem um alto valor nutricional e, com tanta gente passando fome, é importante pensarmos em formas de diminuir e evitar a sua perda.” Embora a quantidade pareça insignificante diante do conteúdo total da embalagem, o desperdício é preocupante quando consideramos o número geral do consumo – em 2012 foram vendidos 6,125 bilhões de litros de leite UHT no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV).

Além do desperdício, outros dois fatores justificam a pesquisa: o direito do consumidor e a questão ambiental. Meurer explica: “o consumidor tem o direito de consumir todo o leite comprado e o design da embalagem não pode impedir isso. Quanto ao problema ambiental, se esse leite desperdiçado entrar em contato com cursos de água ele se torna poluente para esse meio devido a sua alta Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), causando danos ambientais”.

Um artigo científico sobre o trabalho de Meurer já foi encaminhado para uma possível publicação em uma revista internacional, e sua dissertação completa está disponível online no site da Universidade.

Maior e menor desperdício

A embalagem Grupo 6 apresentou o maior desperdício entre todas os grupos, enquanto a do Grupo 7 teve o menor desperdício (Foto: Igor Meurer)

A embalagem Grupo 6 apresentou o maior desperdício entre todas os grupos, enquanto a do Grupo 7 teve o menor desperdício (Foto: Igor Meurer)

Entre os dez grupos de embalagens analisadas (mostradas acima), as características do Grupo 7 são as que configuraram menor desperdício; o maior foi apresentado pela embalagem do Grupo 6.

Baseando-se no desperdício médio apresentado pela embalagem deste Grupo 6, após a agitação final, se a cada um bilhão de litros de leite fossem comercializados nesse tipo de embalagem, 7,7 milhões de litros seriam desperdiçados.

O trabalho demonstra que as embalagens cuja abertura é feita cortando sua aba lateral (Grupos 3 e 7) e as embalagens que apresentam formato de garrafa (Grupos 8, 9 e 10) são as que apresentaram menor valor de desperdício, enquanto que as caixas que apresentam abertura com tampa e formatos diversos (Grupo 1, 2, 4, 5, 6) foram as que mais desperdiçaram leite.

Consumo justo para o consumidor

Pesquisa foi embasada nos hábitos do consumidor (Foto: Twin Alvarenga)

Pesquisa foi embasada nos hábitos do consumidor (Foto: Twin Alvarenga)

Para entender a influência do design da embalagem no desperdício de leite UHT, Meurer fez uma pesquisa nos mercados de Juiz de Fora e identificou a existência de dez tipos diferentes de embalagens, caracterizadas pelo material, tipo de abertura e dimensões. A partir desses dados e de testes preliminares, desenvolveu uma metodologia para quantificar o desperdício de leite nesses diferentes tipos de embalagens, levando em consideração a influência ou não dos consumidores na tentativa de retirar o leite retido no interior da embalagem.

“Nós sabemos que cada consumidor age de um jeito para tentar retirar o leite que fica retido na embalagem e que alguns deles nem tentam retirá-lo, o que torna o desperdício ainda maior”, analisa Meurer. “Nosso objetivo foi conseguir calcular esse desperdício em duas situações. A primeira, sem agitação final, que é o desperdício que a embalagem apresenta sem sofrer agitação para tentar retirar o leite retido em seu interior, ou seja, sem influência do consumidor; já a segunda é o desperdício com agitação final, que é o desperdício que a embalagem apresenta após uma agitação padronizada que visa representar o que os consumidores fazem, em geral, para tentar retirar esse leite retido ao final do seu consumo”. O trabalho foi realizado no Laboratório de Análise de Alimentos e Águas da UFJF e orientado pela professora Miriam Aparecida de Oliveira Pinto, especializada em avaliação e controle de qualidade de alimentos.

“Não encontramos dados disponíveis na literatura relativos à quantidade deste desperdício, e o limite máximo permitido sobre ele não é determinado na legislação sobre embalagens”, alega Meurer. “Assim, com o intuito de que medidas sejam tomadas, nós encaminhamos essa dissertação para a Anvisa a fim de que seus resultados sejam analisados.”

Outras informações: Mestrado em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados