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Segundo dia do HQweek propõe discussões sobre narrativas transmídia e adaptações

dia2

 

Por Monique Campos

 

Um grupo de super heróis brasileiros e suas muitas aventuras se tornaram inspirações para páginas de quadrinhos, jogos de tabuleiro e também jogos eletrônicos. A proposta de construção desse universo transmídia foi o tema da apresentação desenvolvida pelo criador, idealizador e produtor do Projeto Força BR, Chris Pereira, que participou da programaçãodo HQweek na tarde desta terça-feira, 26 de maio.

 

Os personagens foram criados por Chris em meados da década de 1990 e, depois de aprimoradas as ideias dos super heróis e de suas histórias, foi elaborado o jogo de tabuleiro. A existência da HQ já estava nos planos de Chris, que logo depois desenvolveu uma série de revistas em quadrinhos para acompanhar o jogo. A equipe envolvida em toda essa produção é formada por brasileiros com experiência internacional, conforme conta o idealizador do Força BR. Ele ressalta que, com as revistas, os leitores e jogadores adquirem maior familiaridade com os personagens e o universo da narrativa, além de uma experiência diferente e mais divertida, “como se estivessem escrevendo a própria história naquela partida”.

 

Na medida em que o Projeto Força BR crescia, tanto em relevância quanto em número de apoiadores, outras mídias foram incorporadas. Recentemente a equipe começou a desenvolver um jogo de videogame para computador e celular. De acordo com Chris, essa é uma estratégia de aproximação com o público mais jovem, que pode se interessar pela narrativa e pelos heróis a partir do jogo eletrônico e não pelo caminho dos quadrinhos ou do jogo de tabuleiro.

 

Durante a sua apresentação, Pereira mostrou imagens das telas dos jogos eletrônicos, que estão em fase de desenvolvimento. Também apresentou o tabuleiro, as peças, cartas, miniaturas dos personagens do jogo Força BR e ainda a HQ lançada no final do ano passado. Todo o projeto recebe financiamento coletivo e tem divulgação massiva pela internet.

 

Novas possibilidades nas adaptações de outras mídias para os quadrinhos

 

O professor universitário, ilustrador, quadrinista e escritor, Rafael Senra, trouxe para discussão no HQWeek os processos de adaptações para os quadrinhos e o método de transcodificação midiática. A palestra foi baseada em sua tese de doutorado em Letras, mas, conforme o próprio professor ressaltou, os métodos de adaptação não se prendem apenas à literatura, como foi na sua pesquisa, podendo se valer de outras áreas, como o cinema. Rafael mencionou os padrões convencionais de adaptações para quadrinhos e propôs uma abertura de perspectivas; novas formas podem ser criadas ou mesmo expandidas dentro do universo das HQ.

 

Para se pensar em padrões de adaptações existentes no mercado, Senra apresentou um panorama histórico das adaptações para quadrinhos no Brasil, com início na década de 1930. Em seguida, descreveu os padrões comercial, didático e autoral, que podem aparecer concomitantemente nas obras. As adaptações comerciais têm a finalidade mercadológica; as didáticas geralmente atendem a demandas pedagógicas e as autorais trazem abordagens, traços, escrita, ou seja, a “marca registrada” de determinado(a) autor(a). Rafael considera que ainda hoje há um pensamento de que a adaptação em quadrinhos é a porta de entrada para obras literárias, mas há produções que demonstram características bastante peculiares, adaptações fora do usual, considerando a forma com que remetem ao texto original.

 

O professor e ilustrador apresentou a adaptação em quadrinhos que desenvolveu para sua tese de doutorado, a partir de trechos da obra literária Hilda Furacão, de Roberto Drummond. A adaptação criada por Senra possui vários estilos de desenho, letreiramento – fontes usadas nos balões de fala, títulos, onomatopeias, etc., que podem ser automáticas (digitais) ou manuais (feitas à mão pelo artista) – e diagramação, o que segundo ele é uma “adaptação radical”, que não obedece aos critérios comerciais, didáticos, nem mesmo responde ao seu estilo autoral. “Os elementos que escolhi vêm como uma espécie de resposta aos aspectos que são sugeridos na própria obra original”, afirma. “Pensei em abrir mão do meu estilo de desenho para traduzir nessa adaptação as intenções do autor. Dar vida graficamente aos aspectos que ele deixa sugeridos na obra”, complementa.

 

Conforme o trecho do livro e os aspectos da história, Rafael construiu a adaptação com elementos da Pop Art, do desenho de xilogravura e também traçou paralelos com a chamada Era de Ouro da Literatura Infantil. Ainda utilizou referenciais do cinema mudo, de imagens dos possíveis diários de um jornalista e empregou arte abstrata. 

 

SUPERMAN: a evolução de uma (super) narrativa transmídia?

 

Finalizando as atividades da tarde do HQWeek, o mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF, Matheus Soares, propôs uma análise das expansões narrativas sobre o Superman a partir dos quadrinhos. De acordo com Matheus, o super herói apareceu pela primeira vez em 1938, na revista em quadrinhos Action Comics. Em 2018, em comemoração aos 80 anos da criação do personagem, a divisão de animação da DCComics produziu um filme, em animação, sobre a narrativa da morte do Superman. Essa história apareceu nos quadrinhos do ano de 1992. Soares questiona se é um processo de adaptação feita da HQ para a animação ou pode-se considerar uma narrativa transmídia essa expansão do arco narrativo da morte do Superman.

 

Soares aponta que, independente da resposta, o mais interessante é perceber as aberturas propiciadas pelo ambiente da convergência midiática, em que estamos inseridos, que conferem inúmeras possibilidades narrativas em relação aos quadrinhos. Ao contar sobre a trajetória e a expansão narrativa do Superman – o sucesso numa revista em quadrinhos própria, a veiculação do programa As Aventuras do Superman na rádio, a produção da série televisiva e depois o filme –, o pesquisador considera os vários elementos que foram incorporados ao personagem a partir da expansão narrativa pelas mídias do rádio, televisão e cinema. Porém, um aspecto importante, segundo ele, é a manutenção da identidade do personagem. “Por mais que o Superman pudesse ter diversas versões ao longo dos próprios quadrinhos e outras mídias, ele tem uma série de características próprias e que precisam ser repetidas, quaisquer sejam as versões”.

 

Em relação à narrativa da morte do Superman, o mestrando conclui que se trata de uma adaptação da HQ para a animação. Tanto nos quadrinhos quanto no filme, a história se mantém, não houve uma diferenciação, a partir de determinada mídia, para a implementação de um universo daquela narrativa. Portanto, percebeu-se as características da adaptação. Matheus enfatiza, contudo, que a trajetória dessa análise ultrapassou a verificar se era uma adaptação ou narrativa transmídia, já que possibilitou ampliar sua visão em relação às possibilidades dos quadrinhos, de modo geral, e daqueles próprios do homem de aço. Ele almejou a recriação das HQ com as tecnologias voltadas à imersão, para promover uma experiência próxima ao “super poderes”. “Diversas possibilidades podem ser exploradas.