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Roda de Conversa 8M

Você já ouviu falar em roda de conversa? 

O nome é autoexplicativo e se refere a um grupo de pessoas conversando sobre um determinado tema. Mesmo assim, por trás dessa conversa encontra-se uma estratégia metodológica bastante utilizada nos últimos tempos. Ela objetiva um espaço de diálogo que permite uma melhor compreensão das múltiplas realidades dos indivíduos. Assim, por meio dela, é possível ouvir e expor diversas experiências particulares, concedendo aos participantes da roda interações com pessoas cujas vivências podem ser completamente diferentes.

E foi por compreender a importância das rodas de conversa que, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher de 2019, foi organizado o ciclo de debates “Roda de Conversa: Mulheres em luta, nossas vidas valem mais”. Durante o mês de março, foram feitos diversos encontros na cidade de Governador Valadares, que ocorreram em praças públicas e em escolas públicas estaduais.. A participação do projeto de extensão CRDH (Centro de Referência em Direitos Humanos da UFJF-GV) deu-se a convite do coletivo Mais Mulheres no Poder, um grande parceiro do projeto de extensão, permitindo a atuação de discentes e docentes extensionistas em três eventos e uma audiência pública para o encerramento do ciclo. 

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O primeiro deles ocorreu em 19 de março em uma praça no bairro São Raimundo e houve a participação de dois estudantes membros do CRDH, além da docente Nayara Medrado, que coordena o eixo responsável por abordar Violências e Direitos Humanos. Nesse primeiro encontro, houve a participação de cerca de 20 pessoas, incluindo membros de movimentos populares, moradores do bairro e até pessoas que passavam pelo local no momento.

A professora Nayara afirmou ter achado o projeto motivador: “Achei inspiradora a proposta de fazer a roda de conversa em praça pública, em um bairro marcado pela vulnerabilidade social, e de levar o convite diretamente à casa e ao cotidiano das mulheres. Se a subnotificação ocorre em grande medida pela dificuldade de levar as mulheres à rede de proteção, deve a rede de proteção ser levada até as mulheres. A roda foi idealizada exatamente sobre esse pressuposto.”

Já a segunda roda de conversa deu-se no dia 21 do mesmo mês, na Escola Estadual Pedro Cavalcante Ribeiro, localizada no bairro Santa Rita, onde Nara Carvalho, docente da UFJF-GV, e as estudantes Larissa Ramos e Valéria Pereira, participaram das atividades do local. Foi abordada a diversidade de gênero, contando com a interação de professores da escola, alunos e vereadoras que participavam do evento. Além disso, foram apresentadas algumas perguntas elaboradas anteriormente por alunos, que eram a maioria. Segundo Nara, foi uma experiência única, sendo perceptível o envolvimento e a dedicação dos alunos e da escola para o desenvolvimento do evento. 

De acordo com a docente, a princípio, as pessoas não pareciam à vontade em participar do diálogo, mas logo se soltaram, permitindo uma interação imensamente proveitosa, possibilitando que alunos contassem suas experiências e que um diálogo de construção e desconstrução pudesse ser realizado. A professora afirmou que é importante que as pessoas que participam da roda se sintam compreendidas para que possam se sentir à vontade e abertas a se expor.

A última roda de conversa ocorreu no dia 26 de março, na Escola Estadual Quintino Bocaiúva, no bairro Jardim Pérola, contando com falas da docente Tayara Lemos, que coordena o eixo de Educação em Direitos Humanos do CRDH, abordando a temática “Desafios na construção de uma cultura de igualdade”. No local foi exibido pelas outras expositoras um vídeo explicativo sobre a Lei Maria da Penha, em formato de cordel e recitado por uma criança. Havia cerca de 50 pessoas no local, incluindo, majoritariamente, os alunos da escola, os funcionários e discentes extensionistas do CRDH. 

Para Tayara Lemos, “as rodas de conversa sinalizaram para o fato de que precisamos pautar na comunidade, cada vez mais, as questões relacionadas à violência contra a mulher, a feminismos, a direitos das mulheres. Isso parece importante, porque na roda surgiram dúvidas, que, à primeira vista podem parecer elementares, mas que são parte do cotidiano das pessoas, como direitos das mulheres sobre a guarda de filhos, deveres de mães e pais na educação dos filhos e como essas atribuições devem ser divididas. Há pessoas que ainda creem que o dever do cuidado e da educação é tarefa única ou prioritária da mulher, que é ‘coisa de mulher’ e que o homem não deve se envolver tanto assim com tais atribuições. Questões bastante dramáticas também foram objeto do debate, como o cuidado com a criança ou o adolescente quando há violência doméstica, ou quando há violência sexual por parte de padrasto em relação à criança. Outras questões como direitos de mulheres transsexuais também foram discutidas por provocação dos estudantes e dos professores da escola onde a roda aconteceu. A experiência foi bastante rica e creio que precisa ser repetida oportunamente em outros espaços.”

Por fim, o ciclo de rodas de conversa foi encerrado em uma audiência pública, realizada em frente ao Mercado Municipal, contando com a presença novamente da professora Nayara Medrado e de duas discentes da UFJF-GV, Letícia Pereira, diretora de Negritude do Diretório Central Acadêmico da UFJF-GV, e Abab Nino, represente do projeto Nagô, que é parceiro do CRDH, as quais foram convidadas a integrarem a mesa. Houve também a presença de outras três alunas extensionistas do programa: Hully Pereira, Larissa Ramos e Lorena Valadares.

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Obviamente não poderia faltar o ponto de vista de uma estudante extensionista do projeto sobre o evento. Segundo Abab, que abordou o tema do feminismo negro, “esse tipo de ação é super válida, sempre aprendemos coisas novas e diferentes através dessas interações e nos aprimoramos de diversas formas. O que me despertou mais curiosidade nessa roda em específico foi ver a interação das pessoas, já que não havia muita gente indo especialmente para o evento, mas os transeuntes e funcionários dos estabelecimentos ao redor de alguma forma foram atingidos por aquilo e até mesmo participaram, alcançando o objetivo da roda em ser realizado em um ponto mais central, estratégico e tão distante do ambiente que tradicionalmente ocorre”.

A partir de todos esses depoimentos e descrições das rodas fica evidente sua eficácia e mais ainda, a necessidade em se realizar ações com metodologia semelhante a essa, diminuindo ainda mais as fronteiras entre a universidade e a comunidade. Desse modo, a roda de conversa carrega consigo algo que o CRDH valoriza em relação ao dever da extensão: a ideia de um diálogo, por meio de tais metodologias, não é necessariamente levar às pessoas o que a universidade ensina, como apontado pelo educador Paulo Freire. O que na verdade se busca é o compartilhamento de informações, a troca de saberes, visto que o conhecimento não se limita à graduação, ele é principalmente alcançado através da vivência.

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