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Informativo 611 – Frio; florestas e origem da água na Terra

1 – Se o mundo está se aquecendo, por que tanto frio?

2 – Nova ferramenta permite monitorar em tempo real o desmatamento de florestas

3 – Pesquisadores brasileiros desenvolvem modelo sobre a origem da água na Terra

 

1 – Se o mundo está se aquecendo, por que tanto frio?

 

Invernos ficaram mais amenos ao longo dos anos, informa Justin Gillis em ensaio

No exato momento em que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarava no mês passado que “a mudança climática é um fato”, milhares de motoristas em Atlanta estavam presos em uma exaustiva provação invernal, tentando chegar em casa por estradas que haviam se transformado em pistas de gelo.

 

Enquanto o presidente proferia o seu discurso do Estado da União, nevava intermitentemente diante do Capitólio. As temperaturas naquela noite alcançaram uma mínima em torno de -11°C em Washington, -10°Cem Nova York, -17°C em Chicago, e -21°C em Minneapolis – até ameno se comparado às mínimas no começo de janeiro.

 

A declaração de Obama provocou reprovadores meneios de cabeça entre congressistas que negam a mudança climática, além de desencadear uma enxurrada de ironias no Twitter. “Assim que ele mencionou ‘mudança climática’, começou a nevar no Capitólio”, dizia um dos tuítes.

 

As piadas eram previsíveis, mas não é preciso endossar uma ideologia anticientífica para se perguntar o que uma porção de gente vem se perguntando: se o mundo está realmente se aquecendo, como se explica que faça tanto frio? É que tendemos a pensar que o que está acontecendo conosco deve estar acontecendo em toda parte.

 

Cientistas se referem ao aquecimento global porque se trata, bem, do globo. E também tem a ver com o longo prazo. Os Estados Unidos por inteiro representam menos de 2% da superfície da Terra. Portanto, se todo o país congelasse, isso não afetaria muito as temperaturas do planeta.

 

Mesmo o severo inverno deste ano só afetou uma parte dos Estados Unidos. O tempo no Alasca esteve francamente agradável na maior parte do inverno. Ao mesmo tempo, grandes extensões da Rússia, do Canadá e da Europa estão estranhamente quentes.

 

Um grupo de cientistas acredita que tanto as temperaturas de 10°C em Londres quanto o inverno rigoroso em Minneapolis podem ser consequência da mudança climática. Eles argumentam que a diminuição do mar congelado no Ártico desestabilizou um padrão climático que mantém o ar frio estacionado perto do polo. Esse padrão é conhecido como vórtice polar, e seu limite é um “rio” de ar chamado corrente de jato. Quando o vórtice se enfraquece, a corrente de jato pode criar zonas de frio e calor extremos.

 

Até agora, o fato mais interessante sobre as massas árticas deste inverno boreal pode ser o quanto elas foram curtas em relação ao passado.

 

Os meteorologistas Brandt Maxwell, do Serviço Meteorológico Nacional, em San Diego, e Robert Henson, do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica, em Boulder (Colorado), têm feito algumas comparações. No inverno de 1976-77, a temperatura em Chicago ficou abaixo de zero por 43 dias seguidos. Um período prolongado no inverno atual foi de 11 dias.

 

Os invernos se tornaram tão amenos nos últimos 20 a 30 anos que uma massa de ar ártico hoje parece algo extraordinário.

 

Mas é preciso considerar que a angústia causada pelo inverno rigoroso pode influenciar o modo como as pessoas enxergam o cenário mais amplo. Cientistas que estudam a percepção humana observaram que nossa experiência imediata e visceral do mundo pode influenciar nossos julgamentos em questões correlatas. A pesquisa mostra, por exemplo, que, num dia considerado mais quente do que o normal, as pessoas ficam mais propensas a dizerem que o aquecimento global é uma realidade, e vice-versa.

 

Felizmente, nós temos sofisticados termômetros espalhados por toda parte. E eles estão nos contando uma história bem consistente. Não importa o frio que tenha feito em Atlanta, o mundo de fato está se aquecendo. (Folha de S.Paulo) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/153748-se-o-mundo-esta-se-aquecendo-por-que-tanto-frio.shtml

 

2 – Nova ferramenta permite monitorar em tempo real o desmatamento de florestas

 

Atualmente, imagens em alta resolução são atualizadas apenas anualmente

Um novo sistema de monitoramento global de florestas foi lançado e promete oferecer informações em tempo real a respeito do desmatamento em todo mundo. O “Global Forest Watch (GFW)” foi desenvolvido pelo Google com a parceria de outros 40 grupos empresariais. A tecnologia utiliza centenas de milhões de imagens de satélite, bem como dados fornecidos por pessoas que estão nos terrenos.

 

Atualmente, as imagens em alta resolução da perda e do ganho de árvores em termos globais são atualizadas apenas anualmente; já os dados sobre as florestas tropicais com uma resolução de até 500 metros são atualizados mensalmente.

 

Gratuito, o sistema online de monitoramento apresenta imagens em alta resolução que possibilitam identificar o ganho e a perda de cobertura florestal anual do planeta. Além disso, reúne informações de satélites em uma plataforma colaborativa (crowdsourcing) e emite alertas para uma rede de parceiros e cidadãos quando a perda é detectada, facilitando a mobilização.

 

Grande parte dos empresários que participaram do lançamento do programa, na última sexta-feira, saudaram o novo banco de dados e o enxergaram como uma ferramenta que poderia ajudá-los a provar que seus produtos são sustentáveis.

 

Impacto

Apesar de uma maior conscientização em todo o mundo sobre os impactos do desmatamento, a escala da perda florestal desde 2000 tem sido significativa, aponta a BBC News. Segundo dados do Google e da Universidade de Maryland, o planeta perdeu 230 milhões de hectares de árvores entre 2000 e 2012, o que equivale a 50 campos de futebol sendo destruídos a cada minuto, nos últimos 12 anos. Durante o mesmo período de tempo, cerca de 800 mil quilômetros quadrados de novas florestas foram replantados.

 

Um dos grandes problemas em lidar com a perda de árvores tem sido a falta de informações precisas. Para enfrentar essa escassez, o GFW foi desenvolvido com a capacidade de utilizar mais de 500 milhões de imagens de alta resolução oferecidas pelo programa espacial Landsat, da Nasa.

 

O sistema utiliza mecanismos dos programas “Google Earth Engine” e “Google Maps Engine” misturado a novos algoritmos desenvolvidos pela Universidade de Maryland.

 

– Global Forest Watch é uma plataforma de monitoramento em tempo quase real, que vai mudar fundamentalmente a maneira como as pessoas e as empresas vão gerir as florestas – disse à BBC News Andrew Steer diretor do World Resources Institute (WRI).

 

A tecnologia também permitirá a ativistas e comunidades locais fazer o upload de informações, fotos e vídeos de áreas florestais vulneráveis ??em todo o mundo. O programa, que é de fácil utilização, irá incorporar informações mostrando concessões de áreas protegidas. A ferramenta será destinada a políticos, mas também a grupos indígenas.

 

Quando as perdas de árvores forem detectadas, os alertas poderão ser enviados para a rede de parceiros do programa e cidadãos de todo o mundo, que poderão agir.

 

Já os fornecedores de matérias-primas, como óleo de palma, soja e produtos de madeira, poderão usar o banco de dados on-line para mostrar que seus produtos são provenientes de fontes legais. A tecnologia foi financiada por doações do Reino Unido, Noruega e os governos dos Estados Unidos. (O Globo) http://oglobo.globo.com/ciencia/nova-ferramenta-permite-monitorar-em-tempo-real-desmatamento-de-florestas-11696915#ixzz2uL2qTfJd

 

3 – Pesquisadores brasileiros desenvolvem modelo sobre a origem da água na Terra

 

Realizado no âmbito do projeto de pesquisa “Dinâmica orbital de pequenos objetos”, o modelo foi descrito em um artigo publicado no The Astrophysical Journal

Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Guaratinguetá, em colaboração com colegas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e do Instituto de Astrobiologia da agência espacial norte-americana (Nasa), desenvolveram um modelo mais preciso para determinar a origem da água e da vida na Terra.

 

Realizado no âmbito do projeto de pesquisa “Dinâmica orbital de pequenos objetos”, apoiado pela FAPESP, o modelo foi descrito em um artigo publicado no The AstrophysicalJournal, da Sociedade Americana de Astronomia, e apresentado nesta segunda-feira (24) no UK-Brazil-Chile Frontiersof Science.

 

Organizado pela Royal Society, do Reino Unido, em conjunto com a FAPESP e as Academias Brasileira e Chilena de Ciências, o evento ocorre até quarta-feira (26) em uma propriedade da Royal Society em Chicheley, vilarejo do condado de Buckinghamshire, no sul da Inglaterra. E tem como objetivo fomentar a colaboração científica e interdisciplinar entre jovens pesquisadores brasileiros, chilenos e do Reino Unido em áreas de fronteira do conhecimento.

 

“Desenvolvemos um modelo em que analisamos todas as possíveis fontes espaciais de água e estipulamos qual seria a provável contribuição de cada uma delas na quantidade total de água existente hoje na Terra”, disse à Agência FAPESP Othon Cabo Winter, pesquisador do Grupo de Dinâmica Orbital &Planetologia da Unesp de Guaratinguetá e coordenador do estudo.

 

De acordo com Winter, até recentemente se acreditava que os cometas, ao colidir com a Terra durante a formação do Sistema Solar, haviam trazido a maior parte da água existente hoje no planeta.

 

Simulações computacionais da quantidade de água que esses objetos celestes compostos de gelo podem ter fornecido para a Terra – baseadas em medições da quantidade de deutério (o hidrogênio mais pesado) da água deles – revelaram, no entanto, que os cometas não foram as maiores fontes. E que eles não poderiam ter contribuído com uma fração tão significativa de água para o planeta como se estimava, explicou Winter.

 

“Pelas simulações, a contribuição dos cometas no fornecimento de água para a Terra seria de, no máximo, 30%”, disse o pesquisador. “Mais do que isso é pouco provável”, afirmou Winter.

 

No início dos anos 2000, segundo o pesquisador, foram publicados estudos internacionais que sugeriram que, além dos cometas, outros objetos planetesimais (que deram origem aos planetas), como asteroides carbonáceos – o tipo mais abundante de asteroides no Sistema Solar -, também poderiam ter água e fornecê-la para a Terra por meio da interação com planetas e embriões planetários durante a formação do Sistema Solar.

 

A hipótese foi confirmada nos últimos anos por observações de asteroides feitas a partir da Terra e de meteoritos (pedaços de asteroides) que entraram na atmosfera terrestre.

 

Outras possíveis fontes de água da Terra, também propostas nos últimos anos, são grãos de silicato (poeira) da nebulosa solar (nuvem de gás e poeira do cosmos relacionada diretamente com a origem do Sistema Solar), que encapsularam moléculas de água durante o estágio inicial de formação do Sistema Solar.

 

Essa “nova” fonte, no entanto, ainda não tinha sido validada e incluída nos modelos de distribuição de água por meio de corpos celestes primordiais, como os asteroides e os cometas.

 

“Incluímos esses grãos de silicato da nebulosa solar, com os cometas e asteroides, no modelo que desenvolvemos e avaliamos qual a contribuição de cada uma dessas fontes para a quantidade de água que chegou à Terra”, detalhou Winter.

 

Simulações computacionais – Segundo Winter, a água de cada uma dessas possíveis fontes para a Terra possui uma quantidade diferente de deutério – que pode ser utilizado como um indicador de origem da água.

 

O pesquisador e seus colaboradores conseguiram estimar a contribuição de cada um desses objetos celestes com base nesse “certificado de origem” da água encontrada na Terra, por meio de simulações computacionais. Além disso, conseguiram determinar qual o volume de água que cada uma dessas fontes forneceu e em que momento fizeram isso durante a formação do planeta terrestre, uma vez que a contribuição de cada uma delas foi feita em períodos diferentes.

 

“A maior parte veio dos asteroides, que deram uma contribuição de mais de 50%. Uma pequena parcela veio da nebulosa solar, com 20% de participação, e os 30% restantes dos cometas”, detalhou Winter.

 

Os resultados das simulações feitas pelos pesquisadores também indicaram que grandes planetas, com grandes quantidades de água, como a Terra, podem ter sido formados entre 0,5 e 1,5 unidade astronômica – entre 75 milhões e 225 milhões de quilômetros de distância do Sol.

 

“Essa faixa de distância do Sol, que nós chamamos de ‘zona habitável’, permite ter água no estado líquido”, disse Winter. “Fora dessa região é muito frio e a água ficaria congelada. Já mais próximo do Sol é muito quente e a água seria vaporizada”, explicou.

 

As simulações também sugeriram que o modelo desenvolvido parece mais eficiente para determinar a quantidade e o momento da entrega de água para a Terra por esses corpos planetários do que modelos que indicam que a água foi transferida meramente por meio de meras colisões entre corpos celestes em início de formação (protoplanetários), afirmou Winter.

 

“As informações parciais da possível contribuição de cada uma dessas fontes já existiam. Mas, até então, não tinham sido reunidas em um único modelo e não havia sido determinado quando e quanto contribuíram para a formação da massa de água na Terra”, disse.

 

Importância de corpos menores – Winter destacou em sua palestra na Inglaterra a importância da exploração de corpos menores, como asteroides e cometas, pelas missões espaciais. A última missão espacial para a exploração de asteroides, realizada pela agência espacial japonesa (Jaxa, na sigla em inglês) com a sonda Hayabusa para tirar amostras do asteroide Itokawa, resultou em diversos artigos em revistas como a Science e a Nature.

 

O país oriental planeja lançar este ano a sonda espacial Hayabusa-2, para extrair amostras do subsolo do asteroide “1999JU3” em 2018 e trazê-las para a Terra em 2020.

 

Por sua vez a agência espacial europeia (ESA) mantém no espaço a sonda Rosetta, que deve ser o primeiro objeto a pousar em um cometa, o 67P/Churyumov-Gerasimenko. E a Nasa também pretende realizar uma missão para captura de asteroide próximo da Terra.

 

Já o Brasil pretende desenvolver e lançar em 2017 a sonda espacial Áster, para orbitar em 2019 um asteroide triplo, o 2001-SN263, formado por um objeto central, com 2,8 quilômetros de diâmetro, e outros dois menores com 1,1 quilômetro e 400 metros de diâmetro.

 

“Nunca foi realizada uma missão para um sistema de asteroides desse tipo”, disse Winter. “Todas as missões foram feitas para observar um único asteroide”, afirmou.

 

Ao explorar asteroides e cometas, em missões como essas, é possível explicar melhor as condições de formação da Terra e a aparição da vida no planeta, explicou o pesquisador.

 

“Como são corpos celestes primordiais, os cometas e os asteroidespreservam informações sobre como era o Sistema Solar durante seu estágio de formação”, disse Winter.

 

Um dos desafios para disponibilizar esses preciosos materiais geológicos para estudos científicos, contudo, é não apenas coletar, mas realizar uma curadoria cuidadosa das amostras, assegurando a gravação e o arquivamento de diversas informações relacionados a cada uma das espécimes, tais como as circunstâncias nas quais foram coletadas e os resultados de análises, destacou Caroline Smith, curadora da coleção de meteoritos do Museu de História Natural de Londres, na palestra que proferiu após Winter.

 

De acordo com Smith, os meteoritos começaram a ser estudados cientificamente no final do século XVIII por cientistas como o físico alemão Ernest Chladni (1756-1827).

 

O Museu Britânico começou a sua coleção de meteoritos 50 anos após ser fundado, em 1753, contou Smith.

 

Desde então, com as amostras colhidas por missões realizadas por agências espaciais de diversos países, as coleções de instituições, como a do Museu de História Natural de Londres, têm se expandido muito rapidamente.

 

“Em 1961 havia, aproximadamente, 2.100 meteoritos conhecidos, dos quais 40% possuíam o registro do momento e do lugar onde caíram”, disse Smith. “Em contrapartida, hoje, há 48 mil meteoritos conhecidos e apenas 2,4% têm o registro da queda”, contou Smith.

 

O número cada vez maior de amostras de meteoritos coletadas e os estudos científicos realizados a partir deles têm imposto grandes desafios às equipes de curadoria desses objetos dos museus, avaliou a pesquisadora.

 

“Alguns dos nossos atuais dilemas é manter o acesso à coleção e, ao mesmo tempo, preservar os meteoritos para as futuras gerações”, afirmou. (Agência FAPESP).