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Mesa da HQweek! tem debate sobre tecnologias digitais e narrativa transmídia

Por Helena Amaral

 

Na noite desta terça-feira (26/05) foi realizada a segunda mesa redonda da HQweek!, evento online voltado a discussões sobre os impactos de novas tecnologias no universo dos quadrinhos. Mediados pelo pesquisador do Laboratório de Mídia Digital (LMD) Stanley Teixeira, os quadrinistas Germana Viana e Rafael Salimena, e os entusiastas das HQs Lima Neto e Sandro Fernandes abordaram as relações tecidas pela nona arte com as tecnologias digitais e a narrativa transmídia (NT).

 

Natural de Recife (PE), Germana Viana é autora de trabalhos como “Lizzie Bordello” e “As empoderadas”, este último, vencedor do troféu HQMIX 2017 na categoria Webquadrinhos. Questionada por Teixeira sobre sua experiência com a produção de quadrinhos para a internet e sobre como tem sido a aceitação do público, a artista ressaltou que o meio foi crucial ao dar visibilidade a quadrinistas mulheres e outros grupos não contemplados pela mídia especializada. “A gente tinha uma produção grande, tinha muita mulher produzindo nos bastidores. Eu mesma já trabalhava com quadrinhos há anos, antes de fazer minha própria produção. Só que ninguém sabia, porque ninguém chegava na gente”, relatou.

 

No que diz respeito a apropriação de tecnologias digitais pelos quadrinhos, Gemana Viana apresenta uma visão otimista. Indo contra previsões apocalípticas de que um meio e/ou tecnologia levará o anterior ao fim, a quadrinista acredita não somente na coexistência das HQs impressas e daquelas feitas para a internet, como também no surgimento de novas possibilidades narrativas resultantes da combinação de aspectos inerentes às duas formas de produção.

 

Diante de tal cenário, a artista ressaltou que o importante é não se estagnar. “Essa ideia de estagnar raciocínio e tudo o mais é muito problemático. Você mata o seu material e você não está enxergando o que está vindo de novo, que você pode absorver para o seu trabalho”, argumentou.

 

Para o professor de Comunicação Social da Universidade Federal de Brasília (UnB) Lima Neto, um apaixonado pelas HQs, estamos em um momento de efervescência do quadrinho digital, resultado das facilidades (de produção, veiculação, etc) que ele proporciona. No entanto, o docente ressaltou se tratar apenas da “pontinha do iceberg”. “Acho que a liberdade em termos espaciais e de produção que o quadrinho digital oferece, – e a partir do momento que certos processos vão se tornando mais baratos, mais acessíveis-, vai gerar um tipo de metamorfose midiática, que vai alterar o quadrinho de uma maneira que ele vire uma outra forma”, afirmou, explicando não estar referindo-se a um fim, mas ao surgimento de algo realmente novo.

 

Para Lima Neto, a transmídia é uma das grandes responsáveis pela manutenção das diferentes formas narrativas, na medida em que, enquanto estratégia de marketing, busca aproveitar-se ao máximo das potencialidades das diferentes mídias. Segundo ele, isso “provavelmente deve segurar um pouco esse processo [de criação de algo novo], a partir do momento em que ele for se desenvolvendo”.

 

O professor juizforano Sandro Fernandes também concorda com os colegas de debate no que diz respeito à coexistência entre as diferentes mídias. Fã de quadrinhos e criador do canal de vídeo Neurose HQ, Fernandes recorre ao exemplo da trilogia cinematográfica “Matrix”, experiência de sucesso na adoção de estratégias de narrativa transmídia (NT), para exemplificar que não se trata de uma competição entre diferentes meios. “Quem assistiu ao filme entendeu a história toda; quem assistiu ao filme e jogou o videogame, descobriu coisas que não estavam na história, entrou no terceiro filme com mais conhecimento, e quem teve acesso à revista em quadrinhos ficou sabendo do passado e de outros agentes, se enriqueceu. E ainda teve o desenho animado!”, ressaltou. Para Fernandes, a utilização de diferentes mídias possibilitou uma complementação da história, resultando em uma experiência única para os fãs de “Matrix”, na medida em que os mesmos conseguiram acessar o universo narrativo.

 

O quadrinista e cartunista Rafael Salimena também não acredita em um desaparecimento dos quadrinhos como se tem hoje a partir da chegada de novas tecnologias digitais. Criador do blog “Linha do Trem”, Salimena manifesta seu desejo de agregar outras possibilidades às HQs, como trilhas sonoras e gifs animados. No entanto, como ressaltado por ele, a conclusão destas ideias e iniciativas esbarra na disponibilidade de recursos técnicos e de outras ordens.

 

Tais dificuldades encontram eco na fala de Lima Neto ao ressaltar que “o transmídia está específico como uma estratégia de marketing para uma grande empresa, que tem o dinheiro para injetar nessa quantidade de mídias”. Lima levanta, então, o questionamento: “Como deixar a produção do transmídia acessível a outras pessoas?”.

 

Como cenários possíveis, os próprios debatedores destacaram o papel de plataformas abertas, que permitem a popularização da produção; bem como a utilização da internet, que possibilita a entrada de novos atores em cena. O resultado é a maior visibilidade dos trabalhos e o acesso do público a uma ampla gama de HQs, cujos temas vão além daqueles comumente abordados no mainstream.